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Amazonas

“Foi o último recurso disponível”, diz médica que usou nebulização de hidroxicloroquina

A médica teria submetido duas mulheres ao tratamento fora dos padrões recomendados pela Secretaria Estadual de Saúde e OMS, em uma maternidade de Manaus. Uma das pacientes morreu.

O tratamento de pacientes com nebulização de hidroxicloroquina é considerado ineficaz pela Organização Mundial de Saúde.(Foto: Reprodução/Internet)

A médica Michelle Chechter, que submeteu pacientes grávidas com Covid a tratamento de nebulização de hidroxicloroquina, em Manaus, informou ao G1 que o procedimento adotado foi “utilizado como medida compassiva e último recurso disponível”.

Através de seu advogado de defesa, ela emitiu uma nota de esclarecimento sobre o caso neste domingo (18). Ela submeteu duas pacientes ao tratamento, mas uma delas morreu.

O tratamento de pacientes com nebulização de hidroxicloroquina é considerada ineficaz pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A Secretaria de Saúde do Amazonas informou que o procedimento está fora do padrão adotado no tratamento da doença, e abriu uma sindicância para apurar o caso.

Nebulização de hidroxicloroquina em pacientes do Amazonas: o que se sabe até agora

O procedimento foi feito pela médica, que chegou de São Paulo, e foi integrada em regime temporário pelo Governo do Amazonas, via banco de recursos disponibilizados pelo Ministério da Saúde.

Na nota encaminhada ao G1, além de dizer que o tratamento foi praticado como medida compassiva e como último recurso, o advogado de defesa da médica, Leonardo Magalhães, também informou que o procedimento feito por ela teve o consentimento da paciente e familiares.

“Em razão do estágio avançado da doença, o tratamento adotado foi utilizado como medida compassiva e último recurso disponível, tendo o consentimento expresso da paciente e a anuência de seus familiares”, informou o advogado da médica.

Dois meses de salário por cinco dias de trabalho

Uma outra polêmica que surgiu em torno do caso foi o salário recebido pela médica. Conforme a Secretaria de Saúde do Amazonas, ela trabalhou apenas cinco dias no Instituto da Mulher Dona Lindu (IMDL), mas o nome dela aparece no portal da transparência, na lista de funcionários do governo do estado, como tendo recebido vencimentos integrais nos meses de fevereiro e março.

De acordo com o portal, a médica exerceu o cargo de “médico intensivista temporário”, tendo recebido em valores líquidos mais de R$ 11,8 mil em fevereiro e R$ 12,7 mil líquidos em março.

Sobre a situação, o advogado de defesa diz que a prestação dos serviços médicos por Michelle foi regulamentada em um contrato e consistiu em dez plantões de doze horas de duração, em um intervalo de 30 dias.

Ele alega ainda que, devido a uma situação de emergência, os plantões da médica foram realizados em um intervalo de seis dias, “devido a uma insuficiência do número de profissionais em Manaus”.

Apesar disso, Magalhães afirma que a médica constatou que recebeu outros valores em sua conta e que questionou a Secretaria de Saúde do Amazonas sobre os depósitos. Segundo o advogado, Chechter ainda aguarda um esclarecimento da secretaria.

“As obrigações contratuais foram devidamente cumpridas pelas partes, com realização de todos os plantões e recebimento dos valores acordados com a Secretaria do Estado do Amazonas. Ocorre que, Michelle constatou o recebimento de outros valores em sua conta, motivo pelo qual prontamente realizou contato com a Secretaria de Saúde do Estado do Amazonas para dirimir a que se referem os valores recebidos”, informou a nota.

Comissão considera tratamento como ‘experimento clandestino’

Em uma nota divulgada na sexta-feira (16), a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), vinculada ao Ministério da Saúde, diz que considera o tratamento realizado com cloroquina nebulizada em pacientes internados com Covid-19 em Manaus um experimento clandestino e sem autorização legal.

O texto afirma que a o procedimento realizado em uma maternidade de Manaus feriu o Código de Nuremberg, criado após os experimentos em seres humanos após a Segunda Guerra, e os princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos. O Conep informa que encaminhou ainda uma representação ao Ministério Público Federal para providências.

Investigações

A Polícia Civil e o Ministério Público do Amazonas estão investigando a morte da paciente que recebeu tratamento com nebulização de hidroxicloroquina.

A delegada Deborah Souza, titular do 15º Distrito Integrado de Polícia (DIP), informou que recebeu a denúncia do Comitê de Violência Obstétrica do Amazonas e da ONG Humaniza. Conforme a denúncia, pelo menos três mulheres grávidas morreram após o tratamento.

Segundo o procurador Igor Starling, do MP-AM, o órgão irá iniciar uma investigação para apurar a responsabilidade civil, administrativa e criminal sobre o caso.

Eficácia não comprovada
Diversos estudos já haviam apontado que o tratamento com hidroxicloroquina em pacientes com Covid não tem eficácia. Apesar disso, com frequência, o presidente Jair Bolsonaro defendeu o uso do medicamento no tratamento precoce contra a Covid, mesmo sem comprovação científica.

Em março deste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou uma diretriz na qual pede fortemente que a hidroxicloroquina não seja usada como tratamento preventivo da Covid-19. O documento foi divulgado na revista científica “The BMJ”.

A recomendação é feita por um painel de especialistas internacionais do Grupo de Desenvolvimento de Diretrizes da OMS (GDG).

Desde julho do ano passado, a organização informa que não tem encontrado benefícios no uso do antimalárico contra o coronavírus. Desta vez, a conclusão passa a ser uma orientação concreta e oficial para os países e profissionais de saúde.


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