Amazonas
Foto montada com indígenas do Amazonas vira propaganda do islã na Turquia, informa site
O site Metrópoles informou que foto de turco que doutrina indígenas em aldeia para turistas é usada como propaganda religiosa no exterior. “Índios correm para o islã”
Morador da cidade turística de Antalia, na Turquia, o autônomo Ali Akın costuma usar suas redes sociais para apoiar obras de divulgação do islamismo pelo mundo.
Há mais de quatro anos, em abril de 2019, ele publicou em sua página no Facebook uma foto (em destaque) de um homem turco de bigode, sentado com uma criança indígena brasileira no colo, ao lado de outros dois homens também indígenas brasileiros.
As informações são do site Metrópoles.
A legenda da imagem dizia o seguinte, na língua turca: “Os índios correm para o islã com suas roupas locais”.
O homem de bigode da foto é Abdulhakim Tokdemir, fundador da Associação Solidária Humanitária do Amazonas (Asham), organização que entre 2019 e 2023 levou dezenas de crianças e adolescentes indígenas da Amazônia para internatos religiosos islâmicos em Manaus, São Paulo e até para fora do país, na Turquia.
Essa situação foi revelada por reportagem do Metrópoles publicada em abril. Os indígenas levados por esse grupo são de diferentes etnias da região de São Gabriel da Cachoeira (AM), a cidade mais indígena do país, na fronteira da Colômbia com a Venezuela.
O site informa que o internato ilegal de Tokdemir, que funcionava em Manaus, foi fechado pelas autoridades brasileiras e, após a reportagem, os cinco indígenas que viviam na Turquia voltaram para o Brasil.
A foto de Abdulhakim Tokdemir ao lado de dois homens indígenas e com uma criança indígena no colo foi tirada na Aldeia Tuyuka, próximo a Manaus (AM).
Essa aldeia, segundo o Metrópoles, funciona como um ponto turístico, onde indígenas se vestem de forma tradicional e apresentam danças para visitantes que pagam pelo entretenimento.
“É apenas para a visitação. A gente estava mostrando como era antigamente, não é realidade. Digamos assim, a gente tira uma coisa do passado para mostrar aos turistas como a gente morava anos atrás. Ninguém anda do jeito que está na foto mais”, explicou ao Metrópoles um dos indígenas que aparece na fotografia, o controlador de hotel José de Arimatéia, de 33 anos. É o filho dele que está no colo de Tokdemir.
Arimatéia relatou que não fazia ideia de que fotos de sua família estavam sendo usadas para propagandear missões islâmicas turcas. Ele contou que Tokdemir chegou a oferecer seu internato para os indígenas da Aldeia Tuyuka, com a promessa de educação, mas ninguém teria aceitado a proposta.
O próprio Abdulhakim Tokdemir, diz o site, já disse para a reportagem, em março deste ano, que mostrou fotografias das suas ações humanitárias no Brasil para amigos e familiares turcos que se sensibilizaram com as imagens e patrocinaram suas atividades. O autônomo Ali Akın afirma também nas redes sociais que já custeou uma criança de outro país por um ano.
Uma outra foto que circula nas redes sociais é a de Abdulhakim Tokdemir em pé ao lado de três crianças indígenas vestidas com camisas e dois indígenas adultos com roupas tradicionais.
A legenda da imagem diz: “Na Amazônia, nossos alunos nativos americanos foram visitar seus pais com seus professores. Não estávamos brincando quando dissemos que difundiríamos o islã mesmo em tendas cabeludas. O serviço está além do pensamento!”.
Segundo Arimatéia, essa foto também foi tirada na aldeia turística e uma das pessoas na fotografia é seu primo.
Na época em que essas fotografias foram tiradas, Abdulhakim Tokdemir ainda tentava se aproximar de povos indígenas da Amazônia para levar crianças e adolescentes até seu internato.
Em 2019, ele conheceu um indígena da etnia Pira-Tapuya, que acabou trabalhando como uma espécie de atravessador e conseguiu alunos para o grupo islâmico.
A reportagem entrou em contato com Abdulhakim Tokdemir e não obteve resposta até a publicação desta matéria. A reportagem tenta contato com Ali Akın.
Neste domingo (23/07), o programa Fantástico, da Rede Globo de TV, informou que Investigações da Polícia Federal apontam que os indígenas que eram cooptados por uma organização criminosa de tráfico humano em São Gabriel da Cachoeira, no interior do Amazonas, eram forçados a professar a religião islâmica.
Segundo as investigações, os suspeitos, de origem turca, iam até uma comunidade rural do município para aliciar famílias em situação de vulnerabilidade social a autorizarem o envio de seus filhos para estudarem na Turquia. De São Gabriel, os jovens eram transportados para Manaus, onde começavam a ser doutrinados e viviam em situação de servidão. Em seguida, eles eram levados para São Paulo e enviados para o país mulçumano.
À Rede Amazônica, o superintendente da Polícia Federal (PF) no Amazonas, Umberto Ramos, afirmou que os jovens eram obrigados a aprender sobre a religião islâmica e a professar a fé naquela crença.
“Os jovens, quando pisavam em Manaus, eram levados para a sede dessa associação, onde tinham obrigações diárias, que começavam 5h com as obrigações de ritos religiosos. Esses ritos, inclusive, eram totalmente diferentes das crenças religiosas deles. Depois eles eram obrigados a fazer manutenção do abrigo, como a limpeza do ambiente, faziam as refeições e, ao final do dia, também tinha mais obrigações religiosas”, disse.
Após saírem de Manaus, os jovens eram levados para São Paulo, onde passavam por mais uma rodada de imposições religiosas e recebiam novos nomes, sendo proibidos de mencionarem os nomes antigos.
“Eles eram obrigados a estudar o islamismo, obrigados a professar a religião islâmica, sendo que no processo de oferta da proposta a um pai, a uma mãe, no interior de São Gabriel da Cachoeira, esse cenário não era apresentado. Era feita uma proposta de estudo na Turquia, a fim de que eles pudessem se tornar médicos, advogados, teólogos, engenheiros, quando na verdade era um processo servidão, imposição religiosa, doutrinação religiosa”, explicou o superintendente da PF.
Ainda segundo Ramos, alguns jovens cooptados pela organização chegaram a ficar presos por três semanas na Turquia, por documentação irregular, e foram deportados. A partir dos depoimentos deles, a PF espera identificar a real intenção do grupo religioso. “A gente trabalha para identificar o que foi feito durante todo esse período, para que a gente possa saber qual o objetivo principal dessa cadeia de ações, que culmina num processo de aliciamento em São Gabriel da Cachoeira dessas crianças e jovens”, afirmou.
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