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Mudanças climáticas empurram corais e Amazônia a limite crítico, diz estudo

Na pesquisa, os cientistas avaliam o conhecimento já produzido por pesquisadores para tentar estimar os pontos de não retorno climático.

Hoje, estima-se que a floresta já tenha perdido cerca de 20% de sua extensão. (Foto:Bruno Kelly)

Um estudo publicado por 12 pesquisadores de Brasil, Canadá, China, Estados Unidos e Reino Unido indicou que as aceleradas mudanças climáticas estão levando dois ecossistemas brasileiros —os recifes de coral e a Floresta Amazônica— a se aproximarem de um limiar crítico.

Na pesquisa, os cientistas avaliam o conhecimento já produzido por pesquisadores para tentar estimar os chamados “tipping points”, ou pontos de não retorno climático —quando as mudanças causariam um impacto irrecuperável aos sistemas.

O artigo de revisão (que reúne publicações de um determinado tema) foi divulgado na quarta-feira (8) no periódico Reviews of Geophysics e pode ser lido aqui. No texto, eles analisaram os problemas gerados pelas mudanças climáticas em dez ecossistemas e que terão grande impacto no planeta.

” Os elementos de ruptura são partes do sistema terrestre que podem mudar drasticamente de seu estado original, seja rapidamente ou ao longo dos séculos, se um certo limite ou limiar for ultrapassado. Tais mudanças podem causar impactos adicionais em outros sistemas terrestres.”, afirma Seaver Wang, do Institut The Breakthrough (EUA) e autor principal do estudo.

Recifes de coral em risco

Para os cientistas, o ritmo do aquecimento dos oceanos vai intensificar as pressões sobre os corais de recife rasos e causar danos. Segundo os estudos feitos até aqui, nos últimos 30 anos as temperaturas médias globais da superfície do mar aumentaram 0,015°C por ano —e deve acelerar para uma média de 0,027°C por ano até 2090. Os recifes rasos são ecossistemas fundamentais para a produtividade da pesca, que sustenta comunidades no país e também fornecem ação natural contra a erosão costeira.

Segundo o novo artigo:

Os recifes de coral demonstraram uma capacidade limitada de se adaptar ao estresse de temperatura e se recuperar, caso as condições melhorem.
A degradação dos recifes continuará ao longo do século, mesmo sob cenários otimistas, com a quantidade diminuindo para 10% a 30% dos níveis atuais.
Para se adaptar, os recifes precisariam ter capacidade de se aclimatar a mais de 2°C até o final do século 21, ritmo de adaptação provavelmente extremo demais para eles.
O derretimento de geleiras elevam os níveis dos oceanos e poderão causar afogamento dos recifes, como foi visto em outras eras do planeta.

Amazônia em risco

Outro bioma em risco pelas mudanças climáticas é a floresta amazônica. Hoje, estima-se que a floresta já tenha perdido cerca de 20% de sua extensão de área. Segundo a análise dos pesquisadores, a precipitação na floresta vem caindo e a duração da estação seca vem crescendo. Esses, diz, são pontos “diretamente ligados à saúde de um sistema de floresta tropical.” A água representa uma variável chave para avaliar o futuro da Amazônia.”

O estudo ressalta que:

A duração da estação seca aumentou no sul e oeste da Amazônia e houve aumento do contraste entre a estação seca e chuvosa.
O número de meses com déficit hídrico cresceu e a temperatura aumentou de 1,6 e 2,5°C do oeste para o sul da Amazônia entre os meses de agosto e outubro nos últimos 40 anos.
Modelos apontam que um aumento de temperatura entre 3° e 4°C, ou diminuição da precipitação de 30% a 40% seriam os limites capazes de iniciar o ponto de não retorno.

Para os pesquisadores, é necessária uma política de manejo florestal para “determinar o futuro da Amazônia” e não deixar que ela se transforme em uma savana. “Sob as pressões atuais, no entanto, a floresta amazônica enfrenta sérias ameaças neste século, com consequências regionais e globais significativas que acompanham sua degradação.”

Pesquisadora faz alertas

Segundo a pesquisadora e uma das autoras do estudo, Liana Anderson, do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), o objetivo era avaliar as pesquisas já feitas para tentar saber se há possibilidade de prever limiares de pontos de não retorno e quando serão sentidos.

Para ela, no caso da perda dos recifes de coral de águas rasas, já existe um nível de conhecimento científico alto. “Isso nos traz um limiar de que, se a temperatura aumentar mais 1,5°C, os impactos serão dramáticos. Isso pode ocorrer em algumas décadas.”

No caso da Amazônia, ela diz que ainda é necessário um maior entendimento sobre as consequências das mudanças climáticas para cravar um um ponto de não retorno —isso pode ocorrer em décadas ou em séculos. “É mais lento que os corais, mas ocorrerá.”

A cientista alerta que isso ocorrendo, os impactos seriam brutais não apenas para o bioma. “A Amazônia é como uma bomba de água que a devolve à atmosfera, alimentando chuva em outras áreas do Brasil e na América do Sul. ‘Quebrando’ essa bomba, você diretamente diminui a quantidade de chuva em regiões que têm importância econômica grande, como os cinturões de plantações de Brasil, Uruguai e Argentina”, diz a cientista.

Ela destaca que os impactos dessas mudanças, somados a desmatamento e degradação florestal causada pelo fogo, corte de madeira e mineração no bioma, já causam prejuízos. “Isso tende a se intensificar ao longo do tempo.” Liana finaliza dizendo que os impactos não podem ser exatamente previstos também porque não há como saber como o fim da Amazônia como a conhecemos hoje, por exemplo, impactaria outros sistemas ambientais.

Você mexendo em um desses elementos, pode criar um efeito cascata, e um levaria a outro, mas a gente não sabe como isso poderia ocorrer. Temos um baixo conhecimento científico dessa interconexão dos processos.”

As informações são do site UOL.


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