Conecte-se conosco

Amazonas

Estiagem extrema fez de Manaus campeã da inflação de alimentos, aponta plataforma Cesta de Consumo Neogrid & FGV Ibre

Cesta de alimentos em Manaus, que não era a mais cara, em outubro de 204, custava, em média, R$ 814,28, com aumento de 27,7% nos 12 meses anteriores, por causa da extrema vazante dos rios.

consumo-nos-lares-brasileiros-

A seca extrema que atingiu, pelo segundo ano consecutivo, a Amazônia provocou uma disparada de preços da comida em Manaus, em 2024, de acordo com notícia publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo (Estadão). O fenômeno fez a capital do Amazonas se tornar a campeã de inflação de alimentos básicos entre oito das principais capitais do País, no período de 12 meses, até outubro do ano passado, quando a cesta que reúne 22 produtos, como carnes, arroz, feijão, farinha, açúcar, café, leite, pão, manteiga, óleo de soja, macarrão e hortifrutigranjeiros, por exemplo, vendida em Manaus subiu 27,7%.

É o que aponta um levantamento feito, a pedido do Estadão, pela plataforma Cesta de Consumo Neogrid & FGV Ibre. O aumento em Manaus foi quase quatro vezes a inflação da alimentação no domicílio medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O indicador da inflação oficial do País foi de 7,28% no período. Manaus não faz parte das dez regiões metropolitanas e dos seis municípios nos quais o IBGE pesquisa preços para apurar o IPCA.

A alta de preços registrada pela cesta de alimentos básicos de Manaus, pesquisada pela Neogrid & FGV Ibre, ficou muito à frente da vice-liderança do ranking das maiores variações, que foi São Paulo (22,9%), seguida por Salvador (19,8%) e Brasília (19,5%), Fortaleza (15,2%), Rio de Janeiro (13,7%), Belo Horizonte (13,4%) e Curitiba (5,3%).

“É a primeira vez que a cesta de alimentos de Manaus aparece com destaque”, afirmou Anna Fercher, coordenadora de atendimento ao cliente e dados estratégicos da Neogrid. Há cerca de um ano e meio essa cesta vem sendo monitorada nas oito capitais. Os dados de preços são extraídos pela plataforma de 40 milhões de notas fiscais emitidas por mês. Ou seja, são preços efetivamente pagos pelo consumidor, não apenas os que constam na prateleira do supermercado.

Anna observa que o Rio de Janeiro, com a cesta mais cara entre as capitais (R$ 1.009,11 em média, em outubro de 2024) sempre liderou a alta desse ranking por causa da alíquota maior do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). No entanto, nos 12 meses anteriores, esse posto ficou com Manaus, que não tem a cesta mais cara. Em outubro de 2024, a cesta manauara custava, em média, R$ 814,28, aponta a pesquisa. Era a quarta maior em valor entre as oito capitais.

A falta de chuvas enfrentada pela região Amazônica castigou duplamente o abastecimento de comida. Além do impacto direto no plantio e consequentemente na colheita de alguns poucos alimentos produzidos localmente, Manaus depende da logística fluvial para transportar a maioria dos alimentos que são “importados” de outras regiões do País. O problema é que o nível dos rios caiu e prejudicou o transporte por via fluvial.

“É a seca, não tem outro motivo (para esse aumento do custo da cesta)”, afirmou o superintendente da Associação Amazonense de Supermercados (Amase), Alexandre Zuqui. Ele explica que 95% do abastecimento da cidade é feito através dos rios. E a localidade tem forte dependência da compra de alimentos de outras regiões do País.

“Hoje importamos banana e peixe de Estados vizinhos: a banana vem de Roraima e peixe de Porto Velho (RO)”, exemplifica o presidente da Federação do Comércio do Estado do Amazonas, Aderson Frota.

O pressuposto da Zona Franca de Manaus na sua concepção era criar no interior da Amazônia um centro industrial, comercial e agropecuário. Desses três, o polo agropecuário cou esquecido, diz Frota. E, em momentos de seca, os problemas aumentam, porque praticamente quase todos os alimentos que abastecem a cidade vêm de fora.

Com estiagem, o nível dos rios pelos quais são transportados alimentos e outras mercadorias até Manaus diminuiu a partir de julho. Com isso, operadores logísticos passaram a cobrar a “taxa de pouca água”, diz Ralph Assayag, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Manaus, vice-presidente da Amase e dono da rede de supermercado Casas do Óleo.

O empresário conta que a taxa da seca aumentou em 18% o custo logístico das mercadorias. Isso pressionou preços e a inflação. “Não tivemos falta de produtos na seca deste ano”, diz, acrescentado que em 2024 houve antecipação de compras por parte dos supermercados. No entanto, na seca de 2023, o comércio não havia se preparado e chegou a faltar produto, lembra.

Os preços pressionados, sobretudo pela alta do frete, tiveram impacto nas vendas dos supermercados do Estado. Apesar de o faturamento ter crescido 3,5% entre janeiro e outubro de 2024, em relação ao mesmo período de 2023, o número de itens comercializados recuou 7% na mesma base de comparação, apontam os dados da associação de supermercados.


Clique para comentar

Faça um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

cinco × 1 =