Brasil
Reforma administrativa: municípios pequenos concentram mais cargos comissionados, aponta levantamento
Os números mostram que cidades pequenas ficaram mais dependentes de nomeações políticas para as funções públicas.
Seis em cada dez prefeituras de cidades com até cinco mil habitantes têm mais de 10% de comissionados entre o total de funcionários. Os municípios pequenos concentram mais cargos comissionados em comparação com médias e grandes cidades do Brasil e são os principais impactados pela reforma administrativa protocolada na Câmara.
Seis em cada dez municípios de até 5 mil habitantes têm mais de 10% de cargos comissionados entre o total de funcionários públicos, de acordo com levantamento do Anuário de Gestão de Pessoas no Serviço Público 2025, elaborado pelo movimento República.org.
Essa quantidade é maior do que nas cidades com mais de 500 mil habitantes, onde só 18% das prefeituras empregam mais de 10% de cargos comissionados (são sete prefeituras entre 40 com esse porcentual).
Os números mostram que cidades pequenas ficaram mais dependentes de nomeações políticas para as funções públicas.
A reforma administrativa limita em 5% a quantidade de cargos comissionados sobre o total de servidores públicos na União, nos Estados e municípios. Além disso, estabelece que 50% dessas funções de confiança devem ser ocupadas por servidores concursados.
A proposta apresentada no Congresso também obriga a realização de um processo seletivo para cargos estratégicos da alta administração, destinados a pessoas que comandarão órgãos e políticas públicas estratégicas, sem contar o primeiro escalão.
A União, os Estados e o Distrito Federal terão dois anos para implementar os porcentuais. As prefeituras terão um prazo maior, de quatro anos, e ficarão impedidos de criar ou ocupar cargos de comissão se não cumprirem as novas regras.
A República.org, responsável pelos dados, é uma organização da sociedade civil dedicada à gestão de pessoas no serviço público no Brasil que apoia pontos da reforma administrativa, como o fim dos supersalários e uma gestão de desempenho dos servidores.
Para as autoras do levantamento, a contratação descontrolada de funcionários comissionados gera um risco de descontinuidade de políticas públicas nos municípios, especialmente nos menores, que se tornam mais dependentes desse tipo de seleção.
“A principal hipótese é a dificuldade de contratação de municípios menores por concurso público. Tem municípios que dependem totalmente de repasses da União porque não conseguem arrecadar para sustentar suas próprias burocracias”, diz a coordenadora de dados da República.org, Paula Frias.
O estudo aponta a necessidade de limitar a contratação de servidores comissionados. O porcentual definido pela reforma administrativa (de 5% para todos os entes públicos), porém, é um limitador excessivo que por si só não resolve o problema, na opinião das especialistas.
“É um problema porque o 5% foi incluído de forma arbitrária, não teve justificativa técnica que embasasse, me parece muito baixo e é um limite global, não específico para cada órgão”, afirma Ana Luiza Pessanha, especialista em Conhecimento do movimento. “Esse limite global não vai resolver o problema que é preciso ser enfrentado.”
Para o movimento, o serviço público precisa selecionar funcionários para cargos comissionados com base em critérios técnicos e processos seletivos, e não apenas por proximidade política.
“Isso não é para reduzir a discricionalidade política dos gestores, que é legítima, mas é para escolher a partir de pessoas competentes para os cargos da gestão e avançar em critérios de diversidade”, diz Pessanha.
O coordenador do Grupo de Trabalho da Reforma Administrativa da Câmara e autor intelectual da proposta, deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), disse que o porcentual foi definido com base em boas práticas adotadas em alguns Estados e municípios, como a prefeitura do Rio de Janeiro, o governo do Espírito Santo e o governo do Piauí.
“Tem algumas cidades e alguns Estados que têm feito um trabalho importante de dimensionamento dos cargos em comissão e construindo uma estratégia de fazer o seguinte: quanto mais o cargo for importante para a administração, mais temos de preparar servidores públicos líderes para ocupar esses cargos. Isso está se multiplicando em boas gestões”, afirmou o parlamentar.
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