Amazonas
Sindicato dos servidores federais cobra concurso público para cargos de nível médio no Inpa
O Inpa estima que há falta de pelo menos 517 vagas para cargos de nível médio, embora não haja previsão de concurso para essas funções.
Informações obtidas pelo Sindicato dos Servidores Públicos Federais no Amazonas (Sindsep-AM), junto ao departamento de Recursos Humanos do instituto, indicam que o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) perdeu 52% de seus profissionais de nível médio desde 2006, caindo de 485 para os atuais 231. Diante do quadro, o sindicato iniciou campanha para que o governo federal anuncie com urgência vagas para o Inpa e outras instituições federais.
De acordo com o Sindisep, a situação atual do Inpa é preocupante, pois 25,40% dos técnicos – cargo de nível médio – estão aptos a se aposentar. O mesmo se aplica aos assistentes de ciência e tecnologia, outro cargo de nível médio, com 38% já elegíveis para aposentadoria. O Inpa estima que há falta de pelo menos 517 vagas para cargos de nível médio, embora não haja previsão de concurso para essas funções.
O sindicato destaca que a capacidade de produção do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus, tem sido bastante afetada pela escassez de profissionais de nível médio, o que tem forçado, inclusive, o fechamento de laboratórios.
Mês passado, o Inpa anunciou concurso com 63 vagas para pesquisadores e tecnologistas, todos cargos de nível superior. A ausência de cargos de nível médio gerou mobilização no Sindsep-AM e até o envio de uma carta à ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, pelo Fórum de C&T.
“Passamos por um processo de decadência e falta de força de trabalho no setor de C&T que durou pelo menos dez anos. O Inpa é uma instituição muito importante nesse cenário, o principal órgão de pesquisa na Amazônia. Posso dizer que no início da década de 90, o Inpa tinha um corpo funcional de cerca de 1,2 mil pessoas. Hoje, somos pouco mais de 400”, afirma o secretário de administração do Sindsep-AM, Jorge Lobato, que é servidor de carreira no Inpa e representante da categoria no Fórum de C&T.
Já na carta enviada à ministra, membros do Fórum citam o risco de paralisação de pesquisas importantes não apenas no Inpa, mas em uma série de órgãos do sistema de C&T do país, considerando que o governo anunciou concursos para outras instituições públicas do setor, porém, sem vagas para nível médio.
“Mais grave é a total falta de resposta, até o momento, do governo, em particular do MGI, de nosso pedido de urgência para concursos de técnicos e assistentes, que, caso não ocorram, acarretarão na interrupção e mesmo a perda de pesquisas realizadas em diferentes campos do conhecimento”, diz trecho da carta.
Prejuízos
A dificuldade se reflete, por exemplo, para a pesquisadora do laboratório de malária e dengue, Rosemary Aparecida Roque, que enfrenta problemas diários na rotina das pesquisas por causa da ausência de técnicos.
Até 2019, antes da pandemia, o laboratório possuía seis profissionais desta área. Hoje, são apenas dois, com um já apto a se aposentar. “O técnico não é só aquela pessoa que vai dirigir um transporte e levar as pessoas até a atividade. Ele vai executar também aquela atividade, algo que muitas vezes requer treinamento, e de longo período, uma vivência. São eles, inclusive, que orientam estudantes do Inpa, em muitos casos”, afirma a pesquisadora.
Titular do laboratório de química ambiental, o pesquisador Sávio Ferreira ressalta que o Inpa vem perdendo técnicos especializados em uma série de estudos, e até máquinas específicas do instituto. “Temos uma série de equipamentos onerosos, de grande capacidade, e que estão sem uso porque não temos pessoal para colocá-los em funcionamento”, diz.
Nomeado diretor do Inpa, o professor doutor Henrique Pereira defende a importância dos profissionais de nível médio e diz que já teve conversas com a direção do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) para ressaltar a necessidade de abertura de vagas para contratação de novos servidores nestas funções.
“Embora estejamos em uma tendência de contratação de profissionais terceirizados, é preciso entender que em algumas funções, especificamente em atividades complexas, como na pesquisa científica, há necessidade de um perfil adequado, uma formação adequada, como é a desse profissional de nível fundamental ou médio“, afirma.
Henrique ressalta que um de seus principais desafios à frente do Inpa, neste momento de reestruturação do órgão, será a reposição do quadro de servidores, em queda ano após ano. “A gente já inicia essa gestão com o desafio de estar a frente desse concurso para contratação de pesquisadores”, pontua.
Junto com a contratação de novos profissionais, passo essencial para a retomada do Inpa, o trabalho também será de fortalecimento do orçamento do órgão, prejudicado com reduções sequenciais de recursos.
No Projeto de Lei Orçamentária 2024 (PLOA), a previsão é que o Inpa receba R$ 41,8 milhões, um aumento de 19,5% em comparação aos recursos previstos para este ano. “Além dos repasses federais, estamos pensando em outras formas de obter recursos, como parcerias com instituições público-privadas”, comenta o novo gestor da instituição.
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