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Brasil

Fogo destruiu 10 vezes mais a Amazônia do que o corte de árvores, em 2024, aponta Mapbiomas

Somando todos os biomas, uma área do tamanho do Tocantins foi queimada no Brasil, de janeiro a outubro; dados foram apresentados na COP29.

Os últimos sete dias tiveram médias diárias altas de incêndios na floresta. (Foto:Reprodução)

O recorde de incêndios ocorrido no Brasil esse ano fez com que o fogo se transformasse no maior inimigo da Amazônia. De janeiro a outubro, os incêndios florestais consumiram uma área cerca de 10 vezes maior do que o total desmatado no bioma, no último resultado oficial da taxa Prodes. Segundo o Monitor do Fogo, elaborado pelo MapBiomas os incêndios em todo o Brasil no ano atingiram uma área do tamanho do Tocantins nesse período. As informações são do jornal O Globo.

De acordo com o resultado 2024 da taxa Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe), foram desmatados 650 mil hectares na Amazônia. Esse cálculo, que monitorou o período de agosto de 2023 a julho de 2024, considera a quantidade de floresta convertida em outro tipo de solo, como pastagem.

Já os dados do Monitor do Fogo indicam que os incêndios florestais alcançaram 6,7 milhões de hectares na Amazônia entre janeiro e outubro desse ano, ou seja, número mais que 10 vezes maior que a taxa de desmatamento, e que pode impactar no Prodes 2025. Os dados foram apresentados durante a COP29, em Baku, no Azerbaijão. Enquanto o Prodes analisa cortes rasos e a derrubada de árvores, os incêndios degradam a floresta, mas não necessariamente vão derrubar a árvore.

Então, são eventos diferentes, apesar de ambientalmente degradantes. Esse nível de discrepância entre os números de incêndios florestais e os do desmatamento é a maior já observada desde 2019, quando o Monitor do Fogo se iniciou.

— É a maior proporção, disparada, desde que começou o monitoramento — disse Ane Alencar, diretora de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), que integra a rede do MapBiomas. — Queimar pastagem é mais normal. Mas esse ano queimou principalmente vegetação nativa e floresta. A gente fez essa comparação para que as pessoas tivessem dimensão. Estamos felizes com a redução recente da taxa de desmatamento, mas olha o tanto de floresta sendo impactada pelo fogo, sendo degradada.

Em nota técnica divulgada nesta quarta (20/11), o MapBiomas afirma que “pela primeira vez desde o início do monitoramento do fogo em 2019, no período de janeiro a outubro, a área de formação florestal queimada no bioma Amazônia superou a área de pastagens atingidas, revelando um avanço preocupante da destruição em regiões naturalmente preservada”.

Segundo Alencar, os números foram recebidos na COP29 de forma “estarrecedora”. Ela explica que a estatística ganhou ainda mais importância porque os acordos e protocolos internacionais que visam à redução das emissões de gases de efeito estufa não consideram, para cálculos de emissões por países, os incêndios florestais. Parte da explicação é o fato que incêndios em muitos países do norte do planeta ocorrem de forma natural, mas no Brasil a quase totalidade das queimadas deriva de ação humana.

— Achamos que isso tem que ser revisto para fins de NDC (metas climáticas), no IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), porque é um aspecto importante das emissões, ainda mais se tivermos mais anos assim de novo, com intensos incêndios — explica a diretora do Ipam.

Enquanto 6,7 milhões de hectares se refere à área de incêndio florestal, a quantidade de queimadas totais na Amazônia foi muito maior: 15,5 milhões de hectares. Alencar explica que, desse fogo, 55% teve como ponto de início áreas de pastagens, e 25% das queimadas começaram na própria floresta. Além da ação humana, o alto número de 2024 foi influenciado pela seca severa que assolou a Amazônia, diz Alencar, o que implica um desafio a mais do que a fiscalização de desmatamentos.

Mais da metade dos incêndios em todo o Brasil aconteceu na Amazônia, de janeiro a outubro (55% ou 15,1 milhões de hectares), aponta o Monitor do Fogo. No ano passado, o bioma respondeu por 21% do total do país. Em outubro, o fogo foi ainda mais concentrado na Amazônia: 73% das queimadas no país.

Fogo no Brasil (janeiro a outubro):

Amazônia: 15.1 milhões de hectares (55% do total)
Cerrado: 9,4 milhões de hectares
Pantanal: 1,8 milhão de hectares
Mata Atlântica: 933 mil hectares
Caatinga: 233 mil hectares – queda
Pampa: 3,2 mil hectares – queda

De janeiro a outubro desse ano, um Tocantins inteiro queimou no Brasil, destaca o MapBiomas: 27,6 milhões de hectares, uma área 119% maior do que o total queimado no mesmo período do ano passado. Esse aumento, de 15 milhões de hectares, é mais que todo o estado do Ceará.

Depois da Amazônia, o pior resultado foi o Cerrado, com 9,4 milhões de hectares de área queimada – 85% (ou 8 milhões de hectares) em áreas de vegetação nativa, um aumento de 97% em comparação com o mesmo período de 2023. Já o Pantanal teve o maior aumento proporcional em relação ao ano passado: 1.017%, ou 1,6 milhão de hectares a mais. Na Mata Atlântica, as queimadas atingiram 993 mil hectares nos primeiros 10 meses do ano : 71% em áreas agropecuárias.

Do outro lado, dois biomas tiveram redução nos números de queimadas: Pampa teve seu menor valor dos últimos três anos, resultado da alta de chuvas no Sul. E a Caatinga, onde queimaram 233 mil hectares, uma redução de 49% em relação ao mesmo período de 2023. No entanto, 85% do que queimou na Caatinga era vegetação nativa.

Somente Mato Grosso, Pará e Tocantins, em ordem os estados com mais incêndios no ano, responderam por 56% das queimadas do Brasil. A vegetação nativa foi o tipo de vegetação que mais queimou: 74%. Já as formações florestais foram 25% da área consumida. Os municípios de São Félix do Xingu (PA) e Corumbá (MS) registraram as maiores áreas queimadas entre janeiro e outubro de 2024, com 1,4 milhão de hectares e 795 mil hectares, respectivamente.

O MapBiomas ainda destaca que, entre 1985 e 2023, o fogo afetou quase metade (44%) das pastagens plantadas no Brasil pelo menos uma vez, o que equivale a 72,6 milhões de hectares. A maior parte ocorreu na Amazônia.


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