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Brasil

Ramificações de crimes ambientais na Amazônia atingem 24 Estados, aponta estudo

Estudo do Instituto Igarapé mostra que efeitos dos ilícitos se espalham por 254 cidades do país e incluem fraudes, crimes financeiros e tributários, tráfico de drogas e de pessoas, além de lavagem de dinheiro.

O crime ambiental na bacia amazônica está espalhado por 24 Estados e 254 cidades do Brasil. As ramificações da extração ilegal de madeira, mineração ilegal, agricultura e pecuária com passivo ambiental e desmatamento se relacionam com fraudes, crimes financeiros e tributários, tráfico de drogas e de pessoas, lavagem de dinheiro, corrupção e organizações criminosas, posse de explosivos e crimes violentos. As informações são do jornal Valor Econômico.

Os dados fazem parte de uma análise extensa de mais de 300 operações da Polícia Federal de repressão ao crime ambiental na Amazônia Legal entre 2016 e 2021, feita por pesquisadores do Instituto Igarapé, um think-tank independente que se dedica à integração da temática de segurança, clima e desenvolvimento.

As ramificações do que os pesquisadores chamam de “ecossistema do crime” chegam a 24 dos 27 Estados brasileiros com exceção de Alagoas, Pernambuco e Paraíba, na análise de dados das operações da Polícia Federal.

O Pará é o Estado que mais aparece no mapeamento, com 83 operações da PF. Rondônia ficou em segundo e o Amapá, em terceiro. Na outra ponta, fora da Amazônia, o Estado de São Paulo é o que mais aparece seguido pelo Paraná e Goiás. “São Paulo é um grande hub de conexões do que está acontecendo na bacia amazônica”, diz a cientista política Ilona Szabó de Carvalho, presidente do Instituto Igarapé.

As operações tiveram desdobramentos internacionais na Guiana Francesa e Venezuela, Suriname, Colômbia, Paraguai e Bolívia.

O lugar do crime ambiental é a Amazônia Legal que sofre com impactos socioambientais e econômicos, mas os desdobramentos ultrapassam suas fronteiras, diz a nota à imprensa. “Quando se observa como estas atividades se desdobram nos territórios e em outros crimes, aparecem não só múltiplos atores como múltiplos crimes”, diz Ilona Szabó. “Não tem como essas economias ilícitas operarem sem o setor privado e o setor financeiro estarem envolvidos”, continua a cientista política.

“São CNPJs que compram estes produtos com passivo ambiental enorme, cadeias de suprimento sujas com ilegalidades e muitas violações aos direitos humanos.” Ela lembra que no caso da pecuária, por exemplo, hoje a pressão para exportar carne livre de desmatamento força a rastreabilidade da cadeia. “Mas em muitas outras não há esta preocupação e isso faz com que os recursos da economia ilícita sejam ‘lavados’ na economia formal”, diz.

As rotas do crime ambiental amazônico descritas “mostram a complexidade das cadeias produtivas com passivo de desmatamento e permeadas por outros ilícitos ambientais e não-ambientais”, diz o texto de “Territórios e Caminhos do Crime Ambiental na Amazônia Brasileira: da floresta às demais cidades do país”.

Segue o estudo: “Mostram, por um lado, que as cadeias atingem o coração da floresta para além do tradicional ‘arco do desmatamento’ e, por outro, saem das áreas de floresta e alcançam centros urbanos e outros hubs do crime ambiental no espaço amazônico antes de seguir com suas cadeias produtivas contaminadas para outras localidades do país e ao exterior”.

“O Brasil é responsável pelo o que acontece na Amazônia. Estamos vendo apenas a ponta do iceberg”, resume. As operações da PF se concentram em áreas protegidas e em terras indígenas (45%). Mas a grande pressão do desmatamento e grilagem de terras acontece em terras devolutas e não destinadas. “A natureza não vai à delegacia prestar queixa. Estes dados são de onde a polícia resolveu atuar. Dão uma visão do que está acontecendo”, esclarece.

O Instituto Igarapé não tem por objetivo fazer denúncias, diz sua co- fundadora. A intenção do estudo, que faz parte de uma série, é entender melhor a dinâmica, o escopo e a escala dos crimes ambientais na Amazônia. A partir daí, a intenção é ajudar a promover melhores políticas públicas. “Precisamos de ações urgentes do setor público e também privado”, diz. “Temos pouco tempo para frear o que está acontecendo e isso quer dizer arriscar o futuro do país. É colocar em risco a segurança climática, hídrica, humana e o potencial do Brasil, de ser uma potência com florestas”, diz ela.

Considerando as atividades econômicas ilícitas investigadas pela PF, o caso da madeira é o que mais possui territórios mapeados (366), sendo 87% na Amazônia e 13% fora dela. Há conexões a esta atividade em 23 Estados e 166 municípios. No caso da mineração ilegal são mais de 350 territórios mapeados, sendo 80% na Amazônia e 20% espalhados pelo país ou em países da fronteira. Entre as cidades em destaque estão Alto Alegre (RR), Ourilândia do Norte, Itaituba e Jacareacanga, no Pará. São Paulo é o destaque fora da região. “Não é verdade que se não há comando e controle, as empresas não têm o que fazer. Há muitos dados disponíveis. É preciso fazer matriz de risco territorial. E fazer perguntas: de onde vem este ouro, esta carne, esta madeira?”, diz Ilona.


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