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Brasil

Impactos do novo coronavírus geram preocupação para economia do Brasil

Além de importante comprador de commodities brasileiras, a China também tem papel relevante como fornecedor para a indústria local

A disseminação do novo coronavírus, que já matou mais de 1.100 pessoas na China, preocupa o mundo não só pelas questões sanitárias, mas pelo impacto na economia global. Matéria da BBC Brasil mostra que as primeiras projeções apontam uma desaceleração da economia chinesa — com os bancos UBS e Itaú revisando a estimativa para o crescimento do país em 2020 de 6% para 5,4% e 5,8%, respectivamente.
Desde a epidemia de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), em 2003, a participação chinesa no Produto Interno Bruto (PIB) global saltou de 4% para 16%.
Nesse intervalo, o país se tornou principal destino das exportações brasileiras — viu sua participação no valor total embarcado avançar mais de quatro vezes, de 7,1% em 2003 para 29% em 2019, de acordo com os dados do Ministério da Economia. Revisões para baixo no PIB chinês geralmente afetam o Brasil.
Além de importante comprador de commodities brasileiras, a China também tem papel relevante como fornecedor para a indústria local, especialmente a de produtos eletroeletrônicos.
De acordo com a consultoria Oxford Economics, as exportações chinesas de bens intermediários no segmento eletroeletrônico respondem por mais de 10% da produção global desses produtos.
Na prática, isso significa que, além dos bens acabados exportados pelo país, a China também vende chips, circuitos integrados e outras partes e peças que vão se tornar celulares, máquinas de lavar, televisores e diversos outros eletrônicos em outros países. “Assim, além da queda da demanda chinesa (por bens importados de outros países), uma retração acentuada da atividade industrial no país pode causar um rompimento nas cadeias de fornecimento em outras regiões”, afirmam os economistas Ben May e Stephen Foreman em relatório.
Segundo a Eletros, que representa algumas das maiores empresas do setor eletroeletrônico no Brasil, a China é fornecedor importante de componentes para fabricantes de produtos da linha branca (fogões, geladeiras, máquinas de lavar), linha marrom (equipamentos de áudio e vídeo) e eletroportáteis (secadores de cabelo, sanduicheiras, ventiladores).
A entidade “considera preocupante a instabilidade na cadeia logística de importação de insumos produzidos na China” — ou seja, a possibilidade de desabastecimento, especialmente dos componentes de maior valor agregado, que costumam chegar ao Brasil por via aérea. Nesse caso, de acordo com a Eletros, o estoque atual é suficiente para abastecer o setor por algo entre 10 e 15 dias.
Uma sondagem realizada com 50 indústrias por outra entidade representante do segmento, a Abinee, apontou que 52% já apresentavam problemas no recebimento de materiais, componentes e insumos vindos da China.
No caso específico do Brasil, as empresas de eletrônicos já estão com as margens de rentabilidade apertadas por conta da recessão e, com o aumento do dólar, enfrentam um aumento de custo de insumos importados.

Do lado da exportação, o principal impacto de curto prazo tem sido nos preços das principais commodities vendidas pelo Brasil. As cotações da soja, do petróleo e do minério de ferro vêm acumulando queda desde que os primeiros casos da doença foram confirmados, diante do temor de uma desaceleração da economia chinesa.
A soja representa cerca de 30% de tudo o que o Brasil exporta para a China, seguido de petróleo (24%) e minério de ferro (21%).
Esse efeito sobre os preços pode ser temporário, diz Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, a depender do período de duração do surto.
Bartolomeu Braz, presidente da Aprosoja, que representa os produtores da commodity, afirma que os contratos de compra e venda de soja são fechados com meses de antecedência e que, por isso, as vendas nos próximos meses para a China estariam asseguradas.
Mas ele reconhece uma “pequena preocupação de que o surto se estenda muito além deste primeiro trimestre e que a economia desacelere mais, o que poderia afetar a demanda.
Por outro lado, de acordo com a agência Reuters, o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, avalia que a combinação de peste suína africana, coronavírus e gripe aviária, que tem afetado granjas em algumas regiões em quarentena, poderia impulsionar a demanda chinesa por carne brasileira.


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