Amazonas
Após queima de fogos, especialistas cobram de Wilson Lima política de segurança em combate ao crime
Cobrança se deu após show pirotécnico realizado por membros de facção criminosa em toda a capital amazonense
Aproximadamente três horas depois de assistir a mais uma demonstração de força de uma facção criminosa, com direito a foguetório em Manaus e no interior do AM, o governador Wilson Lima (PSC) usou as redes sociais, por volta das 22h desta quinta-feira (10/02), para informar a detenção de 50 pessoas envolvidas na queima de fogos de artifício. Membros da sociedade civil e especialistas em segurança ouvidos pelo 18 Horas/Rádio Mix repudiaram os atos criminosos e elencaram que o chefe do Executivo perdeu forças no enfrentamento do crime organizado.
O psicólogo e conselheiro titular do Conselho Estadual dos Povos e Comunidades Tradicionais do Amazonas , Alberto Jorge, em carta aberta direcionada ao governador Wilson Lima, disse que o Governo do Estado não faz ações para evitar demonstração de força de facção criminosa como a realizada ontem e que as detenções realizadas pela polícia não chegaram aos líderes das facções criminosas. “Nos parece mais pirotecnia do que o show de fogos assistido ontem em toda Manaus. Por que essas pessoas não foram presas antes desse show? Por que foi necessário haver tamanha afronta para a Polícia Civil e Militar agirem em tão ‘fantástica’ operação? Os verdadeiros responsáveis pelo estado paralelo estão soltos até, hoje, e seu governo, infelizmente, bem pouco fez ou pode fazer para estancar esse processo de avanço e crescimento do crime organizado. Não bastasse o número de mortos e corpos desmembrados, espalhados em sacos de lixo, até no centro histórico de Manaus, fato recorrente em várias partes da cidade, há anos, vimos estarrecidos a ação sincronizada e bem coordenada da queima de fogos na noite de ontem”, questionou o líder religioso.
Já o professor José Otoni destacou que o governador Wilson Lima não tem compromisso com a população, sobretudo na área de segurança pública. “Infelizmente, com muita tristeza, a gente assiste a um espetáculo do crime organizado, comunicando a população, que ele tem o domínio sobre o estado. Quando ele faz uma manifestação tão ostensiva, barulhenta na cidade toda, através do foguetório, manifestando a felicidade dessa organização de traficantes, pela felicidade de celebrar mais um ano da organização no município de Manaus. Infelizmente, o nosso governador de forma patética aparece com uma fala dizendo que os bandidos não vão ter guarida, depois de toda a celebração. Governador, tem hora que eu penso que ele é apenas um fantoche. Porque compromisso com a população amazonense, isso eu tenho clara e certeza que ele não tem”, avaliou o docente.
Segurança
O especialista em Segurança Pública, coronel Paulo Fontes, informou que o crime organizado tem crescido muito nos últimos anos sobretudo pela própria lei que acaba beneficiando o infrator e membro de facção criminosa. “A lei de execução penal favorece muito ao cometimento do crime. As penas definidas no Código Penal são razoáveis, mas o cumprimento é extremamente benéfico. Além de inúmeras alternativas para redução do tempo de cumprimento da pena em regime fechado, existem muitas benesses e direitos no cumprimento”, comentou.
“A audiência de custódia está mais preocupada da forma como o criminoso foi abordado do que com o crime cometido. Com isso, a polícia pede o elã. Prender dá muito trabalho e, por conta da burocracia, o preso sai antes do policial, que tem que preencher relatórios com inúmeras informações. Prender para quê? A Justiça é muito lenta e a maioria dos crimes prescrevem em abstrato. Mesmo aqueles que resultam e condenação, geralmente é feito pela pena mínima, ou seja, prescreve em concreto. A resolução dos crimes é pífia no Brasil e no Amazonas não é diferente. É uma das causas desse crescimento, pois a chance de ser preso em flagrante de roubo ou de homicídio é menor que 3%”, analisou o coronel.
Questionado sobre como se resolveria o problema, ele salientou que a solução não é só questão de segurança pública. “Tem de envolver todos os órgãos públicos, federais, estaduais, municipais, as forças vivas da sociedade e partir para uma revolução em todo o sistema, principalmente no encarceramento severo. Eliminar saidinhas de Natal, Dia das Mães etc. Criar programas de ocupação dos presos”, disse.
O delegado Costa e Silva, da Polícia Civil do Amazonas, disse que os envolvidos no foguetório ocorrido em Manaus iriam responder a no máximo a apologia ao crime. “Porque é como se tivesse dominando o território do Estado e solta os fogos para comemorar. O grande problema é que o Código Penal traz uma penalidade de 3 meses a 6 meses, de apologia ao crime. Então, esses meliantes são apresentados na delegacia e podem responder a Termo Circunstanciados de Ocorrência (TCO)”, comentou o delegado, por meio das redes sociais.
Sem credibilidade
O professor Miguel Oliveira Filho salientou que é necessário ter políticas de governo capazes de evitar que o cidadão se alie ao crime organizado. “A população não acredita nos governos, tanto no estadual quanto federal, porque os dois não possuem política de segurança pública, de emprego, trabalho, renda, que possa combater o narcotráfico, e combata com isso as facções criminosas que vão ganhando terreno e vão plantando um verdadeiro estado paralelo, para a comercialização de narcóticos que rende muito dinheiro. Isso gera violência, dor, gera a insegurança. A população se sente insegura, infelizmente”, declarou Miguel.
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