Amazonas
AM teve, este ano, 29 mortes de crianças cardiopatas na fila da cirurgia, diz associação
Atualmente, os pais de mais de 200 crianças ainda aguardam na fila, com esperança de que a Justiça possa resolver a situação crítica.
Neste ano, 29 crianças com doenças no coração morreram na espera de um procedimento cirúrgico no Amazonas, segundo a Associação dos Cardiopatas. Atualmente, os pais de mais de 200 crianças ainda aguardam na fila, com esperança de que a Justiça possa resolver a situação crítica. A notícia foi publicada no G1 Amazonas, com informações da Rede Amazônica de Televisão.
O último caso de morte registrado foi a de Talita Valentina, no último dia 17. Ela aguardava por uma cirurgia no coração, em Manaus, desde o primeiro dia de vida. No dia 8 de novembro, a família conseguiu na Justiça o direito a uma cirurgia cardíaca. O Estado deveria providenciar o procedimento, sob pena de multa diária de R$ 5 mil. Caso não tivesse condições de realizar o procedimento, deveria encaminhar a criança um hospital particular. Valentina morreu nove dias depois.
Ao G1, a Secretaria de Estado de Saúde (Susam) informou que “na ocasião da notificação judicial, a capacidade instalada do Hospital Francisca Mendes estava no máximo de sua ocupação com crianças igualmente graves, tanto no pré quanto no pós-operatório. Diante da situação, a secretaria buscou a contratação de vaga na rede privada, porém a criança veio a óbito antes de concluído o processo”.
A avó da menina, Marilene da Costa, lamentou a fatalidade. “A demanda é muito grande e a gente não quer que aconteça mais isso. Tem que parar”, pediu.
Ayla Lemos, uma outra menina que completaria um ano e quatro meses neste mês, morreu no dia 30 de novembro. Segundo a família, ela aguardou por meses a cirurgia, mas, quando o estado atendeu a determinação da Justiça, ela contraiu duas infecções no Hospital Francisca Mendes e não pôde ser operada. Depois de conseguir tratar as infecções, conseguiu, por meio de doação, fazer a cirurgia num hospital particular, mas não resistiu ao pós-operatório. O pai, Aldecy Lemos, disse que “quando ela foi operar, já estava com o coração muito inchado. Era um coração sofrido, de muita luta”.
De acordo com o presidente da Associação dos Pais de Crianças Cardiopatas do Amazonas, Dione Carvalho, o Estado não tem cumprido as decisões judiciais. “A partir do momento em que ele nega, se omite, em cumprir uma liminar, ele está matando, assassinando. Este é o termo correto”, pontuou.
A diretora do departamento de saúde da capital, Nayara Maksoud, disse que o governo tenta atender a demanda da justiça, mas esbarra na falta de leitos, material e de gente. “As medidas judiciais são olhadas com prioridade dentro da secretaria, mas, para serem executadas, precisa ser levado em consideração a capacidade instalada que tem para que essa medida seja colocada em prática”, informou.
O Hospital Francisca Mendes tem oito leitos de UTI, sendo cinco infantis e três neonatais. No entanto, o ideal no momento seriam pelo menos 16 leitos. “Dentro de um hospital que trabalha com alta complexidade, a inexistência ou paralisação de um leito de UTI, representa a paralisação de cirurgias. Não adianta ter leito cirúrgico e não ter leito de UTI. Dessa forma, eu não posso operar a criança”, disse Nayara Maksoud.
De acordo com uma promotora citada pelo G1, o Francisca Mendes passou por mudanças na fila de prioridade para atendimento dos cardiopatas e o material disponível é que dita quem vai ser atendido. “Eles desconsideram a classificação de risco do mais grave e passa a adotar uma classificação de material existente para conseguir fazer o procedimento”, explicou. Além da complexidade das doenças, existem ainda as questões administrativas no setor público. Quase sempre o tempo da burocracia é maior que o tempo que as crianças têm para serem submetidas ao procedimento cirúrgico e, nessa espera, muitas crianças não resistem.
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