Brasil
Atrasadas, chuvas não devem aliviar a seca antes de outubro. Veja as previsões do Cemaden para os próximos meses
Todas as principais bacias hidrográficas seguem com expectativa de vazão abaixo da média no curto prazo.
A estação chuvosa já está atrasada na América do Sul, o que era previsão virou fato. E, ao menos para esta e as próximas duas semanas, a previsão é que a seca e o calor continuarão a castigar com intensidade a maior parte do Brasil, com elevado risco de incêndios, informa o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
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Todas as principais bacias hidrográficas seguem com previsão de vazão abaixo da média para os próximos três meses. Os mapas de previsão retratam praticamente o Brasil inteiro seco, sem um pingo d’água, até o dia 23 de setembro.
A partir disso, a previsão ainda tem maior margem de incerteza, mas é quase certo que a chuva não virá antes do início de outubro para quase todo o país, à exceção do Rio Grande do Sul e de partes do extremo norte da Amazônia, afirma o meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador de operações do Cemaden.
— A imagem de satélite dá vontade de chorar. É impressionante. Nunca vi uma coisa igual. Os incêndios estão destruindo florestas e áreas naturais importantes, matando um número imenso de animais indefesos e poluindo o ar que se respira numa parte enorme do país — salienta Seluchi.
Ele se referia aos satélites de análise meteorológica. Mas, mesmo satélites designados com outras funções retratam uma tragédia ambiental colossal.
A magnitude das queimadas que poluem o céu do Brasil é de tal ordem que foi captada a 1,6 milhão de quilômetros da Terra pelo satélite da Nasa DSCOVR (Deep Space Climate Observatory). O satélite tem como função monitorar o clima espacial, mas sua câmara Epic, pode fotografar a nuvem que cobre a América do Sul desde os primeiros dias de setembro.
A estação chuvosa já está atrasada, diz Marcelo Seluchi. O Oceano Atlântico está mais quente na região da América Central e isso tem concentrado a umidade e chove muito por lá. Em consequência, as chuvas não chegam no Norte da Amazônia e é por lá que começa a toda a estação chuvosa.
A chuva começa no extremo Noroeste da América do Sul e segue para o Sudeste do continente. Tem uma sequência. Já deveria estar chovendo agora na Venezuela e na Colômbia e não está.
Os meteorologistas não conseguem ver o fim da seca em setembro. Esta semana segue quente e sem chuva, a seguinte deve ser igual, segundo o Cemaden. A que começa no dia 23, a quarta, segundo a maioria dos modelos de previsão climática, segue sem chuva. E há risco de os primeiros dias de outubro também serem secos.
Seluchi destaca que mesmo onde é prevista chuva — norte da Amazônia e parte da Região Sul — ela será abaixo da média histórica. E a chuva que virá será não apenas fraca, mas longe de onde é mais necessária. Na Bolívia, que arde e exporta fogo e fumaça de queimadas para o Brasil, também não há previsão de chuva. O Rio Grande do Sul e o Norte da Argentina estão pegando em cheio as queimadas na Bolívia.
Secura máxima
Na estação seca, as frentes frias são a fonte das chuvas para boa parte do país, explica Tércio Ambrizzi, coordenador do INCLINE (INter-disciplinary CLimate INvestigation cEnter) Núcleo de Apoio a Pesquisa em Mudanças Climáticas da Universidade de São Paulo (USP).
Ele frisa que este ano as frentes têm sido mais oceânicas e quase sempre fracas. Em partes do Sudeste e em todo o Centro-Oeste isso tem efeito devastador, pois não há nem a umidade da Amazônia. O interior do país não está recebendo nada. Isso significa que não tem umidade chegando, diz Seluchi.
É um processo difícil de quebrar. A umidade fica baixíssima, mas para que ocorra chuva é preciso umidade. A chuva não ocorre porque tem baixa umidade e porque tem baixa umidade não chove.
Chuvas esporádicas podem acontecer, mas no máximo poderão apagar localizadamente incêndios. Alívio só mesmo com a estação chuvosa, quando as precipitações se tornam consistentes e capazes de reduzir a umidade do solo, dar início à recuperação de rios e evitar condições favoráveis à propagação de incêndios, observa Seluchi.
A esperança
A esperança dos especialistas é que a estação chuvosa seja boa. Seluchi enfatiza que não existe relação entre o momento de início e a qualidade da estação chuvosa. Já houve anos em que ela começou cedo e não foi boa, a exemplo de 2023. Pode começar adiantada e ser péssima. E iniciar com atraso e ser boa. A recuperação depende também da distribuição das chuvas. Principalmente a da agricultura, que precisa de chuvas regulares.
Na raiz do clima infernal no Brasil está o aquecimento do Oceano Atlântico, diz Tercio Ambrizzi. Ele diz que até uma profundidade de 600 metros há sinais de elevação da temperatura.
O Atlântico Tropical está mais quente no Hemisfério Norte junto à América Central e isso influencia o clima do Brasil, que fica mais seco. Outra fonte de secura é que sucessivos bloqueios atmosféricos têm impedido o avanço de frentes frias.
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