Líder do União Brasil comprou imóvel da filha do ‘rei do lixo’ por um terço do preço, aponta UOL

O deputado federal Elmar Nascimento, líder do União Brasil na Câmara, adquiriu da empresa da filha do empresário Marcos Moura, conhecido como “rei do lixo”*, um imóvel por cerca de um terço do valor de mercado em um empreendimento de luxo em Salvador. As informações são dos colunistas do UOL Natália Portinari e Aguirre Talento.

A suspeita sobre o valor da transação foi um dos motivos pelos quais a investigação da Operação Overclean, que apura fraude a licitações e corrupção, foi enviada ao STF (Supremo Tribunal Federal)

Elmar nega que tenha pagado menos pelo imóvel. “Se está anunciado por esse preço [R$ 12 milhões], o cara não vai vender nunca”, disse ao UOL, ao ser informado do anúncio de venda de um apartamento de mesmo tamanho no condomínio. “Quando eu comprei, o apartamento estava abandonado, totalmente depreciado.”

O imóvel de 210 metros quadrados no Porto Trapiche Residence foi comprado da Patrimonial Moura Ltda por Elmar Nascimento e sua esposa por R$ 3 milhões em 30 de março de 2023. Bárbara Carvalho de Moura Abreu, filha de Marcos Moura, é sócia da empresa.

O casal pagou, portanto, por volta de R$ 15,7 mil pelo metro quadrado. Anúncios de imóveis no mesmo prédio, porém, estão na média de R$ 44 mil o metro quadrado, valor confirmado por profissionais que trabalham no mercado de luxo da capital baiana.

Corretores ouvidos pelo UOL afirmam que o prédio tem um dos metros quadrados mais caros de Salvador, superado apenas por alguns imóveis no Corredor da Vitória —onde também há vista para o mar e píer privado—, como aquele onde mora Ivete Sangalo.

Elmar refuta essa avaliação e diz que os preços anunciados por esses estão fora da realidade do mercado. “Pode falar para os corretores [ouvidos pelo UOL] que estão autorizados a vender o meu”, disse.

A escritura de venda do imóvel para o deputado foi encontrada no cofre de uma das empresas de Marcos Moura em uma busca e apreensão da Operação Overclean no final do ano passado.

Do valor do imóvel adquirido por Elmar, R$ 1,6 milhão foi pago através de um financiamento do Banco de Brasília (BRB), segundo a matrícula obtida pelo UOL. O restante, R$ 1,39 milhão, foi inteirado com outro apartamento de Elmar no mesmo edifício, de 109,72 metros quadrados.

Ao autorizar o financiamento, o BRB, banco estatal do governo do Distrito Federal, aceitou uma estimativa do valor do imóvel em R$ 3,3 milhões.

Marcos Moura e sua filha não responderam ao contato da reportagem.

O que a PF investiga

A Polícia Federal apura duas licitações suspeitas de fraudes bancadas com emendas de Elmar Nascimento em Campo Formoso (BA), cidade administrada por seu irmão, Elmo Nascimento, para pavimentar rodovias no entorno do município.

Ambas foram vencidas pela Allpha Pavimentações, dos irmãos Fábio e Alex Parente, empresários aliados de Marcos Moura e que contavam com a influência do “rei do lixo” para vencer certames em prefeituras e governos estaduais, segundo aponta a investigação.

O primo de Elmar, Francisquinho Nascimento, era secretário da prefeitura. Trocas de mensagens obtidas pela PF indicam que ele atuou para fraudar as concorrências e beneficiar a Allpha Pavimentações, como mostrou o UOL.

Investigadores suspeitam que Elmar tenha sido beneficiado irregularmente com a transação do imóvel em Salvador. Também foram identificadas conversas entre os investigados e um assessor do parlamentar. Por isso, a investigação foi enviada ao STF.

“Não tem [só] conversa do meu assessor, tem minha. O Marcos é uma pessoa da nossa convivência pessoal. Muito amigo do [ACM] Neto. Não posso dizer que era meu amigo, porque eu achava que Arthur Lira era meu melhor amigo na vida e não era”, disse Elmar ao UOL.

Segundo ele, as conversas tratavam de política, já que Moura integrava a cúpula do União Brasil. “O hobby dele era política. Essa foi a maior imbecilidade dele, porque ele está sendo arrastado para dentro disso [da Operação Overclean] por isso.”

Procurado, o BRB disse que “todas as avaliações de imóveis são terceirizadas e seguem padrão de mercado”.

“Em relação a contratos que envolvem PEP (pessoas politicamente expostas) o BRB esclarece que eles passam, ainda, por uma auditoria prévia, além de todo acompanhamento de governança da instituição, com monitoramento permanente das operações após início do relacionamento com o cliente. Por fim, o BRB não comenta casos específicos de clientes em função do sigilo bancário”, disse o banco.