Brasil
Ao menos oito Estados não devem aderir a uso generalizado de cloroquina
‘Não faremos porque a ciência não recomenda. E em São Paulo nós seguimos o que diz a ciência’, afirma o governador de São Paulo, João Doria.
Ao menos oito governos estaduais já sinalizaram que não vão aderir ao uso generalizado de cloroquina – entre eles, São Paulo, Bahia e Rio Grande do Sul. Em outros sete, as administrações afirmam que a aplicação ou não da substância ainda está sob estudo. As demais unidades federativas ainda não informaram.
Considerado epicentro do coronavírus no País, São Paulo deve manter a administração de cloroquina nos hospitais como era feita até então, segundo afirmou o governador João Doria (PSDB). “Nós não faremos distribuição nem aplicação generalizada da cloroquina, porque a ciência não recomenda”, disse. “A ciência não orienta este procedimento e em São Paulo nós seguimos o que diz a ciência.”
No Rio Grande do Sul, o governador Eduardo Leite (PSDB) declarou que “quem tem de tomar a decisão é o profissional de saúde”. “Não há evidência suficiente para que a cloroquina tenha administração irrestrita, pelo contrário: são feitos muitos alertas sobre possíveis efeitos colaterais graves.”
O governador da Bahia, Rui Costa (PT), também se opôs à nova recomendação do Ministério da Saúde e criticou a politização do remédio. “Não será adotado. Os médicos com seus pacientes e familiares definem o protocolo de atendimento”, disse ao Estadão. “Na Bahia receita médica não é definida por ideologia ou pelos políticos.”
Por sua vez, o governo Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão, disse que “não há certeza científica em nível internacional ou nacional” sobre o assunto. Em Pernambuco, o governo Paulo Câmara (PSB) afirmou que “recebe com preocupação as novas orientações do Ministério da Saúde” e destaca não haver número suficiente de comprimidos, caso se queiram tratar todos os casos leves.
“Não há nenhuma modificação”, afirmou por sua vez o secretário da Saúde da Paraíba, Geraldo Medeiros. Segundo afirma, o corpo técnico da área tem estudado “inúmeros trabalhos” e não há “evidências científicas comprovadas” dos benefícios da cloroquina. “É fundamental que (o uso) seja sob prescrição médica, porque o médico se responsabiliza por essa prescrição”, disse. No Norte, o governo Helder Barbalho (MDB) também diz que não vai alterar a administração da cloroquina nas unidades do Pará.
No Mato Grosso do Sul, o secretário de Saúde, Geraldo Resende, disse que o medicamento adquirido pelo governo foi destinado para trabalho científico em duas unidades hospitalares. “O uso da cloroquina é reservado à decisão do médico em relação à aplicação.”
Já os governos de Minas, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso, Acre, Piauí e Rio Grande do Norte afirmaram ao Estadão que o novo protocolo está sendo avaliado por comitês científicos locais ou pelas Secretarias de Saúde. O governo do Distrito Federal não se pronunciou.
O secretário do Maranhão, Carlos Lula, afirma que há receio sobre a orientação estimular pressão da população sobre gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) e médicos. “Indiretamente já tem acontecido, mas é um erro. Debate equivocado. O presidente (Bolsonaro) acaba trazendo isso ao centro do debate”, disse. “A gente sabe que não há medicação 100% eficaz. A maioria dos pacientes melhora sem tomar nada, pode tomar cloroquina ou tubaína, vai dar na mesma. É um debate equivocado”, disse o secretário, em uma alusão à ironia feita por Bolsonaro, em live na terça.
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