Amazonas
Escritor amazonense Milton Hatoum é eleito para a Academia Brasileira de Letras
Além de romancista, Hatoum é contista, ensaísta, tradutor e professor universitário

Escritor Milton Hatoum. (Foto:Reprodução)
O escritor Milton Hatoum foi eleito nesta quinta-feira (14) para a Cadeira 6 da ABL, na sucessão do também escritor, o jornalista Cícero Sandroni, morto em junhodeste ano. Ele foi escolhido por 33 de 34 votos possíveis. O pernambucano Antônio Campos recebeu um voto.
Além de romancista, Hatoum é contista, ensaísta, tradutor e professor universitário. Em 1989, seu primeiro romance Relato de um certo Oriente, publicado pela Companhia das Letras, ganhou o Prêmio Jabuti de Melhor Romance e foi adaptado para o cinema com o filme de mesmo nome cuja direção é de Marcelo Gomes.
Na disputa da vaga, estavam inscritos: Angelos D’Arachosia, Antônio Campos, Cezar Augusto da Silva, Eduardo Baccarin-Costa e Paulo Renato Ceratti.
Pouco antes da confirmação do pleito, Hatoum ainda se dizia “incrédulo” com sua candidatura:
— A minha timidez atávica, talvez herança de amazonense, me distancia um pouco dos rituais — disse o escritor, em uma sala do escritório da editora Companhia das Letras, que publica as suas obras, no centro do Rio. — Meu ritual é a escrita, que exerço todos os dias.
O que motivou, então, o autor de “Dois irmãos” a buscar uma vaga na Casa de Machado de Assis?
— A Academia me interessa como uma instituição de memória, de proteção à literatura brasileira e de abertura ao público — explicou ele. — Como dizia Bandeira, a memória só faz sentido quando vibra no tempo presente. Discussões sobre o que acontece hoje no Brasil cabem muito bem na pauta da Academia. Estamos sempre na iminência de retrocessos perigosos, de um tempo obscuro. É fundamental proteger as instituições brasileiras, porque há ameaças no ar. E a Academia tem um corpo de intelectuais capaz de responder a isso com um discurso elevado, digno e contundente.
Outro incentivo foi a democratização da ABL, que vem abrindo suas portas para o público em eventos e conferências, assim como o esforço da instituição em tornar o quadro de membros efetivos mais representativo, com mais mulheres, negros e indígenas.
— A Academia não é uma instituição cristalizada, voltada para si mesma — disse Hatoum. — Ela está aberta ao público, e acho fundamental criar relações estreitas e profundas com a sociedade, não apenas carioca, mas brasileira. É importante levar a Academia para outros lugares.
A eleição coincidiu com o do anúncio de seu novo romance, “Dança dos enganos”. O volume final da sua trilogia “O lugar mais sombrio” será lançado pela Companhia das Letras no dia 21 de outubro.
Primeira ordem
O presidente da ABL, Merval Pereira, disse que ele é o maior escritor brasileiro vivo e é um romancista de primeira ordem. vai ser muito útil para a gente, já colabora muito com a Revista Brasileira, agora vai ter a oportunidade de colaborar mais ainda.
O Acadêmico Ruy Castro comemorou a eleição de Hatoum: “Grande contribuição, grande romancista, representante de uma geração de ficcionistas. A Academia sempre teve gente de diversas origens, de todos os lugares, como João do Rio, Pedro Lessa. É uma geração mais jovem que está chegando e tem uma grande contribuição a dar.”
Miriam Leitão, que pela primeira vez participou de uma eleição na ABL, disse que Hatoum é um grande romancista, de primeira grandeza e categoria da literatura brasileira. “Chega trazendo todos os ecos do Brasil. Um Brasil que vem da Amazônia. A literatura dele é riquíssima, belíssima”.
para Lilia Schwarcz, Milton vem contribuir demais para a ABL, pessoa que vem do norte, da Amazônia – o apelido dele é Manaus. Pessoa fundamental, que tem uma voz cidadã, uma voz ética. “Ele é literatura, faz literatura, vai às escolas falar de literatura. Teve uma votação muito representativa.”
Sobre Milton Hatoum
Milton Hatoum nasceu em Manaus, em 1952. Em 1968, mudou-se para Brasília, onde estudou no CIEM (Colégio de Aplicação da UnB). Morou toda a década de 1970 em São Paulo e diplomou-se em arquitetura na FAU(USP), onde desenvolveu uma pesquisa sob a orientação do geógrafo Prof. Dr. Milton Santos. Em 1978-79 foi professor de história da arquitetura na Universidade de Taubaté.
Em 1980 morou em Madri, como bolsista do Instituto Ibero Americano de Cooperación. Entre 1981 e 1983 morou em Paris, onde cursou mestrado em literatura latino-americana. De 1984 a 1998 foi professor de língua e literatura francesa na Universidade Federal do Amazonas.
Em 1999 mudou-se para São Paulo, onde foi colunista do Caderno 2 (O Estado de S. Paulo) entre 2008 e 2016. Foi colunista do jornal O Globo, do site Terra Magazine e da revista Entre livros.
Foi professor visitante da Universidade da California (Berkeley) e da Sorbonne, bolsista da Fundação Vitae (1988), da Maison de sÉcrivainsÉtrangers (Saint-Nazaire/França) e escritor residente das Universidades Yale e Standford e do International Writing Program (Iowa/EUA). Participou de seminários e fez conferências em várias instituições e universidades europeias (Sorbonne, Rennes, Poitiers), norte-americanas (Biblioteca do Congresso, Berkeley, Princeton, Yale) e libanesas (Saint-Joseph, American University).
Em 2000, publicou o romance Dois irmãos (indicado para o Impac-Dublin Literary Award, 2004), eleito o melhor romance brasileiro no período 1990-2005 em pesquisa feita pelos jornais Correio Braziliense e O Estado de Minas. O título foi publicado em Argentina, Alemanha, China, Espanha, Estados Unidos, Itália, França, Grécia, Holanda, Inglaterra, Líbano, Portugal, República Tcheca e Sérvia. “Dois irmãos” foi adaptado para o audiovisual (minissérie da TV Globo, direção de Luiz Fernando Carvalho, roteiro de Maria Camargo).
Em 2005, o romance Cinzas do Norte obteve o Prêmio Portugal Telecom, Grande Prêmio da Crítica/apca-2005, Prêmio Jabuti/2006 de Melhor Romance, Prêmio Livro do Ano da CBL e Prêmio Bravo! de Literatura. Em 2008recebeu do Ministério da Cultura do Brasil a medalha da Ordem do Mérito Cultural. Em 2010, a tradução inglesa de Cinzas do Nort (Ashes of theAmazon, Bloomsbury, 2008) foi indicada para o Prêmio Impac-Dublin.
Em 2008, publicou seu quarto romance, Órfãos do Eldorado (Prêmio Jabuti –2º lugar na categoria Romance). Foi adaptado para o cinema (direção e roteiro de Guilherme Coelho). Em 2009, lançou o livro de contos A cidade ilhada, que inspirou o filme O rio do desejo, dirigido por Sergio Machado.
Em 2013, publicou Um solitário à espreita, uma seleção de crônicas publicadas em jornais e revistas.
Em 2017 Hatoum foi nomeado Officier de l’Ordredes Arts et des Lettres pelo Ministério da Cultura e da Comunicação da República Francesa.
Recebeu o Prêmio Juca Pato/Intelectual do ano (União Brasileira dos Escritores/UBE/2018) pelo romance A noite da espera – primeiro volume da trilogia O lugar mais sombrio. Ainda em 2018 recebeu em Paris o Prix Roger Caillois 2018 pour la Littérature Latino-Américaine (Maison de l’Amérique Latine/PenClub France).
Em 2019, lançou Pontos de fuga, segundo volume da trilogia O lugar mais sombrio.
Em parceria com o filósofo e crítico literário Benedito Nunes, publicou Crônica de duas cidades: Belém e Manaus (2006/Secult-PA), a ser relançado pela Companhia das Letras, editora das obras do autor.
Os livros de Hatoum já ultrapassam 500 mil exemplares vendidos foram publicados em 17 países, e contam com uma extensa fortuna crítica no Brasil e no exterior. Traduziu para o português A cruzada das crianças(Marcel Schwob), Representações do Intelectual (Edward Said) e, em parceria com Samuel Titan, Três contos (Gustave Flaubert).
Hatoum tem publicado também ensaios e artigos sobre literatura brasileira e latino-americana em revistas e jornais do Brasil, da Espanha, França e Itália. Alguns de seus contos e ensaios saíram nas revistas Europe, Nouvelle Revue Française (França), Grand Street (Nova York), Quimera (México) e serrote. Participou de várias antologias de contos brasileiros organizadas na Alemanha e no México, e da Oxford Anthology of the Brazilian Short Story.
No mês de outubro deste ano, a Companhia das Letras publicará Dança de enganos, último volume da trilogia O lugar mais sombrio. Segue também sua atividade de escritor convidado para ministrar cursos e conferências em universidades e institutos do Brasil e do exterior.
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