Amazonas
“Achei no mínimo deselegante”, diz diretora da Fiocruz Amazônia, sobre revogação de medalha
Bolsonaro revogou medalha do Mérito Científico concedida a Adele Benzaken, pesquisadora e consultora na área de Aids e outras ISTs.
A diretora da Fiocruz Amazônia, Adele Benzaken, considerou “deselegante” a atitude do presidente Bolsonaro de revogar a ela a concessão da medalha do Mérito Científico.
“Sob o ponto de vista pessoal, eu achei no mínimo deselegante essa revogação”, disse a pesquidora, em entrevista a O Antagonista. “Não tive a oportunidade de dizer se eu gostaria ou não de ser homenageada pelo atual governo”.
Médica formada pela Universidade Federal do Amazonas, Benzaken é doutora em Saúde Pública pela Fiocruz e tem longa carreira na área de HIV/Aids e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). É parecerista e publicou artigos em algumas das principais revistas científicas do mundo, entre elas a PLOS Medicine e a Sexually Transmitted Infections.
Apesar disso, a pesquisadora contou ter sido “uma grande surpresa” sua indicação para a medalha. “Essa indicação, pelo que eu sei, foi realizada em 2019 e somente publicada agora”, acrescentou. “Eu só soube ontem [quinta-feira, 4], quando da publicação no Diário Oficial”.
A comissão técnica responsável por indicar os agraciados com a Ordem do Mérito Científico é formada por nove pessoas, sendo três representantes da Academia Brasileira de Ciências (ABC), três da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e três indicados pelo ministro da Ciência e Tecnologia – hoje, Marcos Pontes.
Em janeiro de 2019, no começo do governo Bolsonaro, Benzaken foi demitida da diretoria do então Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV/Aids e das Hepatites Virais (DIAHV) do Ministério da Saúde. Na época, ela contou à imprensa ter sido demitida por causa da publicação da cartilha Homens Trans: vamos falar sobre prevenção de infecções sexualmente transmissíveis?.
“Eu acho que a minha exoneração foi um indicativo de que o que eu vinha fazendo possivelmente não se encaixava dentro da política que o novo governo gostaria de instituir”, afirmou a professora a O Antagonista. Segundo ela, o então secretário Wanderson de Oliveira, da administração Mandetta, disse que a cartilha tinha linguagem “inadequada” e “chula”.
“Quando [a gente] fala de prevenção, você tem que falar ‘pênis’, ‘vagina’, ‘ânus’ – você tem que dar o nome às genitálias, então isso para mim não é linguagem chula, isso é uma linguagem científica e uma linguagem direta de tratar o tema”, disse Benzaken. “Num país, hoje, quando nós temos a ciência muito partidária e politizada, o efeito disso vai para além de medalhas e homenagens (…) O que nós devemos pensar é o quanto esse tipo de atitude prejudica as políticas para os mais vulneráveis”.
No fim de 2018, já anunciado como ministro da Saúde, Mandetta deu entrevista em que disse o governo precisava adotar políticas de prevenção de ISTs “sem ofender as famílias, sem ofender aqueles que entendem que isso possa ser uma invasão do Estado em seu ambiente familiar”.
Não deixe de curtir nossa página no Facebook, siga no Instagram e também no X.
Faça um comentário