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Brasil tem baixa ambição em resolver os problemas da Amazônia, dizem especialistas

Em evento ‘Diálogo rumo à Cúpula da Amazônia’, debatedores afirmam que país apresenta discurso de sustentabilidade, mas ainda adota poucas ações.

Especialistas defendem que é necessário ouvir os povos originários da floresta. (Foto:Reprodução/WWF)

Apesar da temática de sustentabilidade estar em alta nas maiores empresas do Brasil e no governo federal, o País tem uma baixa ambição em resolver os problemas da Amazônia. Esse foi o diagnóstico apresentado durante o evento Diálogo rumo à Cúpula da Amazônia, realizado numa parceria entre Estadão e a rede Uma Concertação pela Amazônia.

Para Denis Minev, diretor-presidente da rede varejista Bemol, com sede em Manaus, nos últimos anos o País passou a discutir diversas soluções sustentáveis para a floresta amazônica, mas pouca ação tem sido vista efetivamente. “Minha impressão é que o Brasil tem baixa ambição em relação ao meio ambiente, resolver o desmatamento. Ter como meta reduzir o desmatamento é uma baixa ambição. O Brasil tem um belo discurso, mas ainda não está lá.”

A liderança indígena e profissional da saúde Vanda Witoto é da mesma opinião. Ela destaca que o assunto ainda não é tratado como prioridade pelo poder público. Minev dá como exemplo o fato de que foram destinados milhões de reais para a indústria automobilística recentemente, mas uma verba tão expressiva não é direcionada para o centro de biotecnologia da Amazônia. “A indústria automobilística é completamente suja de combustíveis fósseis. As ações precisam estar casadas com esse discurso e ainda não estão.”

Ele ainda destaca que um outro problema é a má utilização de trechos da Amazônia legal que, se recuperados, poderiam ser uma oportunidade em termos sociais e econômicos. “Vivemos dependentes do governo federal. Não é a Amazônia desejada, mas é o que temos, principalmente porque não temos uma liderança que nos ajude a avançar. Daí a necessidade de tocar em novas formas de fazer economia.”

Ainda no evento, os especialistas destacaram que o Brasil chegará com uma imagem fragilizada à Cúpula da Amazônia, evento que acontecerá em agosto, em Belém (PA), reunindo chefes de Estado das nações da região para um debate. Eles destacam que o Brasil ainda sofre com muitos problemas internos, como o marco temporal e o caso dos yanomami.

Vanda Witoto destaca que o marco temporal é a representação da violação dos povos originários. Para ela, esse cenário dificulta que o Brasil tenha um papel de destaque diante de outras nações, considerando que há “um Congresso que atua para a destruição desses direitos fundamentais”.

“Não temos credibilidade na Cúpula para tratar de pautas como, por exemplo, criar uma região fronteiriça segura. Estamos onde aconteceu o assassinato de Dom e Bruno, onde tem raptos e tráfico de drogas constantemente, mas não há nenhuma política. A morte de indígenas não é repercutida como foi a deles, mas todo dia adolescentes são mortos, crianças são raptadas, jovens estão sendo capturados por grandes facções para serem levados para esse mercado.”

Para a secretária executiva do Uma Concertação pela Amazônia, Lívia Pagotto, uma mudança efetiva só acontecerá quando pensarmos não somente no desenvolvimento da região, mas entender que estamos falando de múltiplas regiões – situação que nem sempre é considerada na hora de criar propostas ou pensar em projetos econômicos. “Estamos falando de muitas economias, as tradicionais, mas também é preciso pensar nas novas.”

Denis Minev é da mesma opinião. Ele destaca que, além de entender a pluralidade da região, é também necessário ouvir os povos originários, responsáveis por cultivar a região há anos.

“Ainda estamos presos na visão dos militares de abrir estradas, hidrelétricas, zona elétrica, mineração. Era uma visão adequada para os anos 70, mas não para o século 21. Nenhum governo seguinte construiu o que quer dizer prosperidade na Amazônia. É preciso levar em conta o que é importante para os indígenas.”

Ao final do evento, a diretora do departamento do Meio Ambiente do Itamaraty, Angélica Ikeda, afirmou que a proteção ambiental não é vista como algo isolado dentro do governo federal, mas um projeto contínuo. “O governo está tentando enfrentar os problemas e criar políticas conjuntas com os povos originários”, afirmou, destacando que a instituição tem como objetivo central trabalhar ao lado de parceiros de outros países para resolver esta questão.

As informações são do jornal Estadão.


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