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Amazonas

Enfermeira do AM diz em CPI que, em 2020, colegas tiveram que bancar EPIs do próprio bolso

Na avaliação de Mayra Pires, “um pouco de bom senso e um pouco de humanidade por parte dos gestores” teria dado um rumo diferente à pandemia no Estado.

A enfermeira obstetra Mayra Pires Lima disse, nesta segunda-feira, aos membros da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, no Senado, que, durante todo o ano de 2020, os profissionais de saúde com quem ela trabalha tiveram que arcar com seus equipamentos de proteção individual (EPI’s) ou receberam de amigos. Ela agradeceu aos doadores que em várias ocasiões arcaram com os EPI’s que ela usou. “Porque nós não tínhamos nem essas máscaras”, afirmou.

“Hoje, eu falo que vivi uma guerra, pois, muitas vezes, atendi pacientes sem proteção nenhuma”, disse Mayra, que foi a segunda a falar aos senadores nesta manhã. Ela informou que foi infectada e, em consequência, outros membros da família também foram infectados, entre eles, a irmã, que morreu durante o colapso no fornecimento de oxigênio em Manaus. A irmã de Mayra deixou quatro filhos órfãos, dois deles, gêmeos, que na época tinham quatro meses. A enfermeira perdeu também um irmão para a doença.

Na avaliação da profissional, “um pouco de bom senso e um pouco de humanidade por parte dos gestores” teria dado um rumo diferente à pandemia no Estado. “Só em Manaus nós temos 80 órfãos de Covid. Só da minha família são 4, são 4 crianças. Porque lá teve casos, na ONG que eu ajudo, que a menina perdeu o pai, a mãe, a vó, todo mundo, ela ficou sozinha com outras crianças menores. Será que a gente conheça essa história? Será que a gente realmente se preocupa com isso?”, disse.

“Minha irmã morreu não por culpa de uma pessoa, mas por uma rede de culpabilidade que precisa realmente ser identificada e resolvida essa situação”, afirmou.

Em janeiro, Manaus viveu um colapso no sistema de saúde com falta de oxigênio. À época, o governo enviou à capital amazonense uma comitiva para difundir o tratamento precoce, com medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento da Covid-19.

“Quando me formei há 15 anos, tinha o sonho de ajudar as grande calamidades, atender pacientes em situação de guerra, hoje falo que vivi uma guerra. Atendi pacientes sem proteção nenhuma, perdemos ótimos médicos obstetras, perdemos colegas para a depressão, para o suicídio. Peguei Covid duas vezes”, declarou.

Lotada na maternidade Balbina Mestrinho, Mayra relatou falta de equipamentos de proteção individual (EPI) na unidade de saúde. “Situações que poderiam ter sido resolvidas com um pouco de bom senso e de responsabilidade dos gestores”, disse.

Segundo a enfermeira, a maternidade registrou 82 óbitos de profissionais de saúde.


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