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Brasil

DataFolha aponta que maioria dos brasileiros é contra políticas que favorecem o armamento da população

Segundo o levantamento, 72% discordam da frase “a sociedade seria mais segura se as pessoas andassem armadas para se proteger da violência”.

Atualmente, o Brasil tem mais de 1 milhão de armas regularizadas, diz pesquisa. (Foto:Reprodução)

A maioria dos brasileiros rejeita as ideias do presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre armas no país. Segundo pesquisa Datafolha, 7 a cada 10 entrevistados, em média, se contrapõem a políticas que favoreçam o armamento da população, ao entendimento de que mais pessoas armadas tornam a sociedade mais segura e também a uma frase do presidente: “O povo armado jamais ser escravizado”.

Segundo o levantamento, 72% discordam da frase “a sociedade seria mais segura se as pessoas andassem armadas para se proteger da violência”. O percentual de discordância é maior entre mulheres (78%), entre pessoas que se autodeclaram pretas (78%) e entre que tem menor faixa de renda, de até dois salários mínimos (75%).

Entre os grupos que concordam com essa relação entre porte de armas de fogo e maior proteção contra a violência estão brasileiros do sexo masculino (32%), da região Norte (33%) e com renda familiar de mais de dez salários mínimos (37%).

A pesquisa ouviu 2.556 pessoas de 181 municípios do país nos dias 25 e 26 de maio. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Também 7 a cada 10 entrevistados (71%) dizem discordar da ideia de que “é preciso facilitar o acesso de pessoas às armas”. Essa proporção é maior entre mulheres (77%) e pessoas que se autodeclaram pretas (78%), mais uma vez, e entre jovens de 16 a 24 anos (75%).

Os grupos que mais concordam com a facilitação do acesso a armas são, novamente, homens (35%), pessoas da região Norte (34%) e aqueles com renda superior a dez salários mínimos (37%).

Já a rejeição à frase proferida pelo atual presidente da República desde 2020 – “o povo armado jamais será escravizado” – é da ordem de 69% dos brasileiros entrevistados na pesquisa. Ela é maior entre mulheres (73%), no Sudeste (73%) e entre pessoas autodeclaradas pretas (73%).

Por outro lado, estão de acordo com a declaração 28% dos brasileiros, percentual que é maior na região Norte (40%), entre pessoas com renda superior a dez salários mínimos (41%) e entre empresários (52%).

Em 2020, o Datafolha fez a mesma pergunta sobre a frase do presidente em levantamento feito por telefone por causa da pandemia: 72% discordavam e 24% concordavam com ela.

Segundo Melina Risso, diretora de pesquisa do Instituto Igarapé, “os resultados apontam que a população brasileira é contra a flexibilização no acesso a armas e não acredita que elas funcionem como instrumento de defesa nem de segurança, o que é consistente com achados anteriores”.

Para o delegado Gustavo Mesquista, presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, ainda que 7 a cada 10 brasileiros sejam contrários ao armamento, “esses 3 a cada 10 que são favoráveis precisam ter seu direito individual respeitado”.

“O armamento civil não pode substituir o dever do Estado de prestar a segurança pública. Mas, diante da incapacidade de governantes em fornecer ao cidadão uma segurança eficaz, se reforça o direito desse cidadão de poder ter uma arma de fogo, caso entenda adequado e diante do preenchimento dos requisitos técnicos, legais e psicológicos”, defende.

Para o sociólogo Claudio Beato, coordenador do Centro de Estudos em Criminalidade e Segurança Pública da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), essa noção é muito presente nos Estados Unidos, com trágicas consequências. “Lá, todo mundo tem direito a comprar armas, e é impressionante o número de mortes por tiroteios em massa, como o que aconteceu recentemente numa escola infantil do Texas”.

Ele se refere ao massacre em Uvalde, em que um jovem armado de 18 anos matou 19 crianças e duas professoras. A tragédia reacendeu o debate sobre controle de armas nos EUA, onde foram reportados mais de 200 ataques do tipo só em 2022, segundo o grupo de pesquisas Gun Violence Archives.

Para o delegado Mesquita, o porte de armas é “uma decisão que envolve um bônus e um ônus”. “O bônus é se proteger diante da situação concreta, caso assim entenda necessário. O ônus é o treinamento constante, a responsabilidade e a maior chance de ser agredido caso resolva atuar numa situação concreta”, afirma. “Defendo que a reprimenda do Estado diante do mau uso de uma arma de fogo seja proporcional ao direito do cidadão”, disse.


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