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Brasil tem queda recorde de 80% de casos de Covid em grandes cidades desde início da pandemia

Em outubro, as novas infecções caíram em 80% dos municípios com mais de 100 mil habitantes.

Vacinação contribui para a redução de casos. (Foto:Semsa-Manaus)

Quatro em cada cinco cidades com mais de 100 mil habitantes no Brasil tiveram redução de novos casos da Covid-19 em outubro, maior índice de toda a pandemia.

Os dados são do monitor de aceleração da Covid da Folha, que mede a velocidade de crescimento de novas infecções pelo coronavírus nos estados e municípios grandes, que têm dados mais estáveis e confiáveis que os menores.

Em média, outubro teve, por dia, 260 cidades no estágio de desaceleração, quando o número de novos casos está em queda. Isso representa 80% das 326 cidades com mais de 100 mil habitantes.

Por sua vez, outubro de 2021 teve o menor número de municípios com crescimento acelerado de casos —média de 16 por dia (5%). Nesse estágio, segundo a classificação do monitor, o ritmo de infecções cresce de forma expressiva e descontrolada. O pico foi em junho do ano passado, com 287 (88% das cidades grandes).

O monitor tem ainda outras três etapas possíveis: estável (quando o número de novos casos é constante, mas considerável), reduzido (quando não há nenhum ou muito poucos novos casos) e inicial (quando os casos começam a surgir, no início da epidemia).

Entre as 27 capitais, 21 passaram todo o mês passado no estágio de desaceleração. É o caso de São Paulo, Salvador, Manaus, Recife, Rio de Janeiro e Porto Alegre, por exemplo.

Já Boa Vista, Brasília, Florianópolis, Fortaleza, Teresina e Vitória tiveram parte dos dias em situação estável ou de crescimento acelerado de casos, embora a maior parte do mês tenha sido em desaceleração ou estabilidade.

No total dos municípios com mais de 100 mil habitantes, 182 (56%) estiveram em desaceleração durante todos os dias de outubro.

Apenas uma cidade, Valparaíso de Goiás (GO), passou todo o mês com crescimento acelerado de casos. Para efeito de comparação, em abril deste ano eram 20.

Outubro também foi o mês com maior número de cidades grandes sem mortes por Covid desde maio de 2020. Foram 22 (7%) e 43 (13%), respectivamente.

Já no total das 5.570 cidades brasileiras, 3.612 (65%) não tiveram óbitos no mês passado. É o maior percentual desde maio de 2020 (72%).

Especialistas ouvidos pela Folha veem com otimismo a queda no número de casos e afirmam ser decorrente, principalmente, do avanço da vacinação e, mais especificamente, de uma vacinação recente no país.

“É o grande impacto de uma população com uma elevada cobertura vacinal e recentemente vacinada, pois a gente já sabe hoje que as vacinas perdem parcialmente a sua proteção com o passar dos meses, embora a proteção para casos graves, hospitalizações e óbitos seja mais duradoura”, explica Renato Kfouri, pediatra e diretor da SBim (Sociedade Brasileira de Imunizações).

Apesar de ter começado a campanha de vacinação contra Covid cerca de um mês depois de países como Reino Unido e Alemanha, o Brasil conseguiu avançar e ultrapassou a marca de 70% da população com ao menos uma dose no início de outubro.

Hoje, cerca de 75% da população brasileira recebeu pelo menos uma dose dos imunizantes e 58% já tomaram as duas doses ou dose única. Nos demais países, há uma certa dificuldade em fazer com que pessoas que se opõem à vacinação adiram à campanha.

Nos EUA, onde há baixa adesão às vacinas em alguns estados, a cobertura vacinal não é homogênea, chegando a cerca de 40% da população totalmente vacinada em locais como a Virgínia Ocidental e Wyoming.

“Nós temos uma cobertura que é homogênea, e isso é importante também”, completa Kfouri.

Um recrudescimento da pandemia também é observado na Europa, com alguns países como a Holanda decretando novos lockdowns. O continente europeu contabilizou mais da metade dos novos casos de Covid no mundo no final de outubro e viu uma subida repentina nas novas infecções e hospitalizações pela Covid após o relaxamento de medidas de proteção.

“Esse é um problema e nós devemos ficar atentos porque, apesar do momento epidemiológico favorável, é importante não afrouxar as medidas”, ressalta o epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da USP Paulo Lotufo.

Manter os cuidados, como o uso de máscaras, o distanciamento físico entre as pessoas e frequentar, de preferência, ambientes ao ar livre ou espaços bem ventilados são medidas que ajudam a diminuir a circulação do vírus.

“A vacinação tem um papel muito importante na situação de desaceleração da pandemia no país, mas ela sozinha não é nossa única arma”, reforça Denise Garrett, epidemiologista e vice-presidente do Instituto Sabin de Vacinas (EUA).

“No Brasil nós ainda não temos uma taxa de cobertura vacinal suficiente para ela por si só explicar a desaceleração completa da pandemia”, afirma.

Para os especialistas, quase dois anos após o início da pandemia, uma coisa já ficou clara: os movimentos da doença vieram como ondas, com o aumento de casos em momentos de alta susceptibilidade das populações ou por uma baixa quantidade de pessoas já imunizadas, ou ainda por um escape de proteção frente a novas variantes. Por isso, é difícil prever o futuro.

“A gente tem visto que países que tiveram melhora com vacinação e outras medidas de controle, quando relaxaram, tiveram problemas novamente. Por isso, neste momento de transição, é importante ter toda a cautela possível para manter esses níveis [de novos casos] baixos”, afirma Garrett.

Para Lotufo, “epidemiologicamente falando”, é difícil dizer quando a pandemia vai acabar. “Mas eu acredito que está andando mais rápido do que imaginávamos. Estamos próximos do fim do começo da pandemia, mas ainda não no começo do fim.”

O monitor da aceleração da Covid da Folha é um modelo estatístico desenvolvido pelos pesquisadores da USP Renato Vicente e Rodrigo Veiga. Baseado na evolução dos casos em cada local (cidade, estado, país), tem como parâmetro um período de 30 dias, com maior peso para o período mais recente.

Com isso, é medida a aceleração da epidemia, ou seja, a forma como o número de novos casos cresce ou diminui. Os números são atualizados diariamente (a cada atualização, o dia mais antigo da série de 30 dias sai do cálculo).

Na classificação, o modelo considera o estágio mais presente nos últimos sete dias. Assim, há maior estabilidade da classificação apresentada diariamente, evitando possíveis mudanças bruscas causadas por problemas na divulgação dos dados pelas secretarias de Saúde.

A informação é do jornal Folha de São Paulo.


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