Brasil
Ataque a tiros na terra Yanomami, em Roraima, deixa uma criança morta e cinco feridos
Este não é o primeiro ataque que se tem notícia desde o início da operação de desintrusão do garimpo ilegal na TI Yanomami.

Indígenas yanomâmi acompanham operação contra o garimpo. (Foto: REUTERS/Bruno Kelly)
Um ataque a tiros na aldeia Parima, que fica dentro da Terra Indígena Yanomami (Roraima), deixou cinco feridos e uma criança morta nesta segunda-feira (3). As informações são do jornal Folha de São Paulo.
No local fica uma base de apoio da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), que prestou atendimento aos feridos —dentre os quais há crianças e adultos, inclusive em estado grave.
Após a notificação do ocorrido, agentes da Polícia Federal e servidores da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), da Força Nacional, da Força Nacional de Saúde Pública, além de militares, se deslocaram até o local.
Ainda não se sabe o motivo do ataque ocorrido nessa segunda-feira, mas pessoas ouvidas pela Folha sob condição de anonimato afirmam que, na última semana, a região foi alvo de uma operação de combate ao garimpo ilegal.
Também afirmaram que a aldeia de Parima tem disputas históricas com outras comunidades da área.
A aldeia de fica próxima ao batalhão de fronteira de Surucucu, do Exército, e também perto da fronteira com a Venezuela.
Este não é o primeiro ataque que se tem notícia desde o início da operação de desintrusão do garimpo ilegal na TI Yanomami, no início do ano, que começou após o presidente Lula (PT) viajar ao local e o Ministério da Saúde decretar estado de emergência sanitária na região.
Os agentes de saúde que visitaram o local em janeiro encontraram as bases da Sesai desabastecidas de medicamentos e alimentos, sucateadas, com fezes e alta incidência de desnutrição e malária entre os indígenas, consequência direta da exploração ilegal do ouro no território.
O garimpo ilegal na terra Yanomami quase triplicou em 2022 na comparação com 2020 —quando teve início o monitoramento feito pela Polícia Federal na região.
Segundo a PF, o garimpo ocupava 14 km² do território em 2020, passou para 23,7 km² em 2021 e para 41,8 km² em 2022 —um crescimento de 76% em um ano e de 198% desde o início do monitoramento.
O governo de Jair Bolsonaro (PL) incentivou a atividade, sucateou as agências as instâncias de proteção e combate à exploração ilegal e inclusive propôs um projeto de lei para regulamentar o garimpo nos territórios indígenas.
As ações de repressão são encabeçadas, sobretudo, pela Polícia Federal e pelo Ibama (Instituto Brasileiro dos Recursos Naturais e Renováveis), com auxílio da PRF (Polícia Rodoviária Federal) e da Força Nacional.
Há mais de um mês não eram registrados ataques ou confrontos no território Yanomami. Agora, sobe para 15 o total de mortos desde o início da operação de desintrusão.
O último episódio de violência aconteceu no final de abril, nas proximidades de Uxiú, e marcou o ponto de maior tensão desde o início das operações, quando garimpeiros mataram um indígena a tiros e balearam outros dois.
Nos dias seguintes, mais nove corpos foram encontrados na região.
Antes, em outro ponto do território, equipes da PRF (Polícia Rodoviária Federal) e do Ibama foram recebidas a tiros quando chegavam em um garimpo para uma ação de repressão ao crime organizado. Quatro garimpeiros foram mortos pelos agentes de segurança e foi encontrada grande quantidade de armamento no local.
É mais próximo das regiões fronteiriças que sobrevivem os últimos garimpos ativos dentro do território Yanomami.
Pessoas envolvidas nas ações afirmam, sob anonimato, que o perfil de atuação dos garimpeiros se adaptou, com trabalho noturno, acampamentos dentro da mata e até com equipamentos ficando enterrados durante o dia para dificultar a fiscalização.
Segundo essas pessoas, os garimpeiros se entocaram em pontos que ficam até cinco quilômetros dentro da mata e também estão nas regiões de fronteira, o que facilita o escape para outro país, onde as forças de segurança brasileiras não podem atuar.
Neste mês, o governo Lula publicou um decreto que autoriza as Forças Armadas a também atuar em atividades de combate à atividade ilícita.
Até então, os militares prestavam ajuda humanitária, com distribuição de cestas básicas e de insumos (como medicamentos e combustível), logística (transporte de tropas e planejamento) e inteligência (por exemplo, com uma aeronave com capacidade de fotografar os garimpos).
A intenção agora é, junto com outros órgãos que atuam na área, ocupar o território yanomami com novas bases e com equipes passando dias na floresta.
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