Amazonas
Estudo aponta técnicas para aumentar produção de soja sem desmatar floresta Amazônica
Pesquisa mostra que, ao utilizar as técnicas, há redução de emissão de gases do efeito estufa.
A soja está entre as principais commodities agrícolas do Brasil e aumentar a produção sem que seja necessário ampliar a área das plantações é um desafio dos agricultores atualmente. No entanto, um estudo aponta formas de fazer com que isso aconteça sem comprometer o futuro dos biomas brasileiros, especialmente Amazônia e cerrado – além de reduzir a emissão de gases do efeito estufa.
O estudo foi desenvolvido em parte na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), campus de Piracicaba (SP), além de outras instituições pelo país. Recentemente, foi publicado na revista internacional Nature.
Nomeado “Protegendo a floresta Amazônica e reduzindo o aquecimento global por meio da intensificação agrícola”, o estudo propõe justamente aumentar a produção de soja, e elenca formas de fazer isso sem que seja necessário desmatar – além de apontar os benefícios.
Segundo o portal da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), na safra 2020/2021 o Brasil foi o maior produtor de soja do mundo, com 135,409 milhões de toneladas do grão, seguido pelos Estados Unidos, com 112,549 milhões de toneladas. Com isso, o grão se torna responsável por um percentual importante das exportações brasileiras.
De acordo com o professor do Departamento de Engenharia de Biossistemas da Esalq, Fabio Marin, o intuito do estudo era encontrar formas de aumentar a produtividade da soja, devido à sua importância econômica, mas sem afetar de forma negativa o meio ambiente.
“A gente quer aumentar a produção porque temos um país que depende muito do agronegócio, e os preços da soja são muito elevados. Então acaba aumentando a pressão pelo desmatamento, pelo aumento da área. Como a gente concilia o desenvolvimento ambiental com o desenvolvimento econômico? É disso que o artigo fala”, explicou.
Segundo Marin, foram conduzidos experimentos em alguns estados brasileiros, que demonstraram que a produção atual de soja está abaixo do máximo que pode atingir – o que o estudo chama de “produção potencial”.
Os pesquisadores propõem intensificar a produção. “Essa intensificação é a elevação da produtividade até a produção potencial, ou o mais próximo dela”, disse.
Como aumentar a produção?
Na prática, aumentar a produção sem prejudicar o meio ambiente inclui várias ações, entre elas a disseminação da tecnologia para os produtores rurais.
“A gente precisa de mais tecnologia no campo. Isso passa por insumos, passa por fertilizantes, mas também passa por técnicas que são relativamente simples, como ajustar a data de plantio. Precisaria de uma intensificação na transferência de tecnologia para o produtor”, argumentou Marin.
“São mudanças possíveis. A tecnologia já existe, tanto que nos experimentos a gente usou essa tecnologia”, afirmou.
Segundo ele, com esse conjunto de ações nos experimentos a produtividade aumentou. Com essas técnicas, é possível fazer a produção chegar mais próxima do potencial.
Além disso, ele cita a técnica de plantar milho na entressafra de soja, prática já comum na maior parte das regiões, com exceção do Sul, em que as temperaturas do inverno não permitem a “safrinha”.
O que o boi tem a ver com isso?
Além de tecnologias no campo, o estudo também cita como forma de aumentar a produção da soja a intensificação da pecuária. De acordo com os pesquisadores, é possível aumentar a quantidade de cabeças de gado por hectare, fazendo com que se liberem áreas de pastagem para o plantio – aumentando a produção sem precisar desmatar novas áreas.
Marin explica que seria preciso converter em torno de 5 milhões de hectares de pastagens para produção de soja e milho em todo país. Atualmente o Brasil tem em torno de 180 milhões em pasto.
“Isso implica em uma intensificação das pastagens em mais ou menos 12%”, afirmou. Segundo ele, não seria uma mudança tão drástica, já que atualmente a média do Brasil é de uma cabeça de gado por hectare. Com a intensificação, o valor passaria a ser 1,12.
Emissão de gases
Além de citar técnicas para aumentar a produção de soja de forma a preservar o meio ambiente, sem desmatar novas áreas, o estudo também faz uma análise em termos de gases do efeito estufa.
“A gente mostrou que o Brasil ficaria até mais eficiente no ponto de vista de emissões nesse sentido, fazendo essa intensificação”, afirmou Marin.
A eficiência vem da preservação da terra. Segundo um trecho do estudo, a redução de emissão de gases de efeito estufa nesse modelo é equivalente ao total de emissões dos combustíveis fósseis em nível nacional ao longo de quatro anos.
Segundo o pesquisador, a linha de pesquisa que resultou nesse artigo existe desde 2014, mas esse estudo começou por volta de 2017. Ele afirmou que a publicação na Nature foi uma surpresa, porque é uma revista científica conceituada e ninguém desse departamento da Esalq tinha publicado nela até então.
“É muito difícil publicar nessa revista, especificamente sendo brasileiro. É uma revista que só entram estudos de primeira linha. E o que a gente conseguiu demonstrar é que o Brasil poderia fazer essa conciliação com ações possíveis”, finalizou.
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