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Amazonas

AM: vice culpa governador e diz que política de imunidade de rebanho levou Manaus ao colapso

O vice-governador Carlos Almeida Filho rompeu com o governador Wilson Lima e culpa o ex-aliado pela crise de oxigênio no estado.

O vice-governador do Amazonas, Carlos Almeida Filho (sem partido), disse ao jornal Folha de S. Paulo que o alinhamento de Wilson Lima (PSC) com Jair Bolsonaro na pandemia transformou Manaus em um laboratório gerador da nova cepa de Covid-19, que matou milhares de pessoas.

Rompido com Lima há um ano, ele afirma ao Painel que o ex-aliado levou ao estado a política de
imunidade de rebanho, tese defendida pelo presidente da República, segundo a qual a contaminação generalizada evitaria medidas ruins para economia.

“Quando houve envolvimento do governador na operação [da Polícia Federal], a estratégia foi mostrar alinhamento [com Bolsonaro]. Uma coisa era clara, a política era de afirmar que se tinha uma imunidade de rebanho. O que acabou acontecendo foi um laboratório, a P1 encontrou ambiente adequado”, diz.

Almeida Filho afirma que a crise de oxigênio do início do ano foi de responsabilidade de Lima, que só acionou o governo federal quando o cenário já era de terra arrasada. O vice afirma que a empresa White Martins avisou com antecedência sobre o “estouro” no abastecimento do insumo para tratar pacientes.

Esse é um dos temas investigados pela CPI da Covid. Ele diz que está à disposição da comissão e
que se chamado prestará esclarecimento. Almeida Filho foi investigado no caso da compra de respiradores no estado. A PF não indiciou o vice sob a alegação de falta de provas, mas a Procuradoria-geral da República o denunciou por organização criminosa.

Leia a entrevista com Almeida Filho:

Acusação de organização criminosa pela Procuradoria Geral da República:

Legalmente falando, temos alguns problemas. A acusação por organização criminosa exige demonstrar a integração do agente dentro da organização, isso não foi mostrado na denúncia, não pode ser só palavras, mas por provas. A subprocuradora apontou que isso seria provado nos documentos anexos da denúncia, e o que está anexado é o relatório da Polícia Federal.

A PF, em 448 páginas, analisa minha conduta, esquadrinha minha vida, fez isso através até de busca e apreensão, e concluiu que eu não sou responsável pelos atos que foram praticados. O MPF poderia ter discordado da PF se tivesse feito uma investigação paralela e, para fazer, teria que ser autorizada para fazer. E, também, se tivesse explicado a discordância em relação à PF. A denúncia usa trechos que excluem minha responsabilidade.

Rompimento com Wilson Lima

Estou rompido com o governador desde 18 de maio de 2020. Em carta pública, disse que não estaria mais no governo. Porque não concordava com pessoas estranhas dentro da administração. Me mudei e abri o caminho para investigação.

Meu comportamento sempre foi de gestor, não concordava com nenhuma medida de irregularidade. Justamente no momento que tomei ciência das denúncias, por causa da compra escandalosa de respiradores, entendi que minha posição seria de não estar mais junto no governo do estado.

Responsabilidade do governo federal

Quando o ministro chegou para resolver o problema, ele já estava criado. Mas que problema é esse? A política de contaminação para ter imunidade de rebanho. Se dizia no Amazonas que o convívio e contaminação geraria isso. Essa era política anunciada pelo próprio governo federal.

Mas nesse ponto, o que se mostra é que o tiro saiu pela culatra, ocorreu a gestão de uma cepa mais contundente. Isso é por inação do governo estadual, mas também por causa de uma política do governo federal.

CPI da Covid no Senado

Não tenho a menor objeção em relação a isso. Mas como a condução da CPI é dos parlamentares, estou sempre à disposição para prestação dos esclarecimentos, assim como fiz na Justiça.

Crise oxigênio e alinhamento de Wilson Lima com governo Bolsonaro

Essa responsabilidade é muito clara, é do próprio governo do Amazonas. Quando houve envolvimento do governador na operação em junho, com muita contundência, com pedido de prisão, a estratégia dele explícita foi mostrar alinhamento com as políticas de combate à pandemia do governo federal.

E pra isso, contrariamente às medidas sanitárias que deveriam ser aplicadas, o Amazonas deixou de tomar as medidas e deixou a P1 ser gerada (cepa do coronavírus). Quem diz isso são os especialistas, a P1 foi gestada entre outubro de novembro, quando se cobrava do governador medidas de contenção.

Uma coisa era clara, a política era de afirmar que se tinha uma imunidade de rebanho. O que acabou acontecendo foi um laboratório, a P1 encontrou ambiente adequado. Porque as políticas de saúde naquele momento poderiam implicar em enfrentamento às políticas do governo federal, poderia enfraquecer o governador mediante a exposição criminal.

Isso ficou explícito na presença constante dele em Brasília nesse meio tempo, tentando buscar socorro ou no mínimo uma simpatia política no caso de algo mais grave.

Falta de oxigênio

Se esperou a água bater no pescoço para a tomada de alguma medida, quando o governo federal foi acionado o caos já estava acontecendo. Não foi chamado antes por uma questão simples, o governador não queria demonstrar que havia má administração, que ficou patente na investigação sobre a compra de respiradores, por exemplo.


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