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Amazonas

Cientista da Fiocruz fala em terceira onda silenciosa da pandemia no AM

Jesem Orellana aponta que os casos de novas infecções podem ser bem maiores que os 1.665 novos casos de Covid-19 registrados até o dia 25 deste mês

Ainda não há previsão para fim da pandemia, segundo OMS. (Ingrid Anne/Fotos Públicas)

A Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM) apontou nos boletins dos dias 1º e 25 deste mês 1.665 casos novos de Covid-19 no Amazonas. Para o epidemiologista da Fiocruz Amazônia Jesem Orellana, o estado já enfrenta, há semanas, a terceira onda da pandemia. Todavia, esta fase segue de forma mais silenciosa em razão da deficiência de detecção em massa das novas infecções por parte do sistema público de saúde, bem como pelo predomínio ainda maior de casos assintomáticos ou de quadros leves/moderados de pacientes que sequer procuram as unidades de saúde, mas que continuam transmitindo o novo coronavírus.

Para se ter uma ideia dos novos casos, a FVS contabilizou no mês de outubro 1.261 casos, de acordo com os boletins divulgados entre os dias 1 e 31. Ou seja, até o momento, o mês de novembro já registra um aumento de 24,26% no número de novos casos de Covid-19.

Jesem Orellana explica que o número de novos casos no Amazonas pode ser maior em razão da ineficácia da vigilância laboratorial ofertada pelo Estado. “O fato de você detectar aproximadamente dois mil casos por mês, que é mais ou menos o total de casos dos boletins de outubro e novembro, expressa somente a capacidade do sistema de saúde para registrar casos novos no estado do Amazonas. Isso significa que só existiram dois mil casos? Absolutamente que não. Pelo contrário, é muito provável que este número seja muito maior, talvez duas, cinco vezes maior, pois temos uma das piores vigilâncias laboratoriais do Brasil. Então, não é exagero supor que o valor real de casos novos, na prática, possa ser duas ou três vezes maior do que o registrado nos sistemas de informação de saúde”, analisou o pesquisador.

O cientista da Fiocruz Amazônia ressaltou que a população pode não se dar conta da silenciosa terceira onda da pandemia pelo fato de esta fase não apresentar o mesmo quantitativo de pessoas internadas e mortas do que nas ondas anteriores da Covid-19.

“Provavelmente estamos numa terceira onda silenciosa que está sendo ocultada pela ineficiência do sistema local de saúde em identificar casos novos na comunidade com busca ativa. Não estamos conseguindo nos dar conta, com clareza, da dispersão viral nesta fase da epidemia, porque pessoas vacinadas ou que já tiveram contato com o vírus e que eventualmente estejam se infectando, podem estar permanecendo assintomáticas ou com quadros leves/moderados e, com isso, não estão procurando o serviço de saúde para notificação do caso. Portanto, como não há um grande e/ou crescente quantitativo de pessoas internadas e mortas, como em fases anteriores da Covid-19, fica a falsa impressão de que a epidemia está bem controlada”, comentou.

Nova variante

O cientista da Fiocruz Amazônia disse que as autoridades em saúde do Amazonas devem ligar o alerta para a nova variante B.1.1.529 do novo coronavírus que foi identificada pela primeira vez em Botsuana, no sul da África, e que tem gerado preocupação no mundo. Nesta sexta (26), a Agência Nacional de Vigilância em Saúde (Anvisa) sugeriu ao governo brasileiro que adote medidas de restrições para voos e viajantes vindos de parte da África.
“O que mais deveria nos preocupar é algo que temos alertado há meses, sobre a possibilidade de uma nova mutação viral ainda mais infecciosa e que anule substancialmente nosso sistema de defesa ou imunológico, algo que já pode estar acontecendo com a ‘nova variante B.1.1.529’ – potencialmente mais ameaçadora do que as variantes Delta e Gama, por exemplo”, alertou o cientista.

Vacinação
O Amazonas tem 30% das cidades com apenas 40% ou menos de cobertura vacinal completa em maiores de 18 anos, de acordo com informações da Fundação de Vigilância em Saúde. O estado como um todo tem apenas 66% da população adulta com o esquema vacinal completo contra a Covid-19 e está bem abaixo da média nacional, que registra mais de 80% dos adultos vacinados com as duas doses ou dose única contra o coronavírus.
Os dados são ainda mais contrastantes quando se leva em consideração municípios amazonenses como Anamã, São Paulo de Olivença, Tapauá e Santo Antônio do Içã, que não atingiram sequer 20% da população vacinada.
Em entrevista à CNN Rádio, o epidemiologista da Fiocruz Amazonas Jessem Orelana afirmou que a imunização contra a Covid-19 escancarou um problema histórico da região. “A vacinação está expondo um problema antigo aqui na região Norte de acesso ao serviço de saúde por parte da população, muito em função do baixo número de profissionais de saúde, principalmente nas cidades menores”, disse.


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