Governo do Amazonas apoiou megaevento com aglomeração 3 dias antes de anunciar novas medidas restritivas

O Governo do Amazonas pagou ingressos para 500 pessoas irem ao show do cantor Gusttavo Lima, no último dia 4, sábado, três dias antes de anunciar, na última terça-feira, novas medidas de restrições para tentar conter o avanço dos casos de Covid-19 no Estado. As imagens mostram que o evento registrou um grande público, com grande aglomeração, na Arena da Amazônia, em Manaus.

O Boletim Diário de Covid-19 da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS), na edição de terça-feira (07/12) informou o diagnóstico de 188 novos casos de Covid-19. Na edição anterior, de segunda-feira, foram informados 83 novos casos, o que demonstra um crescimento de mais de 100% nos registros.

Na terça-feira (07/12), após os dados epidemiológicos indicarem aumento nos casos de Covid-19, e em função da variante Ômicron, a Secretaria de Saúde do Amazonas (SES) anunciou a proibição de eventos com mais de 3 mil pessoas e lotação limitada a 50% da capacidade física dos espaço, em todo o Estado, inicialmente de 15 de dezembro de 2021 a 15 de janeiro de 2022. E multa de R$ 500 mil para quem descumprir a determinação.

Gusttavo Lima foi um dos artistas que doaram cilindros de oxigênio para Manaus, em janeiro, durante o colapso nos hospitais da cidade, quando os números de infectados por coronavírus no estado batiam recordes. Imagens no Instagram do artista mostraram a multidão de pessoas aglomeradas na Arena da Amazônia, que contou até com o incentivo do governador Wilson Lima (PSC) que distribuiu 500 ingressos para o show, na promoção Vacina Premiada, que também levou 3 mil pessoas ao jogo do Brasil contra Uruguai, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo.
Nesta quarta-feira, o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), informou que determinou o cancelamento das festas de réveillon e grandes eventos em todo o estado. E disse que a empresa que realizou o show do cantor Gustavo Lima em Manaus, com grande aglomeração, será multada.

Falta gestão
De acordo com o epidemiologista da Fiocruz Amazônia Jesem Orellana a decisão tomada pelo governo na terça-feira “é a prova da falta de compromisso na gestão da epidemia”. “O qual se viu obrigado a recuar, diante de enorme pressão de trabalhadores de saúde, comunidade científica e, sobretudo, pelo cenário sanitário francamente ameaçador”, avaliou o cientista.

Jesem Orellana apontou para a responsabilidade sanitária do governo do Estado em em incentivar as aglomerações em shows para as pessoas vacinadas, como o ocorrido no último sábado. “Todos sabemos que as aglomerações são terreno fértil para a disseminação viral, mesmo com as pessoas vacinadas. Uma pena que tenhamos que assistir a tantos erros, depois de duas tragédias que chocaram a humanidade na pandemia de Covid-19. A certeza de impunidade, infelizmente, é o que permite tantos absurdos como este. É um erro acreditar que pessoas vacinadas não podem se infectar ou até mesmo se reinfectar, especialmente em ambientes com grande aglomeração. O Gusttavo Lima é um artista e não toma decisões sobre a gestão de epidemia no Amazonas. Se o governo permitiu esse evento, a responsabilidade sanitária é óbvia”, enfatizou o cientista.