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Amazonas

Vírus da Covid é detectado em veado-galheiro que vive nos EUA e no norte da Amazônia

Dos quase 400 animais avaliados pelos cientistas, 35% carregavam o vírus Sars-CoV-2. A preocupação é que, no longo prazo, o mamífero acabe se tornando um reservatório natural do patógeno.

Os dados da pesquisa reforçam a necessidade de acompanhar a trajetória do Sars-CoV-2 em outras espécies. (Foto:Reprodução)

Pesquisadores americanos detectaram a circulação do vírus causador da Covid-19 numa população selvagem do veado-galheiro (Odocoileus virginianus), espécie muito comum na América do Norte. De acordo com a pesquisa, o animal também pode ser encontrado em certas regiões do Brasil, como áreas mais isoladas e com baixa densidade populacional, com vegetação mais aberta a norte do rio Amazonas, em Roraima e no Amapá.

Dos quase 400 animais avaliados pelos cientistas, 35% carregavam o vírus Sars-CoV-2. A preocupação é que, no longo prazo, o mamífero acabe se tornando um reservatório natural do patógeno, a partir do qual novas formas do vírus poderiam voltar para o ser humano.

Os dados acabam de ser publicados em artigo na revista científica Nature. A equipe liderada por Andrew Bowman, da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Estadual de Ohio (EUA), monitorou os veados-galheiros da região nordeste do estado americano, obtendo amostras nasais dos bichos entre janeiro e março de 2021, em nove localidades diferentes.

O potencial do Sars-CoV-2 para infectar outros mamíferos além do homem já é bem conhecida em laboratório.

Em estudos experimentais, o vírus se mostrou capaz de parasitar o organismo de espécies como hamsters, guaxinins, furões, morcegos, coelhos e diversas espécies de primatas (mesmo grupo ao qual pertence o Homo sapiens). Outros experimentos revelaram que alguns desses animais conseguem transmitir o vírus para outros membros de sua espécie.

A nova pesquisa americana, porém, é importante por identificar evidências de que a transmissão não só ocorreu dos seres humanos para animais em estado selvagem como parece estar se mantendo entre os bichos na natureza.

Para chegar a essa conclusão, Bowman e seus colegas fizeram testes de RT-PCR (que identificam a presença do material genético viral) e também analisaram as “letras” químicas dos genes do vírus em diversas amostras, comparando-as com o que se sabia sobre o genoma das formas de Sars-CoV-2 que estavam circulando na população humana de Ohio na mesma época.

Essa comparação equivale a um teste de parentesco: as variações nas “letras” dos genes virais, que vão se acumulando conforme o vírus se multiplica nas células de seus hospedeiros, ajudam a montar a genealogia da transmissão, ou seja, como e quando o patógeno saltou das pessoas para os animais.

As pistas trazidas por essa comparação de genomas indicam que a transferência do vírus da Covid de seres humanos para o O. virginianus aconteceu em seis eventos diferentes (ou seja, ao menos seis momentos distintos em que uma pessoa transmitiu o Sars-CoV-2 para um indivíduo da espécie), algo que provavelmente coincidiu com o pico da pandemia durante o inverno americano de 2020-2021.

Ao menos alguns dos veados carregavam vírus com capacidade de se multiplicar, e diversas amostras indicaram variações no genoma que são bastante raras nos vírus aparentados a elas de origem humana.

Duas dessas alterações, afetando a “receita” para a produção da chamada proteína da espícula (um gancho molecular usado pelo vírus para se conectar às células que invade), aparecem em menos de 0,5% dos genomas de Sars-CoV-2 estudados até hoje. Tudo isso indica que o vírus está circulando na população dos cervídeos e se adaptando ao organismo deles.

Ainda não está claro como o salto entre espécies aconteceu, mas oportunidades para que algo assim ocorra não faltam, segundo os pesquisadores.

Os veados-galheiros, também conhecidos como veados-da-virgínia (trata-se da mesma espécie retratada no desenho animado “Bambi”), estão por toda parte no território americano.

Boa parte dos 30 milhões de indivíduos nos EUA vive em áreas suburbanas e urbanas, às vezes comendo plantas de jardins e quintais e tendo contato com pessoas e animais domésticos. Há também a possibilidade de que eles estejam ingerindo lixo ou água contaminados com o vírus. Não se sabe se a infecção é sintomática nos bichos. De qualquer maneira, os dados reforçam a necessidade de acompanhar a trajetória do Sars-CoV-2 em outras espécies.

A informação é da Folha de São Paulo.


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