Amazonas
Morte de Márcio Souza é grande perda para a cultura da Amazônia, diz Milton Hatoum
Escritores eram amigos além de dois dos principais expoentes da literatura brasileira contemporânea.
O escritor Márcio Souza , morto nesta segunda-feira aos 78 anos, foi um dos expoentes da literatura e do teatro amazonense. Seu conterrâneo Milton Hatoum , autor de “Cinzas do Norte” e “Relato de um Certo Oriente”, enviou um depoimento ao jornal Folha de São Paulo explicando as razões pelas quais diz que sua morte, em Manaus, foi uma “grande perda” para a cultura do Amazonas. Leia a seguir.
“A obra do Márcio, além de diversificada, é de grande importância para a cultura da Amazônia . A formação de sociólogo na USP estimulou Márcio a escrever livros e ensaios historiográficos sobre a região Norte e uma obra pioneira sobre a literatura e o teatro do Amazonas.
Essa obra se intitula ‘A Expressão Amazonense – Do Colonialismo ao Neocolonialismo’. Em 1979, eu publiquei uma resenha desse livro na revista IstoÉ.
O Márcio também foi autor de vários romances. Ele estreou com ‘Galvez, Imperador do Acre’ em 1976, era um folhetim cômico satírico sobre a Revolução Acreana. Esse romance foi um best-seller no Brasil e fez sucesso nos Estados Unidos.
Outro romance que eu admiro é ‘Mad Maria’, de 1980, que tematiza uma das passagens mais escabrosas da história do Amazonas, a construção da Madeira-Mamoré , a Ferrovia do Diabo.
O Márcio adorava os romances do escritor americano Kurt Vonnegut. Ele até me deu uma edição em inglês de ‘Matadouro-Cinco’ e eu acho que essa violência narrada por Vonnegut aparece bastante nesse romance.
Quer dizer, a Madeira-Mamoré, que seria uma obra do progresso e da modernidade na floresta, tornou-se um trem fantasma e vitimou milhares de pessoas pobres, trabalhadoras e trabalhadoras do Brasil, indígenas e também estrangeiros.
O Márcio narra essa realidade alucinada, grotesca e terrivelmente cruel e faz de um indígena mutilado um dos protagonistas desse empreendimento maluco na periferia do capitalismo bárbaro”.
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