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Amazonas

Estudo aponta 4 municípios do Amazonas entre os mais violentos da Amazônia

O estudo traz a lista das 20 cidades mais violentas da Amazônia, por porte populacional. No Amazonas, a lista inclui Rio Preto da Eva, Coari, Tabatinga e Iranduba.

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Dados inéditos publicados na 4ª edição do Cartografias da Violência na Amazônia, nesta quarta-feira (19), com levantamento feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com o Instituto Mãe Crioula, revelam que 4 cidades do Amazonas estão entre as mais violentas da Amazônia.

As 20 mais letais

O estudo traz a lista das 20 cidades mais violentas da Amazônia, por porte populacional. Mato Grosso e Pará empatam com seis municípios mais violentos cada um. O fortalecimento da fação criminosa Comando vermelho (CV) explica a liderança em ambos os casos, de acordo com o estudo.

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O levantamento afirma que, no Mato Grosso, os municípios localizados na fronteira com a Bolívia são constantemente utilizados como rota do narcotráfico, sobretudo para o escoamento de entorpecentes da Bolívia e do Peru para o Brasil. Prova disso é que o Mato Grosso foi o estado que mais apreendeu cocaína na Amazônia Legal em 2024: mais de 23 toneladas, quase metade de toda a apreensão da região.

Já o Pará é estratégico como espaço de circulação de entorpecentes, escoados pelos portos de Santarém, Barcarena e Belém. Além disso, o estado permite a integração com outras regiões brasileiras, sobretudo o Nordeste, inclusive via oceano Atlântico, para desviar de fiscalizações.

“Os grupos criminosos estão se aproveitando da logística de circulação de cargas na rota Manaus-Belém para esconder entorpecentes nos mais variados lugares. Recentemente, investigações também descobriram a utilização de barcos de pescas de empresas paraenses transportando entorpecentes para Europa e África”, destaca o relatório.

A mais violenta

O nome já sugere as razões que alçaram Vila Bela da Santíssima Trindade ao título de cidade com um dos maiores potenciais turísticos de Mato Grosso. Cercada de trilhas, cachoeiras e um cânion com águas cristalinas, o município de 17 mil habitantes atrai forasteiros pelas belezas naturais. Situada na divisa com a Bolívia, suas fronteiras secas e alagadas se mostraram, mais recentemente, interessantes também ao narcotráfico. Facções criminosas fizeram da região a porta de entrada no Brasil da cocaína produzida na Colômbia e Peru e escoada pela Bolívia.

O domínio do crime organizado e de garimpeiros, em especial na Terra Indígena Sararé, colocou Vila Bela da Santíssima Trindade no topo da lista das cidades mais violentas entre os 772 municípios da Amazônia Legal. Entre 2022 e 2024, sua taxa de mortes violentas intencionais foi de 136,1 a cada cem mil habitantes — mais de seis vezes mais do que a brasileira.

Mortes violentas intencionais é uma categoria criada pelo Fórum que inclui homicídios, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e mortes em decorrência de intervenção policial.

O estudo ressalta que, apesar do caráter fronteiriço inalterado, Vila Bela da Santíssima Trindade não figurou no ranking das cidades mais violentas em edições anteriores. O agravamento da violência no território, portanto, é atribuído à intensificação do garimpo ilegal na Terra Indígena Sararé, lar de carca de 200 indígenas do povo Nambikwara.

De acordo com o relatório Ouro Tóxico, publicado pelo Greenpeace no último ano, a terra indígena é a mais afetada por garimpo no Brasil atualmente, em especial depois da intensificação da presença do Comando Vermelho na região.

Segundo o levantamento da organização ambiental, houve um aumento de 93% na área destruída pelo garimpo ilegal de ouro na Sararé em um ano, em contraste com reduções observadas em outras terras indígenas, como Yanomami, Kayapó e Munduruku.

Em agosto deste ano, o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) deflagrou uma operação de desintrusão no local. O prejuízo estimado aos criminosos em bens apreendidos ou destruídos chega a R$ 237,5 milhões em um período de apenas três meses.

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Comando Vermelho passou a explorar diretamente o garimpo ali nos últimos dois anos. Agora, o CV gerencia a extração ilegal de minério, ao extorquir garimpeiros e controlar o fluxo de combustível e a entrada e saída de pessoas.

— As facções já estavam presentes no garimpo, mas oferecendo segurança, vendendo droga na currutela, atuando na exploração sexual de mulheres. Essa relação sempre existiu, mas não da forma como está sendo operada agora — relata Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Um comunicado de outubro da organização criminosa, o chamado “salve”, dá uma dimensão do problema. Assim como faz no Rio de Janeiro, o grupo fluminense passou a impor regras, mensalidades, disciplina e punições. Segundo o “salve”, para operar uma balsa de mergulho, com menor potencial de extração, o garimpeiro deve pagar, entre os dias 1 e 8 de cada mês, 10 gramas de ouro. A taxa para trabalhar com uma draga escariante, com mais potencial, é de 100 gramas.


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