Economia
Valor Econômico: Estudo mostra que Amazônia produz só 0,2% para mercado de US$ 200 bilhões
Estudo mostra que a região virou as costas para a floresta, o que é um desperdício, porque as oportunidades são imensas.
Há na Amazônia um leque de produtos muito além dos minérios de sempre, dos créditos de carbono florestal e de novos fármacos do futuro. Em três anos, 64 produtos compatíveis com a floresta foram produzidos e exportados por empresas dos nove Estados da Amazônia Legal. O valor somado é de quase US$ 300 milhões ao ano e existe muito potencial de crescimento – o mercado global destes 64 produtos é de quase US$ 200 bilhões. Mas o Brasil é uma fração disso.
As informações são do jornal Valor Econômico, que teve acesso ao estudo “Oportunidades para Exportação de produtos Compatíveis com a Floresta Amazônica Brasileira’. O estudo procura entender quais atividades podem dar impulso à economia da região sem destruir o meio ambiente e faz parte do projeto “Amazônia 2030”, iniciativa de pesquisadores que busca desenvolver um plano de ações para a Amazônia brasileira. O projeto é iniciativa de especialistas do Instituto do Homem e do Meio Ambiente (Imazon) e do Centro de Empreendedorismo da Amazônia, de Belém, com a Climate Policy Initiative (CPI) e o Departamento de Economia da PUC-Rio.
A Amazônia Legal, que representa 30% das florestas tropicais do mundo, participa com tímidos 0,17% dos mercados de produtos compatíveis com a floresta. Além disso, os líderes destes segmentos, no mercado global, são muitas vezes países tropicais com grau de desenvolvimento e tecnologia similar à do Brasil.
O principal destes produtos vendidos pela Amazônia é a pimenta do reino, com exportações em torno de US$ 100 milhões ao ano. O mercado global, contudo, é de US$ 1,5 bilhão, e a Amazônia tem participação de 7%. O líder global é o Vietnã, com uma fatia de 35%. “O Vietnã exporta para os EUA, que são nossos vizinhos, mais pimenta do que o Brasil exporta ao mundo inteiro”, diz Salo Colovsky, professor de desenvolvimento econômico da Universidade de Nova York, o autor do estudo.
“As três grandes mensagens do estudo são estas: já existe uma capacidade instalada para estes produtos, mas é muito incipiente no contexto global. E quem leva o prêmio hoje são países que, a princípio, têm mais dificuldade em ser competitivos do que o Brasil”, diz Colovsky.
Administrador de empresas formado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) em São Paulo com doutorado em estudos urbanos no Massachusetts Institute of Technology (MIT), Colovsky montou o estudo a partir de uma base de dados que compilou. Ali estão os valores e produtos exportados por empresas da Amazônia – e de todos os países- entre 2002 e 2019. Já existe capacidade instalada para vender produtos da floresta, mas ainda incipiente no contexto global .
No estudo de Colovsky se vê, por exemplo, que empresas sediadas nos estados amazônicos exportaram cerca de US$ 27, 5 milhões ao ano de óleo de dendê em bruto, mas a participação global é de apenas 0,32%. No caso de peixes ornamentais de água doce, as exportações anuais da região somaram mais de US$ 5 milhões, mas o mercado mundial é de US$ 261 milhões. Em peixes congelados como o pargo e a pescada amarela, a Amazônia exporta cerca de US$ 30 milhões.
Contudo, o mercado global de peixes “diferentes” (que não são bacalhau ou salmão, por exemplo) é de US$ 4 bilhões. As exportações de castanha-do-pará sem casca são de R$ 16 milhões (5,4% do mercado global), e com casca, R$ 115 milhões ao ano (3,9%).
“Não estamos falando em competir com lugares campeões em inovação”, registra. Um dos insights que surge do estudo é que ao longo das décadas, “uma série de políticas adotadas na Amazônia afastou a região de sua vantagem competitiva mais evidente que é a floresta, os rios, o clima equatorial. Hoje, se formos avaliar quem tem dinamismo na Amazônia são monocultivos mecanizados, enclaves de mineração, o polo industrial de Manaus. Boa parte da renda vem de transferências do governo federal”, diz.
“A região virou as costas para a floresta. E o que este estudo mostra é que é um desperdício, porque as oportunidades são imensas”. Ele compara o desempenho com o mercado voluntário de créditos de carbono florestais que movimentou, no mesmo período, US$ 130 milhões no mundo todo. “É menos que um décimo do mercado de pimenta.”
Não deixe de curtir nossa página no Facebook, siga no Instagram e também no X.
Faça um comentário