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Amazonas

MapBiomas: Amazônia brasileira perde 19% de floresta em 37 anos

O documento mapeou o uso da terra, gerando estatísticas georreferenciadas sobre todo o território amazônico.

Pesquisa diz que a perda da cobertura vegetal pode tornar Amazônia em savana. (Foto:Reprodução)

A Amazônia brasileira perdeu cerca de 19% de vegetação nativa nos últimos 37 anos. Atividades como expansão urbana, aumento do agronegócio, lavouras e garimpos são os principais responsáveis pela mudança no cenário amazônico. Considerando os demais países que compõem a Amazônia, a perda foi de 9,7% de sua vegetação natural em 37 anos.

Os dados são fruto da Coleção MapBiomas Amazônia 4.0 – um levantamento feito pelo MapBiomas Amazônia em parceria com a Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada (Raisg). O documento mapeou o uso da terra, gerando estatísticas georreferenciadas sobre todo o território amazônico. Os resultados do estudo foram divulgados no último dia 2 de dezembro.

Ele aponta que, em 1985, apenas 6% (cerca de 50 milhões de hectares) da Amazônia haviam sido transformados em áreas antrópicas, como pastagens, lavouras, garimpos ou áreas urbanas. Em 2021, essa área quase triplicou, chegando a 15% (quase 125 milhões de hectares) de toda a região. Foi uma perda líquida de quase 10% de sua vegetação natural em apenas 37 anos.

No Brasil, a perda chegou a 19%, numa magnitude muito maior que em outros países, como no Suriname, na Guiana e na Guiana Francesa, onde a diminuição da vegetação nativa no mesmo período foi de apenas 1,6%.

Além disso, as geleiras dos Andes amazônicos, que fornecem água para milhões de pessoas e alimentam as nascentes dos grandes rios da região, perderam 46% de seu gelo no período analisado.

Risco de sequelas irreversíveis

De acordo com o estudo, o grande risco desse cenário é que a Amazônia brasileira está mais próxima do chamado ponto de inflexão ou ponto sem retorno – nível de perda da vegetação original entendido como irreversível, podendo mudar radicalmente o tipo de vegetação do território e afetar todo o ecossistema.

Cientistas calculam que o ponto de inflexão seja entre 20% e 25% de perda da cobertura vegetal. Se a tendência atual verificada pelo MapBiomas Amazônia continuar, o bioma, que é um sumidouro de carbono de importância planetária, chegará a um ponto sem volta, e poderá se tornar uma savana.

No Brasil, o estudo mostrou que a infraestrutura urbana se expandiu 183% nos últimos 37 anos. No mesmo período, o uso do território para a agropecuária cresceu 170% e para a mineração, cresceu 766%.

Transformação acelerada; soluções lentas

O coordenador geral da Raisg avalia que a progressiva perda de vegetação natural nos territórios amazônicos colocam em risco todos os ecossistemas e os danos já acendem o alerta para sequelas irreversíveis, com sérias consequências também para a estabilidade do clima do planeta. Ele também aponta que há a necessidade de uma ação internacional integrada para tentar refrear o problema:

“Publicar a Coleção 4.0 do MapBiomas Amazônia nos permite contribuir com o monitoramento da região com uma visão integral, ajudando-nos a construir e propor estratégias de conservação mais precisas com propostas e informações políticas compartilhadas entre outros países, bem como aspectos socioambientais da grande importância”.

Apesar da urgência, outros autores do estudo comentam que a velocidade com que vem acontecendo a mudança no uso da terra na Amazônia contrasta com a velocidade com que as negociações climáticas se movimentam nos últimos 30 anos.

Para Harlem Mariño, coordenador de um projeto sobre mudanças climáticas liderado pela Raisg, a falta de acordos definitivos na COP27 sobre questões-chave para a mitigação das mudanças climáticas, como o abandono progressivo do uso de todos os combustíveis fósseis, terá repercussões na Amazônia:

“Isso significa que as emissões de gases de efeito estufa provenientes do uso de combustíveis fósseis continuam pressionando os sumidouros de carbono, como a floresta amazônica. Além disso, essa falta de acordos pode implicar na continuidade do fomento às atividades de exploração de combustíveis fósseis na Amazônia, com a consequente redução da disponibilidade de sumidouros de carbono e o aumento das emissões de gases de efeito estufa decorrentes da mudança de uso da terra e a consequente queima desses combustíveis fósseis”, observa Mariño.


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