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Amazonas

AM registra primeiros casos da variante Delta; risco de terceira onda da Covid-19 não é descartado

Especialistas alertam para o risco mortal da variante caso as medidas de contenção não sejam eficazes no estado amazonense

O dinheiro deve ser aplicado na estruturação de serviços de urgência e emergência. (Foto: Edilson Dantas / Arquivo/Agência O Globo)

A confirmação de seis casos de Covid-19 pela variante Delta no Amazonas, divulgada pela Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP), nesta quarta-feira (18/08), acende alerta para uma iminente terceira onda da pandemia em Manaus, em razão do potencial de transmissão da cepa encontrada inicialmente na Índia. Cientistas ouvidos pelo 18 Horas / Rádio Mix defenderam o recuo da “vida normal” dos amazonenses e as medidas restritivas para evitar um novo colapso no sistema de saúde e funerário no estado com a terceira onda da pandemia.

Para o doutorando pelo Programa de Biologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) que previu a segunda onda da pandemia no Amazonas, Lucas Ferrante, a baixa taxa de vacinação da população é vista como preocupação para a disseminação da variante Delta em Manaus e pelo estado. “Nós já sabemos que a taxa de vacinação no Amazonas assim como no resto de todo o Brasil, ela caminha a conta gotas. Nós não temos uma parcela da população vacinada o suficiente para que a população tenha adquirida, de fato, imunidade de rebanho e evite uma terceira onda para Manaus. Em fevereiro, nós já tínhamos avisado que já havia a possibilidade de uma terceira onda caso Manaus não avançasse na vacinação. E de fato Manaus não avançou na vacinação. Outra preocupação é que mesmo as pessoas com as duas doses da vacina, elas não estão 100% imunizadas. Ainda existe o risco. Porque a variante Delta burla uma parte das pessoas que foram vacinadas”, comentou o cientista, informando que a baixa proteção colabora para uma possível terceira onda.

“Essa baixa proteção da população do Amazonas e a falta da vacinação coletiva, de forma geral, na população, ou muitas pessoas só com a primeira dose, dão todas as condições para uma terceira onda. Porque nós temos as condições de números de suscetíveis dessa variante muito grande e isso tende a causar um novo colapso no sistema de saúde”, alertou.

Lucas Ferrante disse que é necessário a implantação de medidas eficazes para conter a proliferação da variante Delta. “Precisamos encarar as medidas com responsabilidade e não com politicagem e fechar os olhos para o que estar acontecendo. Se não, sim, nós vamos ter um novo colapso no sistema de saúde, o prefeito, sim, será um dos responsáveis por isso, e o governador Wilson Lima será também um dos responsáveis por isso. Nós precisamos deixar claro que nós já temos artigos científicos comprovando a negligencia política causou a segunda onda em Manaus. Um deles, na revista Nature Medicine, um dos maiores periódicos do mundo, que alertou com quatro meses de antecedência sobre o risco de segunda onda e nós apontávamos ali que a negligência política na tomada de decisão iria gerar uma segunda onda”, disse.

Circulação
O epidemiologista da Fiocruz Amazônia Jesem Orellana suspeita que a variante Delta já esteja em circulação no Amazonas há mais semanas em razão da “fragilidade” da vigilância laboratorial do Amazonas. “Primeiro, a FVS precisa esclarecer detalhadamente em que circunstâncias fez essa detecção e como foi feito o rastreamento vigilância de cada um desses casos, para que tenhamos ideia do que está acontecendo. Como a vigilância laboratorial do AM é uma das piores do país é mais do que compreensível uma detecção extemporânea ou inoportuna”, comentou.

O cientista da Fiocruz alerta a população para que redobre os cuidados de prevenção para evitar um novo colapso no sistema de saúde amazonense.
“Eu diria para triplicarmos. Isto porque temos a maior parte da população sem vacinar e/ou sem esquema completo (duas doses) e a variante Delta tem a capacidade de gerar adoecimento e morte considerável, em pessoas com esquema incompleto ou vacinados somente com uma dose para a vacina da Janssem, por exemplo. A variante Delta parece ter maior infectividade que as outras. Logo, tudo pode acontecer!”, alertou o pesquisador.

Jesem Orellana defendeu também o recuo imediata da flexibilização das medidas restritivas para que sejam evitadas mortes. “O estado e município de Manaus precisam recuar imediatamente com seus planos de retomada da 1vida normal’, sob a pena de estarem mergulhando o estado em novo ciclo mortal de infecções. Pânico não ajuda, mas como as vigilâncias de estado e município são sabidamente inefetivas, não podemos esperar nada bom daqui em diante”, avaliou o pesquisador.

Como maneira de impedir a proliferação da variante indiana, Lucas também defendeu a suspensão  imediata das aulas presenciais no Estado. “Neste momento, o que deveria ser feito no Amazonas, seria a suspensão das aulas presenciais, porque isso aumenta a transmissão comunitária em Manaus, e acelera a onda. Já sabemos, inclusive de artigos científicos que passaram pela publicação e revisão dos pares, de que a segunda onda e o surgimento da variante P.1 (Gama) foram em decorrência do retorno das aulas presenciais. É algo extremamente prejudicial porque aumenta a transmissão comunitária, principalmente no transporte público e isso tende a ajudar a colapsar o sistema de saúde”, observou Lucas.

Variante
Segundo o Governo do Amazonas, os casos confirmados, sendo quatro de pessoas residentes em Manaus (duas mulheres, de 40 e de 41 anos, e dois homens, de 16 e de 74 anos) e dois residentes no município de Maués (duas mulheres de 35 e de 59 anos). Os pacientes apresentaram febre, dor no corpo, dor de garganta, tosse, coriza, lombalgia, mialgia e dor de cabeça. As pessoas que testaram positivo relataram terem viajado aos estados do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro ou terem tido contato com parentes que estiveram nesses dois últimos estados.

Quatro pacientes apresentaram esquema vacinal completo contra a Covid-19, um estava com a aplicação da primeira dose e um não havia sido vacinado. De acordo com a diretora-presidente em exercício da FVS-RCP, Tatyana Amorim, os seis casos positivos de Covid-19 pela variante Delta não necessitaram de internação hospitalar. “Dos seis pacientes, cinco não possuem comorbidades (doenças preexistentes) e evoluíram para cura. Um dos pacientes tem asma e está sendo submetido a tratamento domiciliar”, detalha.

A FVS-RCP recebeu a notificação, na noite de terça-feira (17/08), da Fundação Oswaldo Cruz – Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazonas), órgão responsável pelo sequenciamento genômico do novo coronavírus (SARS-CoV-2) no Amazonas, a partir das amostras coletadas e processadas pelo Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen/FVS-RCP). O resultado obtido foi a partir das análises de 400 amostras de casos confirmados de Covid-19 identificadas inicialmente pelo Lacen- FVS-RCP e triadas usando o protocolo em tempo real para as variantes Alpha, Beta e Gamma.

Rio de Janeiro

A Secretaria Estadual de Saúde manifestou, na última segunda-feira (16), a preocupação com um “possível enfrentamento de uma nova onda de contágio da Covid-19” devido à variante Delta. O documento foi obtido com exclusividade pelo G1.Estima-se que a delta já seja a variante mais comum no estado desde que um relatório da própria secretaria mostrou, também na segunda, que a delta foi encontrada em 60% dos pacientes com Covid no Rio.

O temor da Secretaria consta em um documento enviado à Defensoria Pública, que pedia informações sobre as novas medidas de gestão da e um plano de reorganização da rede hospitalar.


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