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Exército Brasileiro vai mandar a Roraima, na fronteira com a Venezuela, o mais poderoso blindado, informa Estadão

Decisão sobre o destino dos Centauros foi confirmada pelo comandante do Exército brasileiro quando os EUA apertaram o cerco à Venezuela

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O Exército vai enviar a Roraima o Centauro II-BR, cuja compra fez parte do projeto de modernização das forças blindadas do País. Fabricado pelo Consórcio Iveco-OTO Melara (CIO), sua torre equipada com um canhão de 120 mm faz desse Veículo Blindado de Combate de Cavalaria (VBC Cav) o mais poderoso do tipo na América do Sul. As informações são dos jornalistas Marcelo Godoy e Fausto Macedo, no Estadão.

Ao todo, 12 desses blindados ficarão com o 18.º Regimento de Cavalaria Mecanizado (18.º RC Mec), que pertence à 1ª Brigada de Infantaria de Selva, com sede em Boa Vista. Trata-se da mesma unidade que recebeu entre 2023 e 2024, durante a crise de Essequibo, 32 viaturas blindadas leves multitarefas (VBLMT) Guaicuru, oito blindados Guarani, seis blindados Cascavel, 22 viaturas não blindadas, além de dezenas de mísseis RBS 70 antiaéreos e mísseis superfície-superfície Max 1.2 AntiCarro (Max 1.2 AC).

A confirmação do envio do Centauro à fronteira norte foi feita pelo comandante do Exército, o general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, durante a cerimônia na qual o general Pedro Celso Coelho Montenegro passou ao general Ricardo Piai Carmona o cargo de comandante militar do Sudeste. No palanque no quartel no Ibirapuera, em São Paulo, estavam o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro Filho, e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

A fala do general aconteceu poucas horas antes do término do julgamento do chamado núcleo 2 do processo do golpe, que levou à condenação, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), de mais dois oficiais: o general Mário Fernandes (26 anos e 6 meses de prisão) e o coronel Marcelo Câmara (21 anos) – ao todo, 20 militares foram considerados culpados pela Corte. Ao elogiar o general Montenegro, que se despedia do Comando Militar do Sudeste (CMSE), Tomás, que não se manifestou em nenhum momento sobre as sentenças do STF, afirmou: “Exército é isso: Exército é silêncio, retidão e prontidão. E é o que nós fazemos todo dia: silêncio, retidão e prontidão e prontos para cumprir qualquer missão em defesa da Pátria”.

Foi durante sua fala, que o general mencionou o destino de parte dos 98 Centauros comprados pelo Brasil, um contrato de € 900 milhões. Além de Roraima, a outra unidade que deve receber prioritariamente os Centauros estará sob a responsabilidade do general Carmona, no CMSE: a 11.ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, com sede em Campinas. Assim como o 18.º RC Mec, a Brigada vai contar com 12 unidades do blindado. O primeiro lote deles deve ser entregue pelo fabricante em 2026. Ele e o lote de 2027 devem ir para essas duas unidades do Exército.
Na 11.ª Brigada, os Centauros ficarão com o 13.º Regimento de Cavalaria Mecanizado (13º RC Mec), em Pirassununga. A escolha da brigada obedece à mesma lógica que fez o CMSE receber a primeira companhia anticarro do Exército, bem como as primeiras unidades de drones e de artilharia de média altura: a logística que permite o deslocamento rápido da tropa para qualquer ponto do País.

Fronteiras e o Arco Norte

A distribuição dos demais Centauros será feita entre unidades do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, em unidades próximas da fronteira – a faixa de fronteira brasileira possui 1.421.332,566 km² (16,7% do território nacional), onde estão 78 organizações militares desdobradas do Oiapoque ao Chuí, somando cerca de 25 mil militares.

A lógica da distribuição do equipamento segue a estratégia do Exército para seu emprego na região de fronteira: presença e dissuasão. A primeira exige articulação territorial de organizações militares ao longo da faixa de fronteira e capacidade de deslocamento rápido para qualquer região, enquanto a dissuasão requer a manutenção de forças suficientemente poderosas e prontas para emprego imediato.

No chamado Arco Norte, onde predomina a floresta densa, uma rede hidrográfica intrincada e pequenas localidades isoladas, além da instabilidade por causa da disputa entre a Venezuela e a Guiana, o Exército enfrenta atividades ilegais como o garimpo, a extração clandestina de madeira, a biopirataria e o narcotráfico. Segundo a Força Terrestre, só na faixa de fronteira Norte, concentram-se 9 mil militares, distribuídos em diversas unidades e em 23 Pelotões Especiais de Fronteira (PEF).

Diante do agravamento da crise entre a Venezuela e os Estados Unidos, com a apreensão de petroleiros e a ameaça de ações militares americanas no solo venezuelano, o governo brasileiro teme que o fluxo de refugiados para fronteira com Roraima aumente, assim como a possível ação de criminosos de grupos como Tren de Aragua, que já atua no Estado, onde o Exército participa da chamada Operação Acolhida. Nela, já foram engajados 6,6 mil militares desde a sua criação em 2008 – ela custou, em 2025, R$ 10 milhões aos cofres da Força Terrestre.

Também em Roraima, desde abril de 2024, o Exército mantém na Terra Indígena Yanomami (TIY) a Operação Catrimani, que já consumiu R$ 131 milhões e causou a apreensão de mercúrio, máquinas e embarcações do garimpo ilegal ligado a facções criminosas avaliados em R$ 610 milhões. Outro tanto foi gasto para levar equipamentos e homens para Roraima.

É que a Força Terrestre, a partir de 2023, deslocou recursos e aumentou sua presença na região Norte não só por causa da crise humanitária na terra dos Yanomami e do aumento da presença de criminosos transnacionais na região. Mas, principalmente, em razão da crise envolvendo a disputa pela região de Essequibo, da Guiana, reclamada pela Venezuela, e das pressões do governo dos EUA contra o regime de Nicolás Maduro.

Os 12 Centauros em Boa Vista podem até parecer pouco diante da imensidão amazônica e de seus desafios. Mas o fato de Roraima recebê-los antes das tradicionais unidades blindadas gaúchas dá a dimensão dessa decisão do Exército, uma mudança cujo significado não pode ser negligenciado.


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