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Brasil tem 4,8 milhões de crianças e adolescentes sem acesso à internet em casa

Levantamento expõe desigualdade que constitui barreira para a educação em tempos de pandemia

O levantamento é feito pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). Os dados foram solicitados pelo Unicef para medir, em meio à pandemia do novo coronavírus, causador da covid-19, quantas crianças e adolescentes estão sem acesso a aulas online e a outros conteúdos da internet que garantam a continuidade do aprendizado.

“A gente está em um momento de crise, uma crise aguda em função da pandemia, que vai ter impacto na vida das crianças e adolescentes, como um todo. Do ponto de vista da educação, a gente está com uma questão séria: o que é preciso fazer para que essas crianças e adolescentes tenham acesso a algum tipo de aprendizagem”, diz o chefe de Educação do Unicef, Ítalo Dutra.

Segundo Dutra, a pandemia evidencia desigualdades que já são enfrentadas no cotidiano em todo o país. Há escolas que têm infraestrutura adequada e de qualidade, e outras que não, o que já impacta o aprendizado das crianças.

“Com a pandemia, com as escolas fechadas, temos, obviamente, uma situação que é ainda mais aguda. Vemos com preocupação a situação em que nos encontramos e, principalmente, entendemos a necessidade de olhar para uma maneira de garantir o acesso de crianças, adolescentes e suas famílias à internet.” É parte da garantia de direitos de crianças e adolescentes, afirmou.

A pesquisa mostra que, entre aqueles que não têm acesso à internet em casa, alguns conseguem acessar a rede em outros locais, como escolas, telecentros ou outros espaços. Isso antes da adoção de medidas de isolamento social no país. As informações foram coletadas entre outubro de 2019 e março de 2020.

Aqueles que não acessam a internet de nenhuma forma, no entanto, chegam a 11% da população nessa faixa etária. A exclusão é maior entre crianças e adolescentes que vivem em áreas rurais, onde a porcentagem daqueles que não acessam a rede chega a 25%. Nas regiões Norte e Nordeste, o percentual é 21% e, entre os domicílios das classes D e E, 20%.

Em termos gerais, o acesso cresceu em relação ao último levantamento, de 2018, quando 14% das crianças e adolescentes não navegavam pela rede. As desigualdades regionais e de renda, no entanto,  permanecem, diz o coordenador de Projetos de Pesquisas do Cetic.br, Fábio Senne. “Os não usuários estão mais presentes nas regiões Norte e Nordeste e têm vulnerabilidade socioeconômica maior. Essas dimensões permanecem nas pesquisas, nos últimos anos, apesar do aumento constante de usuários.”

Mesmo entre aqueles que têm acesso à internet e contam com a rede em casa, a qualidade da conexão não é a mesma. “A gente nota que, mesmo entre os que têm acesso, há diferença em relação à posse de um pacote de dados 3G ou acesso a wi-fi, o que limita o tipo de conteúdo que pode ser acessado”, diz Senne, que acrescenta: “Há variações do ponto de vista da estrutura por regiões, principalmente na região Norte e em áreas rurais, onde é mais difícil, mesmo que se tenha acesso à internet, acessar conteúdos de streaming, que demandam muita quantidade de banda.

Junto com os colegas, a professora do 2º ano do ensino fundamental Neila Marinho, que leciona em uma escola particular da cidade do Rio de Janeiro, fez um treinamento para ministrar aulas online e passou a oferecer aos alunos atividades por meio de uma plataforma digital.

Mesmo com todo o preparo, nem tudo sai como o esperado e a conexão, às vezes é uma barreira. Um dos estudantes, por exemplo, está em um local que tem baixa qualidade da internet. “Quando ele entra na sala, a gente tem muita dificuldade para ouvi-lo. Ele fala, e as falas picotam, (a internet) cai e não consegue voltar. Preciso enviar as atividades por mensagem para os avós”, conta Neila.

Sem wi-fi em casa, a trabalhadora autônoma Letícia Gomes, moradora do Complexo do Alemão, no Rio, divide com o filho, Marcos, que está no 3º ano do ensino fundamental, o pacote de dados do próprio celular. “Ter um computador ia ser muito melhor, principalmente por conta da leitura. Ler no celular é muito ruim”, diz.

Cumprindo as regras de isolamento social e ficando em casa, Letícia reserva um momento do dia para fazer as tarefas com o filho. “A professora envia matérias via Whatsapp e publica no Facebook. A gente tem que auxiliar a criança a fazer. Alguns conteúdos são difíceis de entender”, diz. Letícia conta que fica disponível para tirar dúvidas por mensagem.


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