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Amazonas

Ex-namorado e coach de Djidja Cardoso são presos; dono de clínica está foragido

Djidja foi encontrada morta dentro de casa em Manaus no dia 28 de maio. A suspeita é de que ela tenha sofrido uma overdose.

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O ex-namorado e o coach de Djidja Cardoso foram presos em uma nova fase da investigação que apura a morte da ex-sinhazinha do Boi Garantido, encontrada morta no último dia 28 de maio. O suspeito de fornecer cetamina para a família está foragido.

Bruno Roberto e o coach Hatus Silveira foram presos nesta sexta-feira (7) por suspeita de envolvimento em um suposto grupo religioso que incentiva o uso de cetamina. Dois funcionários da clínica veterinária suspeita de fornecer cetamina à família de Djidja também foram presos, informou o delegado Cícero Túlio. Eles não tiveram os nomes divulgados.

Bruno tinha tatuagem com o nome da seita ‘Pai, Mãe, Vida’. À polícia, ele disse que cobriu o desenho após término do relacionamento, explicou o delegado.

“Ele disse que efetivamente tinha feito a tatuagem durante um dos encontros que foi feito na casa dos investigados, onde eles firmaram compromisso de todos realizarem essa tatuagem. Vi que ele já havia remarcado a tatuagem com outra por cima”, informou o delegado Cícero Túlio, após depoimento de Bruno na segunda-feira (3).

Dono da clínica veterinária, José Máximo Silva de Oliveira, é procurado pela Polícia Civil.

Hatus Silveira contou que esteve na casa da família Cardoso em janeiro. Ele era coach de emagrecimento de Djidja desde 2020, e afirmou à imprensa que eles queriam voltar a treinar para recuperar o condicionamento físico.

Na casa, ele diz que presenciou uma sessão do grupo religioso e que a mãe de Djidja, Cleusimar, ofereceu cetamina a ele. “Até então, eu não sabia que estavam usando key [nome também usado para falar da droga cetamina – ou ketamina]. Fui entregar o protocolo e o povo já estava em transe, assistindo Cartas de Cristo, e queriam até me aplicar isso. Fiquei perplexo e disse que não”.

Após recusar, ele relata que foi até a cozinha conversar com Ademar, irmão de Djidja. Foi quando ela teria se aproximado dele por trás e aplicado cetamina no braço dele com uma seringa. Depois, a família quis que ele assistisse aos vídeos de Cartas de Cristo com o restante do grupo.

Hatus conta que sentiu tonturas após a aplicação, mas que não perdeu os sentidos. Segundo o advogado dele, Mozarth Bessa, a droga não o derrubou por conta do peso. “Ele tem mais de 100 kg. Esse tipo de dosagem é conforme o peso”.

O que é a cetamina

Trata-se de um anestésico hospitalar. É usado em diversos países, incluindo o Brasil, com a finalidade de sedação para humanos e outros animais. É apelidada de “tranquilizante para cavalos”.

Remédio não pode ser usado em casa. Tanto a forma em spray nasal quanto a intravenosa para tratar depressão devem ser administradas exclusivamente em hospital ou clínica especializada e na presença de um profissional da saúde. A substância não está disponível no SUS (Sistema Único de Saúde).

Anestésico dissociativo. Quando usada como anestésico, tem efeitos alucinógenos, com sensação de bem-estar. Em doses menores, quem consome a substância pode se sentir eufórico e ter episódios de sinestesia —mistura de sensações relacionadas aos sentidos, como “ver” sons e “ouvir” cores.

Ao ser administrada, a substância entra no cérebro, dispara um processo de religação de neurônios e sai do organismo em aproximadamente 20 horas. Dessa forma, as células passam a “conversar” melhor umas com as outras, havendo uma melhor conexão. Com isso, as áreas afetadas pela doença mental voltam a funcionar melhor e os pacientes percebem uma melhora dos sintomas de depressão.

Apesar dos efeitos benéficos, existe uma preocupação em torno da cetamina. O alerta é semelhante ao da prescrição de opiáceos (medicamentos com efeitos analgésicos e sedativos potentes) e há risco com uso indevido, porque pode viciar.

Relembre o caso

Djidja foi encontrada morta dentro de casa em Manaus no dia 28 de maio. A suspeita é de que ela tenha sofrido uma overdose.

Família Cardoso já era investigada por liderar um grupo religioso. Seita forçava seguidores a usar cetamina para “transcender a outra dimensão e alcançar um plano superior e a salvação”, diz a polícia.

Grupo fazia “rituais com o uso indiscriminado de cetamina”, diz polícia. As investigações apontam que algumas vítimas passaram por violência sexual e aborto.

Investigações começaram com pai de vítima na delegacia. “O pai da companheira de Ademar resgatou a filha dopada e a levou à delegacia, relatando os fatos há cerca de 40 dias”, diz o delegado. Segundo a polícia, “seita” funcionava há pelo menos dois anos no bairro Cidade Nova, em Manaus.

Cleusimar e Ademar teriam se apresentado na delegacia como Maria e Jesus, diz advogado. “A mãe de Djidja se identificou como Maria, mãe de Jesus, e disse que o filho era Jesus, eles não tinham noção. Isso aconteceu logo depois da prisão, entrei na sala e eles falaram isso”, afirma Vilson Gomes Benayon Filho. “Eles também convidaram o delegado para experimentar, tomar conhecimento da espiritualidade”, afirmou.

Defesa negou a existência da seita. “Não existe esse negócio de ritual e de que funcionários e amigos eram obrigados ou coagidos a usar a droga. Não existia isso. Eles ofereciam sob efeito de drogas, com aquele argumento, com aquela alegação da transcendência da evolução espiritual”, argumentou a advogada Lidiane Roque.

Não existe seita, não existe ritual macabro. Todas as declarações deles, os vídeos que circulam na internet, todas as provas que estão no inquérito são fruto de alucinações extremamente severas, de uma droga que está destruindo famílias.Nauzila Campos

As advogadas também cobraram a prisão do dono da clínica veterinária que fornecia a droga à família. “Os fornecedores de droga são os verdadeiros traficantes. E a gente questiona, cadê o dono dessa clínica veterinária que não foi preso até agora? A pessoa viciada, o dependente químico faz de tudo para alcançar a droga, e o dependente químico não é traficante. O traficante é um comerciante que precisa lucrar e faz de tudo e se aproveita da vulnerabilidade dos dependentes”, questionou Nauzila.

A defesa considera que a operação da Polícia Civil salvou a vida dos envolvidos. “A prisão salvou a família, salvou a vida deles. Se essa operação tivesse sido deflagrada algumas semanas atrás, a Djidja estaria viva. Ela estaria presa, mas estaria viva”, destacou Lidiane.


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