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Amazonas

Cientista diz que é desonesto justificar aumento de novos casos de Covid-19 ao período chuvoso

Jesem Orellana, da Fiocruz Amazônia, destacou que o Governo do Amazonas tenta usar a mesma justificativa de 2020

Casos de Covid-19 no Amazonas aumentaram no mês de novembro e dezembro- Foto: Kássio Moraes

O epidemiologista da Fiocruz Amazônia Jesem Orellana classificou, nesta quinta-feira (02/12), como desonesta a justificativa para o aumento de novos casos de Covid-19, em novembro deste ano, em que o período chuvoso corroborou para a elevação no número de infecções por SarsCov 2. No mês passado, conforme os boletins divulgados pela Fundação de Vigilância Sanitária (FVS-AM) foram registrados 2.138 novos casos de Covid-19, enquanto em outubro foram diagnosticados 1.261.

Os números apontam para um crescimento de quase 70% no número de novas infecções em novembro, conforme os dados divulgados pela FVS, totalizando 69,55% de novas infecções por Covid-19. Apesar do salto em novos casos, mesmo com a vacinação em voga, o epidemiologista da Fiocruz Amazônia salienta que os números podem estar subestimados. “Nós precisamos lembrar que este aumento expressivo na realidade está subestimado. Nós sabemos que há uma enorme dificuldade de realizarmos busca ativa de casos, de aumentarmos a capacidade da nossa vigilância laboratorial, principalmente a genômica. Nós temos uma enorme dificuldade em atuar em ações preventivas que visam frear a disseminação viral do novo coronavírus. Como se isso não fosse suficiente, a falta de estratégias de saúde pública diretas e efetivas, você ainda nota o Governo do Amazonas e as prefeituras do interior e de Manaus relaxando em muitas medidas transparecendo a ideia de que a epidemia está no fim, de que nós não teremos mais problemas e que poderemos voltar a vida normal”, comentou o cientista.

Jesem Orellana disse que é no mínimo condenável associar o aumento de novos casos ao período chuvoso e relembra que a mesma estratégia foi utilizada pelo Governo do Amazonas no início da segunda onda da covid em 2020.
“Isto não é correto, é desonesto e no mínimo condenável, principalmente quando você tenta repetir em 2021, o erro de 2020, a desonestidade de esconder da população a segunda onda de Covid-19 sob essa justificativa inverídica, irresponsável de que na verdade Manaus, a partir de setembro/outubro estava apresentando aumento do número de casos, internações e mortes essencialmente porque estava se iniciando o período chuvoso. Primeiro que o período chuvoso apenas inicia nesse período, né? O período mais crítico é o dos primeiros meses de cada ano, historicamente falando e olhando os dados que a própria FVS fornece, bem com os recursos que temos na ciência para reconhecer esses padrões. Portanto, o pior momento nunca foi antes do final do ano e sim nos primeiros meses de cada ano, se prolongando até abril, aproximadamente”, declarou Jesem.
O epidemiologista disse que há vários fatores que culminaram para a elevação no número de novos casos no Amazonas e não somente o período chuvoso.

“Entre os principais fatores, estão os erros dos gestores de saúde em autorizarem a flexibilização cada vez maior das medidas que visavam conter a circulação do vírus, em não aumentar a vigilância laboratorial e não se esforçar para fazer busca ativa de casos ou de pessoas não vacinadas na comunidade. Então, essa é uma justificativa que foi usada na virada de 2020 para 2021 e terminou na pior tragédia documentada durante toda a pandemia de Covid-19, e, agora, o Governo do Amazonas como viu que não aconteceu nada em relação à punição, a responsabilização dessas pessoas, que tomaram essas decisões nos levaram a pior crise sanitária do Brasil, repetem essa narrativa falaciosa de atribuir esse aumento do número de casos ao período chuvoso. Nós sabemos que isso não é verdade”, observou Jesem.

Em reportagem do G1, a FVS informou, em nota, que o período chuvoso no estado amazonense “é sazonalidade para Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAGs) e facilita a transmissão de vírus respiratórios, influenciando no aumento em casos de Covid-19”. “Durante o período chuvoso, as pessoas tendem a ficar mais tempo em locais fechados que podem resultar em aglomeração e ausência de distanciamento social. A FVS já emitiu o alerta por meio de nota técnica para as secretarias municipais de saúde reforçando a sensibilidade da vigilância na rede hospitalar para o aumento previsto de SRAG para esta época”, informou o órgão.


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