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Amazonas

Em Manaus, ambulâncias do Samu rodam por horas procurando vagas para deixar doentes, diz diretor

O chefe do Samu em Manaus, Ruy Abrahim, classificou a situação como desesperadora. “Todas as unidades de portas fechadas! Não aceitam mais nenhum paciente!”, disse.

Ambulâncias do Samu de Manaus estão tendo que permanecer com paciente por até três horas procurando vagas e, às vezes, o tempo não é suficiente, e a morte ocorre no veículo. A informação foi publicada nesta quinta-feira, no site do jornal Folha de São Paulo. “Falta respirador (mecânico), oxigênio, equipe, maca, está faltando tudo”, disse diretor técnico do Samu, o médico Domício Magalhães Filho, “Todo mundo que chega ao hospital recebe só cuidados paliativos e fica ali para morrer”, afirmou.

“Não quero criar um pânico, mas preciso demonstrar o que está acontecendo. Antes da pandemia, eram 30 enterros por dia, agora está passando de cem. Tanto as pessoas que têm síndrome respiratória aguda, como as que não têm estão morrendo, porque não tem como dar assistência a mais ninguém”, disse.

“Muitos pacientes não conseguem receber atendimento, imagina testes (de Covid-19). “Tem vez que, quando chegamos, o paciente já está em rigidez cadavérica. A gente pergunta para a família, e eles respondem: ‘Tem dez dias que ele está gripado, com falta de ar. A gente tenta atendimento e não consegue em lugar nenhum’”, informou o diretor.

Em mensagem publicada na madrugada desta quinta-feira, 23, o chefe do Samu em Manaus, Ruy Abrahim, classificou a situação como desesperadora. “Todas as unidades de portas fechadas! Não aceitam mais nenhum paciente! Estamos com oito ambulâncias perambulando pela cidade, sem ter onde deixar o doente!! Restante das ambulâncias com material preso, incluindo cilindros de oxigênio”, afirma.

Abrahim relata ainda que equipamentos de medição de oxigênio estão sumindo. “O que devemos fazer?? Só nos resta deixar de atender!! O que fazer??????”, escreveu.

Nova rotina

Lotada na Base Sul do Samu, a médica intervencionista Alessandra Said informou ao jornal que o número de ocorrências não se alterou com a epidemia -o aumento de socorro por problemas respiratórios foi compensado pela diminuição de casos de acidente de trânsito e baleados.

O trabalho, no entanto, está mais exaustivo e perigoso. Cerca de 30% dos profissionais de saúde do Samu já estão afastados por contaminação pelo novo coronavírus. O restante teve de se adaptar a novos e demorados protocolos.

Agora, além do macacão do Samu, é preciso colocar outro, branco e impermeável, por cima, que cobre a até a cabeça. Sob o forte e úmido calor amazônico, o suor e o desgaste físico são inevitáveis.

Depois de cada paciente com quadro de Covid-19 transportado, é preciso fazer uma minuciosa descontaminação. O processo leva cerca de uma hora e inclui parte da vestimenta -o macacão é descartado. Antes, a limpeza tomava em torno de 15 minutos. “Agora a gente passa muito tempo com uma ocorrência só”, afirma Said, enquanto espera a limpeza da UTI móvel. Mais tarde, ela teria de voltar ao 28 de Agosto para reaver a maca e o cilindro.

Com 11 anos de experiência no Samu, a médica diz que a Covid-19 apenas piorou um sistema de saúde de Manaus precário: “A gente passa por isso há muito tempo”. Segundo ela, já era comum emprestar macas a hospitais, embora não cilindros de oxigênio.

Para Magalhães Filho, a crise sem precedentes provocada pelo novo coronavírus vem obrigando o Samu a tomar escolhas difíceis, como deixar de atender casos de parada cardiorrespiratória.

“Infelizmente, é um raciocínio que a gente precisa internalizar. Nós, da saúde, queremos reanimar, que a pessoa volte, porque queremos fazer parte daquela vitória, mas infelizmente não tem lugar para receber esse paciente, não tem equipamento pra mantê-lo, não tem. É guerra, e guerra é assim”, disse.


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