Brasil
Mais da metade dos rios do Brasil está sob ‘pressão’ e com vazão em risco, aponta estudo
Pesquisa da USP, em parceria com cientistas internacionais, analisou 18 mil poços e revelou que 55,4% estão abaixo do nível dos riachos, indicando infiltração e risco de redução no fluxo dos rios.
![mais-da-metade-dos-rios-do-bra](https://18horas.com.br/wp-content/uploads/2025/02/mais-da-metade-dos-rios-do-bra.jpg)
Por muito tempo, o Brasil foi considerado um dos países mais ricos em recursos hídricos. No entanto, um estudo recente publicado na revista “Nature Communications’ , divulgado no jornal O Globo, aponta que mais da metade dos rios brasileiros está perdendo água para o subsolo, o que pode comprometer sua vazão e afetar tanto o abastecimento humano quanto os ecossistemas aquáticos.
A pesquisa foi conduzida por cientistas da Universidade de São Paulo (USP) em parceria com pesquisadores dos Estados Unidos e analisou dados de 17.972 poços em todo o território nacional. Os resultados mostraram que 55,4% desses poços apresentam níveis de água subterrânea abaixo da superfície dos riachos mais próximos. Isso indica que a água dos rios está se infiltrando no subsolo, comprometendo sua vazão e podendo levar ao esgotamento progressivo desses corpos d’água.
Entenda o fenômeno
A infiltração é o processo pelo qual a água penetra no solo e se desloca para camadas subterrâneas, abastecendo os lençóis freáticos. Esse fenômeno ocorre de forma natural e desempenha um papel essencial no ciclo hidrológico, regulando o fluxo de água nos ecossistemas e garantindo a disponibilidade hídrica a longo prazo. A taxa de infiltração varia de acordo com o tipo de solo, sua permeabilidade e a presença de vegetação, que pode facilitar ou dificultar a absorção da água.
Quando a infiltração ocorre de maneira equilibrada, ela contribui para a recarga dos reservatórios subterrâneos e auxilia na manutenção do fluxo dos rios em períodos de estiagem. No entanto, quando a retirada de água subterrânea é excessiva, o lençol freático pode se tornar mais profundo, levando os rios a perderem água para o subsolo em um processo conhecido como percolação reversa. Esse desequilíbrio pode resultar na redução da vazão dos rios e no comprometimento dos ecossistemas aquáticos.
Fatores como o desmatamento e a compactação do solo também influenciam a infiltração da água. A retirada da cobertura vegetal reduz a capacidade do solo de absorver a água das chuvas, aumentando o escoamento superficial e diminuindo a recarga dos lençóis freáticos. Além disso, solos compactados por atividades agrícolas ou urbanização dificultam a penetração da água, agravando ainda mais o problema.
Outro aspecto importante é que a infiltração pode influenciar diretamente a qualidade da água subterrânea. Em regiões onde há contaminação do solo por agrotóxicos, esgotos ou resíduos industriais, essas substâncias podem ser transportadas para o lençol freático junto com a água infiltrada, tornando-se uma ameaça à segurança hídrica. Por isso, a gestão adequada dos recursos hídricos deve levar em conta tanto a quantidade quanto a qualidade da água infiltrada.
A infiltração que ameaça os rios
O fenômeno identificado pelo estudo é conhecido como “perda de vazão” ou “rios perdedores”. Em situações normais, a interação entre rios e lençóis freáticos ocorre de forma equilibrada, com os rios tanto alimentando o subsolo quanto recebendo contribuições das águas subterrâneas.
No entanto, quando a exploração dos poços subterrâneos é excessiva, a tendência é que a água dos rios seja drenada para o subsolo, reduzindo sua vazão e, em casos extremos, levando ao desaparecimento de pequenos cursos d’água.
Essa dinâmica foi observada em diversas regiões do Brasil, com destaque para as áreas mais áridas e aquelas de intensa atividade agrícola. O estudo revelou que 69% dos rios perdedores estão localizados nessas áreas, onde a retirada de água subterrânea para irrigação é mais frequente.
As regiões mais afetadas
A bacia do rio São Francisco é um dos exemplos mais preocupantes: 61% dos rios analisados na região apresentam risco de perda de vazão devido à infiltração. O problema é ainda mais grave no rio Verde Grande, afluente do São Francisco, onde até 74% dos cursos d’água podem ser impactados. Esses números demonstram a urgência de repensar a gestão dos recursos hídricos na região.
Outro ponto crítico é a região conhecida como Matopiba (acrônimo para os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), uma das principais fronteiras agrícolas do Brasil. Com a expansão da agricultura irrigada, o uso da água subterrânea aumentou significativamente, intensificando o risco de esgotamento dos rios.
A diminuição da vazão dos rios pode gerar um efeito cascata sobre o meio ambiente e a população. Entre os impactos mais preocupantes estão:
Menor disponibilidade de água para consumo humano: Com menos água nos rios, cidades e comunidades que dependem dessas fontes podem enfrentar dificuldades de abastecimento.
Alterações nos ecossistemas aquáticos: Muitos peixes e outros organismos dependem da vazão constante dos rios para sobreviver. A perda de água pode levar à morte desses organismos e desequilibrar o ecossistema.
Afundamento do solo: O uso excessivo da água subterrânea pode provocar o afundamento do solo, causando danos às infraestruturas urbanas e rurais.
Risco de colapso de superfícies: Em algumas regiões, a retirada excessiva de água subterrânea pode levar ao colapso do solo, formando crateras e rachaduras.
O que pode ser feito?
Os cientistas destacam que a solução para evitar o agravamento desse cenário passa pela integração da gestão das águas superficiais e subterrâneas. É essencial que haja um monitoramento constante dos poços e dos níveis dos rios para garantir que a retirada de água subterrânea não ultrapasse os limites sustentáveis.
Além disso, é necessário incentivar práticas de uso eficiente da água na agricultura, como sistemas de irrigação que reduzam o desperdício. O investimento em pesquisas e em tecnologias que permitam um melhor gerenciamento dos recursos hídricos também é crucial para evitar que a situação piore nos próximos anos.
Sem medidas concretas, os rios brasileiros podem continuar a perder vazão, colocando em risco não apenas o abastecimento de água, mas também a biodiversidade e a segurança hídrica do país.
Não deixe de curtir nossa página no Facebook, siga no Instagram e também no X.
![](https://18horas.com.br/wp-content/uploads/2019/07/18horas-radio-mix-manaus-2.png)
Faça um comentário