Amazonas
Meteorologia: La Niña está atrasada e parcela considerável da Amazônia ainda sofre com estiagem
As chuvas estão superatrasadas, em especial no Acre, no Amazonas, no noroeste do Mato Grosso e em Roraima.
Uma parcela considerável da Amazônia continua a sofrer com a estiagem. E a esperada La Niña, que poderia reduzir a seca no Norte do país, está atrasada e, se ainda vier, será no verão e terá pouco impacto. As informações são do jornal O Globo.
Novembro está mais chuvoso do que a média histórica, mas isso não é generalizado, diz o coordenador de Operação do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), o meteorologista Marcelo Seluchi. A região com os maiores acumulados de chuva ocupa uma faixa do Centro-Oeste ao Sudeste, o que é característico da estação chuvosa.
Choveu acima da média no estados do Rio e São Paulo, em Minas Gerais e em Goiás. Essa região alimenta bacias como Araguaia-Tocantins e as cabeceiras do Rio Paraná.
Até o fim do mês, a chuva deve prosseguir no Centro-Oeste, mas enfraquecer na Região Sudeste. Os modelos preveem que se deslocará um pouco mais para o Norte de Minas Gerais e para o Nordeste.
No Sudeste, onde a maior parte da umidade tem se concentrado até agora, as chuvas também têm aliviado o calor. Na primavera e no verão, são um regulador fundamental de temperatura. Dias encobertos ou com pancadas no fim da tarde, são mais amenos. Até o fim do mês, porém, o calor deve aumentar.
Mas o clima dentro da normalidade acaba aí. O que causa surpresa, observa Seluchi, não é a época da chegada das chuvas, que normalmente costumam retornar na primavera. E sim a forma abrupta como o clima virou a chave de muito seco para substancialmente chuvoso, e, sobretudo, a origem da umidade que alimenta as chuvas.
— Nessa faixa do território houve um início abrupto da estação das chuvas, por volta de 10 de outubro. Temos mais de um mês de comportamento de estação chuvosa. A atmosfera já trabalha em modo verão — destaca Seluchi.
Normalmente, a umidade vem da Amazônia. Mas não é o caso este ano. A Amazônia passou este ano por uma situação de seca extrema, com baixíssimo nível de rios, e em parte da região as chuvas estão atrasadas.
O atraso na estação chuvosa amazônica levava a crer que isso também adiaria as chuvas no Sudeste e no Centro-Oeste. Mas a umidade veio diretamente do Oceano Atlântico, salienta Marcelo Seluchi.
O Atlântico segue mais quente do que o normal bem em frente ao Brasil e se tornou uma fonte importante de umidade. Mais água evapora e é lançada na atmosfera, como vapor.
— É muito interessante e, de certa forma, surpreendente. A umidade se instalou. Após a passagem de uma frente fria, começou a chover. E, quando a chuva começa, se forma uma espécie de círculo virtuoso, porque ao chover, melhora a umidade. Chove porque está úmido e está úmido porque chove — explica o meteorologista.
O Sul do Brasil, porém, tem tido chuvas abaixo da média histórica para o período, após o dilúvio do primeiro semestre. Também não tem chovido o suficiente no Pantanal, que teve uma das piores secas da história. E tampouco a situação melhorou na Amazônia.
— A Amazônia continua muito abaixo da média histórica. Tem chovido, mas muito aquém do que deveria. As chuvas estão superatrasadas, em especial no Acre, no Amazonas, no noroeste do Mato Grosso e em Roraima — frisa Seluchi.
Por mais paradoxal que pareça, o Atlântico também é o culpado pela seca na Amazônia. Ele prossegue muito mais quente do o normal na América Central e isso tem concentrado as chuvas lá e favorecido furacões.
— A umidade que sobra na América Central falta sobre o Norte do Brasil — diz Seluchi.
O que poderia trazer alívio para a Amazônia seria a La Niña, esperada desde meados do ano. Mas seus sinais são cada vez mais fracos e distantes. Um atraso tão grande que mundo afora meteorologistas já a apelidaram de La Nada.
O último boletim da Agência de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (Noaa, na sigla em inglês), emitido na segunda-feira, indica que a situação no Pacífico Equatorial — onde a La Niña e o El Niño se formam — é de absoluta neutralidade. A mesma coisa mostra a Universidade de Columbia, que também faz o monitoramento.
A maior possibilidade é que a La Niña decline de vez, diz o meteorologista americano Shane Brown. O fenômeno é caracterizado pelo esfriamento das águas nessa região do Pacífico. O El Niño é o oposto, com águas mais quentes. Ambos impactam o clima global.
No Brasil, o El Niño costuma trazer calor generalizado e chuvas intensas no Sul, como o ocorrido na primeira metade do ano. A La Niña, em geral, ameniza as temperaturas e pode trazer chuva para parte da Amazônia, embora seque o Sul.
Após o forte El Niño encerrado em julho, havia sinais de que uma La Niña poderia se formar em agosto. Mas mês a mês esses sinais foram se enfraquecendo.
Em outubro, diz Marcelo Seluchi, o Pacífico até chegou ao padrão que caracteriza o início de uma La Niña, com uma anomalia negativa de 0,5°C. Mas esse padrão precisaria se manter por cerca de três meses, e o Pacífico voltou a esquentar.
— Eu diria que essa La Niña praticamente não tem chance de vingar. Ela perdeu o bonde — diz Seluchi.
A Noaa diz que há 57% de chance de que uma La Niña finalmente se forme em dezembro ou janeiro. Para a Universidade de Columbia, a probabilidade não passa de 48%. E cairá à medida que 2025 avançar, chegando a 18% em setembro — o limite das previsões.
A única notícia boa é que a probabilidade de um El Niño é de 10% até junho de 2025, quase nula. Porém, a probabilidade aumenta para 25% em setembro.
O que está por trás do desaparecimento da La Niña antes mesmo de ter nascido parece ser o aquecimento generalizado dos oceanos.
— Num cenário de aquecimento generalizado dos oceanos, haver uma anomalia de esfriamento de pelo menos 0,5°C é cada vez mais difícil. O sistema atmosfera-oceano está tendo mais facilidade para criar El Niños e mais dificuldade para Las Niñas — explica Seluchi.
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