Brasil
Botos da Amazônia estão contaminados por mercúrio, aponta estudo
Os cinco botos brasileiros acompanhados na região do rio Tapajós e do Parque Nacional do Juruena (entre os estados do Mato Grosso e do Amazonas) estavam contaminados.
Os botos amazônicos estão contaminados por mercúrio, possivelmente proveniente de atividades de mineração ilegal que ocorrem na floresta, mostra pesquisa da ONG WWF.
O estudo, desenvolvida desde 2017 e que abrange os territórios do Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador e Peru, encontrou contaminação por mercúrio nos 46 espécimes de boto acompanhados. Esse metal líquido é usado no processo de mineração para separar o ouro de outras impurezas.
Segundo Marcelo Oliveira, especialista em conservação do WWF-Brasil, os cinco botos brasileiros acompanhados na região do rio Tapajós e do Parque Nacional do Juruena (entre os estados do Mato Grosso e do Amazonas) estavam contaminados.
Mesmo não se sabendo, por falta de estudos, o impacto que isso pode ter na população dos botos acompanhados –o Inia geoffrensis, o Inia boliviensis e o Sotalia fluviatilis–, a contaminação serve como alerta para a região.
“Esses animais indicam que há algo errado”, afirma Oliveira. “Isso tem uma ligação direta com a segurança alimentar e as comunidades indígenas que dependem de peixes e podem estar ameaçadas.”
A contaminação encontrada levou os pesquisadores da Iniciativa Botos da Amazônia a buscar uma parceria com a Fiocruz para avaliar as populações indígenas da região.
Um estudo de 2016 da própria Fiocruz, em conjunto com o ISA (Instituto Socioambiental), mostrou que em aldeias da Terra Indígena Ianomâmi, em Roraima, 92% dos índios estavam contaminados por mercúrio.
O estudo feito com os botos (ou golfinhos de rio) também ajuda a mostrar a importância das UCs (Unidades de Conservação) e a preferência dos animais por esses locais, o que poderia ser explicado pelos recursos pesqueiros mais ricos dentro dessas áreas protegidas.
Para acompanhar os botos, os pesquisadores usaram um pequeno transmissor de cerca de 145 gramas, cada um ao custo de US$ 1.700 cada (cerca de R$ 6.800) e mais EUR 100 mensais (R$ 450) destinados aos serviços de satélite. Para conseguir implantar o aparelho no animal, é necessária uma operação envolvendo três barcos e entre dez e 15 pessoas. O transmissor permanece na barbatana do boto entre cinco e oito meses e depois se solta sozinho.
Oliveira afirma que esse é o estudo de acompanhamento mais amplo já feito com os botos, considerando o tempo de acompanhamento e a precisão das localizações obtidas no dia a dia.
Havia dúvidas se o monitoramento dos animais daria certo, já que o sinal dos transmissores poderia não conseguir atravessar as copas das árvores. Outro risco era do transmissor se prender em árvores e se soltar.
O único problema enfrentado foi a falta de sinal dos transmissores durante quatro horas por dia –localizações imprecisas ou problemáticas foram retiradas das análises para não atrapalhar os resultados do estudo.
Ao acompanhar os botos tão de perto, os cientistas conseguiram verificar, por exemplo, que os animais se deslocam em família e que as fêmeas se deslocam menos que os machos –em, média, os bichos nadam de 3 km a 10 km por dia. O menor deslocamento delas pode estar associado a gestações e cuidados com filhotes.
Os pesquisadores também conseguiram identificar que os botos precisam de diferentes ambientes aquáticos para viver, ou seja, eles transitam entre diferentes áreas, chegando inclusive perto de praias. Os animais também aproveitam as épocas em que as águas sobem para circular entre florestas alagadas.
O objetivo dos cientistas é continuar marcando golfinhos de rio, até chegar em ao menos 50 animais, em outras áreas para aprofundar os conhecimentos sobre o animal e os possíveis impactos que sofrem por alterações no habitat, como com a construção de hidrelétricas.
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