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Amazonas

Bioeconomia perde para a destruição da Amazônia, aponta levantamento do Observatório do Clima

Segundo o Observatório do Clima, a região perdeu 1.954 km2 de cobertura vegetal nos primeiros quatro meses de 2022, equivalente à soma das áreas dos municípios de São Paulo e Curitiba.

Levantamento diz que a coleta do açaí sustenta mais de 150 mil famílias e movimenta US$ 1 bilhão por ano. (Foto:Embrapa)

Vital para o equilíbrio climático não só do Brasil, mas do mundo inteiro, a região amazônica vem registrando, nos últimos anos, um desmatamento preocupante. Na outra ponta, avançam os projetos para aproveitamento econômico da floresta em pé. O ritmo de destruição do bioma, porém, é bem mais acelerado do que o da evolução da bioeconomia: segundo o Observatório do Clima, que engloba 37 entidades da sociedade civil, a Amazônia perdeu 1.954 km2 de cobertura vegetal nos primeiros quatro meses de 2022, equivalente à soma das áreas dos municípios de São Paulo e Curitiba e quase o dobro do que que foi desmatado nesse mesmo período em 2021.

O climatologista Carlos Nobre, que estuda a região há quatro décadas, nota que já existem evidências de sobra da vantagem econômica da exploração sustentável da floresta sobre a agricultura e a pecuária. “Estudos mostram que um hectare de floresta pode gerar até R$ 12 mil anuais em sistemas agroflorestais, enquanto um hectare desmatado para o plantio de soja rende entre R$ 500 e R$ 1 mil, e um hectare transformado em pasto não mais de R$ 100 por ano”, diz, referindo-se a um relatório da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos. Nobre acaba de ingressar na Royal Society de Londres, instituição científica de grande prestígio, fundada em 1660 – é o primeiro brasileiro eleito membro desde D. Pedro II.

A cadeia do açaí, segundo Nobre, é um exemplo claro da vantagem da exploração sustentável da Amazônia. “A coleta do açaí sustenta mais de 150 mil famílias e movimenta US$ 1 bilhão por ano. Deixou de ser apenas um negócio de consumo local, sobretudo no Pará, para virar artigo de exportação”, diz. A globalização do açaí aconteceu cerca de 20 anos anos atrás, quando surfistas e esportistas de academia descobriram que o fruto era uma notável fonte de energia. Desde então, a polpa congelada de açaí passou a entrar em receitas doces – os paraenses o consumiam como ingrediente de pratos salgados, misturado com farinha de mandioca e carne – e ganhou o mundo, sendo encontrado em cerca de 20 mil pontos de venda.

Outro caso de sucesso na bioeconomia regional é o cacau. Por ser cultivado à sombra, o fruto que dá origem ao chocolate ajuda na conservação da floresta – e, principalmente, na restauração de áreas degradadas com o replantio de espécies nativas. Em 2019, o Pará se tornou o maior produtor brasileiro de cacau, tirando esse título da Bahia. A ONG Solidaridad, com apoio do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), já capacitou 230 pequenos criadores de gado às margens da Transamazônica ao cultivo do cacau para aumentar a renda das famílias. Com recursos recebidos da JBS, pretende estender o benefício a 1,5 mil famílias em cinco anos.

Os projetos sustentáveis na Amazônia também fazem bem à imagem das companhias que os apoiam. A Natura, que virou referência empresarial de sustentabilidade, utiliza 34 ingredientes naturais da floresta em seus cosméticos, cuja coleta ajuda no sustento de cerca de 28 mil pessoas de 34 comunidades da região. Esse relacionamento comercial com os ribeirinhos, segundo a empresa, vem garantindo a conservação de uma área de 20 mil km2 – que ela quer ampliar para 30 mil km2 até 2025. “Mais de 240 espécies de plantas amazônicas são utilizadas como base de produtos cosméticos e farmacêuticos, mas o potencial é infinitamente maior”, observa Nobre.

Existem projetos de toda ordem para o aproveitamento sustentável da Amazônia, mas nem sempre há harmonia entre eles. A entidade Uma Concertação pela Amazônia foi fundada em 2020 monitorar os investimentos públicos, privados e do terceiro setor na região e ajudar na integração desses programas. “Percebemos que os projetos, em geral, são mais focados nos aspectos ambientais e corporativos do que nos sociais. Falta olhar mais para a vida das comunidades”, afirma Renata Piazzon, secretária-executiva da Concertação, que reúne mais de 400 lideranças preocupadas com o futuro da maior floresta tropical, que ainda ocupa metade do território brasileiro.

Os desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para micro, pequenas e médias empresas da região Norte entre 2017 e junho de 2021 também indicam uma inversão de prioridades. Dos R$ 156 milhões investidos com a participação do banco no quesito “agropecuária”, que engloba também cadeias extrativistas, muito pouco foi destinado, nesse período, a projetos de exploração sustentável da floresta – 87,6% foram para produção de monoculturas, sobretudo soja, e para pecuária. “Estamos incentivando empresas e institutos tecnológicos a apresentarem projetos inovadores de bieconomia que possamos apoiar”, diz Nabil Kadri, chefe do departamento de meio ambiente do BNDES.

Segundo Kadri, uma parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Industrial e Inovação (Embrapii), fechada em dezembro de 2021, vai disponibilizar R$ 30 milhões para novos negócios sustentáveis na floresta, com contrapartidas, nesse mesmo valor, de empresas e institutos tecnológicos interessados. “Mais de dez institutos já estão habilitados a receber propostas”, revela.

O BNDES também é gestor do Fundo Amazônia, entidade do terceiro setor que mais investe na Amazônia, com recursos do governo da Noruega (93,8% do total), da Alemanha (5,7%) e da Petrobras (0,5%). Do investimento de R$ 1,82 bilhão já realizado desde a criação do fundo, em 2007, até 2020, quase metade foi para ações de monitoramento e controle do desmatamento, e 26% para projetos de economia sustentável.

A informação é do site Valor Econômico


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