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Brasil

Cientistas recomendam criar territórios sustentáveis para zerar desmatamento na Amazônia

Os pesquisadores consideram que, ao combinar ciência, tecnologia e o conhecimento dos povos originários, as áreas podem ser preservadas por gerações.

Visando a resolução dos atuais problemas relacionados ao aumento das mudanças climáticas, como as recentes enchentes no estado do Rio Grande do Sul, e a inconstância nas taxas de desmatamento, especialmente na Amazônia, dois cientistas brasileiros publicaram recentemente um artigo onde retomam a proposta de desmatamento zero apresentada inicialmente em texto publicado em 2005, focando no atual contexto alarmante em que o país vive. Desde 2023, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforça o trabalho para alcançar a meta até 2030.

O artigo, elaborado pela doutora em Ecologia e pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi, unidade de pesquisa do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Ima Célia Guimarães Vieira, e o doutor em Zoologia e professor da Universidade de Miami, José Maria Cardoso da Silva, foi publicado em maio na revista Trends in Ecology & Evolution.

De acordo com os pesquisadores, para atingir a meta de desmatamento e degradação zero, o Brasil deve integrar as políticas públicas setoriais de maneira a estabelecerem um novo modelo de desenvolvimento na região amazônica, baseando-se na implantação de territórios sustentáveis.

“Consideramos que o desmatamento e degradação zero só pode ser alcançado se for concebido como o resultado de um novo modelo de desenvolvimento que se concentre no estabelecimento de territórios sustentáveis em toda a região, em vez de ser simplesmente um objetivo ambiental a ser perseguido sem considerar a heterogeneidade social e ecológica da região”, afirmam Ima Vieira e José Maria Cardoso.

Segundo o sistema Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), vinculado ao MCTI, em 2004, a taxa oficial de desmatamento da Amazônia foi de 27,772 km². Em 2022, a devastação foi de 11,594 km², com um índice acumulado de 168,413 km². Os números mostram que houve contribuição para o aumento das emissões de carbono na região e perda intangível de biodiversidade.

Estratégias

Para alcançar a meta, os cientistas propõem seis estratégias a serem adotadas com diferentes escalas de importância nos territórios sustentáveis.

-Expansão e descentralização do sistema regional de ciência, tecnologia e inovação;
-Gestão eficaz das áreas protegidas e Terras Indígenas (TIs);
-Conversão de terras públicas não destinadas em Unidades de Conservação (UC) e TIs;
-Aumentar a proteção da floresta em áreas privadas;
-Recuperação e uso eficiente de áreas degradadas;
-Melhoria dos mecanismos de governança.

Segundo Ima Vieira e José Maria Cardoso, um dos objetivos das estratégias é a integração das diferentes categorias de áreas protegidas, envolvendo as já existentes e as novas UCs e as Áreas de Proteção Permanente (APPs), de maneira que todas sejam preservadas de acordo com o Código Florestal Brasileiro.

O artigo ainda enfatiza a importância da geração de renda por meio de atividades produtivas que agreguem tecnologia e valor ao uso da terra, de maneira a ampliar seus benefícios socioeconômicos.

“Os territórios sustentáveis exigem a conversão das pastagens em sistemas de produção alimentar mais diversificados para reduzir a pobreza, aumentar a eficiência econômica e social, absorver carbono, melhorar a conservação dos solos, conservar a biodiversidade e apoiar vários produtos com um elevado valor agregado”, ressalta o texto.

Os autores ainda consideram a necessidade de articulação dos modelos de desenvolvimento com povos indígenas, populações quilombolas e comunidades tradicionais.

“Estabelecer territórios sustentáveis e alcançar o desmatamento e a degradação zero na Amazônia brasileira continua sendo possível, mas exigirá um esforço sustentado, de longo prazo e globalmente colaborativo. Esse esforço deve ser impulsionado por um sistema de ciência, tecnologia e inovação, mas ainda assim deve estar fundamentado no conhecimento, nas visões de mundo e nas aspirações da população regional. Se isso não acontecer, poderão surgir graves riscos sociais e ambientais, com consequências globais imprevisíveis”, alertam os cientistas.


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