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Brasil

Clima extremo na Amazônia já afeta 1,8 milhão de pessoas por ano e gera prejuízo bilionário, mostra pesquisa

Estudo publicada na revista Nature Communications aponta que região vive uma “crise silenciosa e desigual” e que os prejuízos econômicos causados por esses eventos somam mais de US$ 650 milhões por ano (R$ 3,44 bilhões).

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Uma pesquisa inédita publicada na revista Nature Communications mostra que 1,8 milhão de pessoas que vivem nos estados da Amazônia brasileira já são afetadas todos os anos por eventos extremos provocados pela mudança do clima. A pesquisa, que é inédita, ainda mostra que os prejuízos econômicos causados por esses eventos somam mais de US$ 650 milhões por ano (R$ 3,44 bilhões).

O estudo, conduzido por cientistas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) , é o primeiro a estimar de forma integrada as perdas humanas e econômicas ligadas ao clima na região.

Os resultados mostram o retrato de uma realidade que coloca a Amazônia entre as áreas mais vulneráveis do país à crise climática. Além disso, mostram, ao mesmo tempo, a face da injustiça climática:

– 75% dos afetados são indígenas e populações tradicionais, justamente as que menos contribuíram para o aquecimento global.

“O que a gente mostra nesse artigo é o retrato das desigualdades associadas às mudanças climáticas. As regiões que menos contribuíram para desestabilizar o clima global são as primeiras a serem impactadas e de uma forma muito dramática”, afirma Patrícia Pinho, diretora-adjunta de pesquisa do Ipam e uma das autoras do estudo.
Fogo, enchente e seca cada vez mais frequentes

De 2000 a 2022, os pesquisadores registraram 4.792 eventos climáticos extremos na Amazônia brasileira. Nesse período, o número de queimadas aumentou dez vezes, o de inundações, cinco vezes, e o de secas e ondas de calor, três vezes.

Esses fenômenos estão se tornando mais intensos e frequentes à medida que o desmatamento e o aquecimento global alteram o regime de chuvas e a temperatura da região.

A consequência é direta sobre a agricultura, a pecuária, a saúde e a infraestrutura — áreas que concentram os maiores prejuízos. Isso significa destruição de casas, meios de sobrevivência, estruturas de saúde, ou seja, tudo que é básico à vida humana.

“Esses dados que a gente calculou, embora choquem, ainda são muito subestimados, porque a grande maioria dos impactos não é relatada”, explica Patrícia.

O estudo mostra que as cidades amazônicas com menos de 50 mil habitantes são as que mais sofrem. Segundo os cálculos, há municípios que perderam até 300% do PIB local em decorrência dos desastres.

“Imagina, como uma cidade se recupera de uma merda dessa dimensão se a realidade já é de pouca infraestrutura e de suporte de políticas públicas? A mudança climática está levando essas pessoas a um empobrecimento silencioso”, pontua Patrícia.

A pesquisa é um retrato da injustiça climática. Os municípios pequenos da Amazônia brasileira, onde estão povos originários, como quilombolas e ribeirinhos, são os mais afetados pelos desastres que pouco contribuem para acontecer. Pelo contrário, as pesquisas de monitoramento do desmatamento na Amazônia mostram que os índices de desmatamento em territórios indígenas, por exemplo, são os menores.

Somando as duas últimas décadas, o estudo estima que as perdas econômicas na Amazônia já chegam a US$ 5,7 bilhões (mais de R$ 30 bilhões). Só entre 2000 e 2022, o impacto desses desastres cresceu 370%.

Além do dano financeiro, os pesquisadores chamam atenção para as chamadas “perdas residuais”, que vão além dos números e se traduzem na destruição de territórios, o colapso de modos de vida e a perda de bem-estar e de identidade com o ambiente.

Para impedir a evolução desse tipo de cenário, os pesquisadores recomendam a criação de um fundo específico para perdas e danos na Amazônia, semelhante ao fundo global aprovado na COP27, que destina recursos de países ricos a nações mais vulneráveis.


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