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Amazonas

Cientistas contestam declarações de Wilson Lima sobre impacto de terceira onda no Amazonas

Em Brasília (DF), Wilson Lima disse que o plano de contingência prevê medidas para o pior cenário, o que foi rebatido pelos especialistas

Wilson Lima entregou ontem à tarde o plano de contingência contra a terceira onda da Covid-19

A declaração do governador do Amazonas, Wilsom Lima (PSC), de que uma terceira onda terá impacto menor em decorrência do “avanço” da vacinação e do fim do período sazonal das síndromes respiratórias no Amazonas foi contestada pelo epidemiologista Jesem Orellana, do Instituto Leônidas e Maria Deane, a Fiocruz Amazônia, e pelo doutorando do Programa de Biologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) Lucas Ferrante.

Orellana teme a eficácia do plano de contingência apresentado na quinta-feira (22/04) Wilson Lima ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Ele disse que, por ser o mesmo plano apresentado ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, em dezembro do ano passado ante à segunda onda, é temeroso afirmar que a terceira onda vai ser menos intensa que as demais ocorridas sobretudo em Manaus.

“Nós podemos esperar algo bom e ao mesmo tempo algo terrível, como temos visto de praxe. A julgar pelos que nós vimos, pelos planos de contingência anteriores, deve ser algo que não vai sair do papel e com estratégias absolutamente ineficazes para controlar e evitar uma terceira onda eventualmente. Eu queria lembrar que esse mesmo governador, o mesmo comitê, a mesma equipe de técnicos enviou o plano ao ministro que respondia naquela época”, analisou o especialista.

Para Jesem Orellana, mesmo com a vacinação, que até esta sexta (23), tinha alcançado 213 mil amazonenses com as duas doses da vacina contra a Covid-19 de um universo de 4 milhões de habitantes, não seria suficiente para impedir a terceira onda. Isso porque mesmo vacinadas, conforme o cientista, as pessoas continuarão sendo infectadas e muitas delas assintomáticas.

“Nós não podemos assumir neste momento que essas vacinas vão evitar uma terceira onda, que vai ser mais amena que do que a segunda ou a primeira, em função de determinada suposição. Independente de estarmos na segunda onda ou de estarmos vislumbrando uma terceira onda, o mais importante é que as pessoas vão continuar se infectando mesmo vacinadas com a segunda dose, 15 e 20 dias depois da segunda dose; e que elas podem eventualmente ficar assintomáticas e transmitirem o coronavírus e tendo quadros leves de Covid-19. Não há uma evidencia científica sólida neste momento que indiquem que essas vacinas que estão disponíveis, hoje, que elas evitem de forma total novas infecções pelo coronavírus”.

Inverdade

Segundo Lucas Ferrante, doutorando do Programa de Biologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), os governos do Amazonas e Federal mentem para a população ao afirmarem que estão preparados para uma eventual terceira onda. “A situação é grave, e os governos estadual e federal mais uma vez mentem para a população anunciando pseudos-planos de resposta à pandemia que não vão ter nenhuma funcionalidade e infelizmente vai condenar Manaus a uma terceira onda”, disse Lucas.

Lucas Ferrante defendeu que existem alguns passos fundamentais de controle a uma iminente terceira onda que não estão sendo cumpridos pelo Executivo sobretudo com o relaxamento das medidas restritivas de combate à pandemia.

“Um deles é a não retomada das aulas presenciais ou híbridas, que foi o gatilho principal que desencadeou a segunda onda. Onde nós tivemos esse gatilho principal sendo potencializado pela maior circulação viral promovida principalmente pelos grandes feriados, festas de final de ano e eleições. Mas o gatilho fundamental foi esta ação que está se repetindo, agora, além disso nós temos a pandemia num cenário estável, tal quanto foi o ano passado antes da segunda onda, onde nós avisamos que isso levaria a segunda onda desde agosto do ano passado, através de uma publicação na revista Nature Medicine”, declarou o pesquisador, relembrando que encaminhou aos governos federal e estadual diretrizes de combate à pandemia “Então, nós fizemos o alerta sobre Manaus, fomos o primeiro grupo a alertar a terceira onda, avisamos o governo federal e governo do estado, e passamos as diretrizes para a contenção da terceira onda. E infelizmente tanto governo federal quanto estadual não estão adotando essas diretrizes, essas diretrizes são claras”, completou.

Lucas Ferrante ressaltou que as ações empregadas atualmente pelo Governo do Amazonas são ineficazes ante à terceira onda. “As ações que estão sendo tomadas não tem capacidade de frear a terceira onda e que as ações que deveriam estar sendo tomadas seriam o cancelamento, neste momento, da retomada das aulas presenciais ou híbridas, e esse retorno deveria se dá apenas quando 70% da população estivessem de fato vacinadas e um isolamento social que deveria ser empregado, agora, na capital para conter a disseminação viral e impedir, por exemplo, o surgimento de um nova variante para o município”, disse o doutorando Lucas.

Sazonalidade

O epidemiologista Jesem Orellana criticou a classificação do Governo do Amazonas em associar que o início do verão amazônico irá amenizar os impactos de uma possível terceira onda no estado. “Em relação ao período de estiagem, e a finalização  do período sazonal, é bom lembrar que em 2020, a partir de setembro, outubro, quando começamos a ter os primeiros sinais claros, de uma segunda onda, contatem e mortalidade por Covid em Manaus, o governo e muita gente ligada ao governo, da própria Fiocruz, apoiava o Governo do Estado com a narrativa de que Manaus não estava numa segunda onda. E, Manaus já estava naquele momento. Eles argumentavam que o aumento de leitos clínicos e de UTIs no Delphina Aziz se davam como uma suposta preparação para o período sazonal e todos nós sabíamos que o período mais crítico da sazonalidade, dessas doenças respiratórias, essas síndromes respiratórias agudas graves , em Manaus, e no estado do Amazonas, em geral, em fevereiro, março e abril”, relembrou Jesem, informando que neste mesmo período, o governador Wilson Lima flexibilizou as medidas de restrições.

“Justamente quando o irresponsável do governador e a equipe não faz a mínima menção a esse evento da sazonalidade, agora, em fevereiro, março, abril de 2021? Por quê?  Porque nesse mesmo período ao invés de restringir a circulação e pessoas em Manaus e no Amazonas, ele faz o contrário, ele flexibiliza de uma forma mais precoce e mais rápida do que após a tragédia que nós tivemos em Manaus na primeira onda de Covid-19”, finalizou o especialista da Fiocruz.

Governo

Ontem, o governador Wilson Lima afirmou, ainda, que a antecipação do planejamento é necessária em razão dos desafios logísticos impostos pela condição geográfica do Amazonas. Além disso, vários estados que ainda enfrentam a segunda onda da pandemia sofrem com a escassez de insumos. A expectativa do Governo é que uma possível terceira onda tenha um impacto menor, em relação à segunda onda, devido ao avanço da vacinação e, também, da proximidade do fim do período sazonal das síndromes respiratórias no Amazonas.


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