Brasil
Cientistas brasileiros investigam terremotos profundos na Amazônia Ocidental, para investigar o interior da Terra
Principal objetivo é determinar a estrutura sísmica detalhada da placa de Nazca sob a Amazônia Ocidental.
Um grupo de pesquisadores brasileiros, liderado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), está investigando a existência de terremotos profundos na Amazônia Ocidental.
A iniciativa conta com a colaboração do Observatório Nacional (ON), que disponibiliza equipamentos e expertise na área de sismologia e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O objetivo central da pesquisa é compreender a estrutura geológica da placa de Nazca, localizada abaixo da área, além de desvendar mecanismos que originam terremotos a profundidades que variam entre 550 e 650 quilômetros.
A placa de Nazca é uma placa tectônica situada à oeste da América do Sul, ao lado dos Andes. Estes próprios formaram-se quando ocorreu um choque entre Nasca e a Placa Sul-americana. Tem uma área de 15,6 milhões de quilômetros quadrados. O nome Nazca vem da cidade inca.
Apesar de serem menos frequentes e intensos que os terremotos superficiais, esses eventos sísmicos podem fornecer informações valiosas sobre o interior da Terra.
Estudos
Para que seja possível a investigação, cientistas instalaram uma rede de sismógrafos em diversas localidades da região amazônica.
Os sismógrafos são instrumentos captam as vibrações do solo causadas pelos terremotos, permitindo aos pesquisadores analisar a propagação das ondas sísmicas e construir modelos tridimensionais da estrutura interna da Terra.
Os dados coletados por essa rede também serão utilizados para aprimorar os sistemas de alerta precoce de terremotos na área, beneficiando a população e gestores públicos.
Cientistas brasileiros vão fazer uma tomografia sísmica para avaliar o que causa terremotos profundos na placa de Nazca sob a Amazônia Ocidental.
O objetivo do estudo inédito é detalhar a estrutura e descobrir a origem desses terremotos, que ocorrem entre 550 km e 650 km abaixo do solo na região.
Para fazer a tomografia, uma rede está sendo montada 20 sismógrafos. Esses eventos são particularmente interessantes porque, devido às diferentes condições de pressão e temperatura nessas profundidades, o mecanismo físico por trás desses terremotos profundos não pode ser semelhante ao dos terremotos rasos.
Esses terremotos são um fenômeno bem intrigante, pois não deveriam acontecer nessas profundidades. Há apenas uma dúzia de zonas no planeta com esse tipo de terremoto.
Jordi Julià Casas, pesquisador do Departamento de Geofísica da UFRN
Jordi explica que existem trabalhos em escala continental que estudam essa área, mas todos em resolução é baixa. “Com essa rede queremos obter imagens da estrutura profunda dessa zona para testar hipóteses sobre os mecanismos geradores”, afirma.
Ele explica que essa região tem uma atividade sísmica intensa por conta de sua proximidade com a zona dos Andes, onde há colisão de placas tectônicas —que gera terremotos mais fortes.
Essa área, cita, é a que registra terremotos de maior magnitude no país, mas por conta de sua grande profundidade, não são destrutivos. “Alguns são perceptíveis [na superfície]. Tem terremoto profundo de magnitude 7,5, e o Acre e até outras partes do país percebem”, diz.
Foi nessa área que o Brasil registrou, no último dia 20 de janeiro, o maior terremoto já registrado no país, que atingiu magnitude 6,6 graus na Escala Richter. O epicentro foi no município de Tarauacá (AC), a 614,5 km de profundidade.
Segundo o Romero Pinheiro, Laboratório de Geofísica Aplicada da Ufac (Universidade Federal do Acre), a atividade sísmica dessa região está diretamente relacionada ao limite das placas de Nazca e da América do Sul.
O interessante é que existe uma hipótese que ocorre um mergulho quase vertical [da placa de Nazca] na Amazônia Ocidental, um pouco ao norte do Acre. O ponto de dissipação de energia é bastante profundo, e o terremoto gerado tem característica única em nível mundial.
Romero Pinheiro
Ele afirma que é impossível cravar que a região está imune a terremotos de maior magnitude e cita o tremor de 1994 na Bolívia, que atingiu 8,4 graus na escala Richter e foi sentido em muitas cidades acreanas. “Não temos sistema de previsão do terremoto como ocorre na meteorologia”, lembra.
Foi um tremor profundo, então veja que são imprevisíveis as consequências mesmo para um evento desses. Eu era criança e lembro da casa ‘balançando’, e utensílios domésticos caindo no chão.
Romero Pinheiro
O projeto está sendo financiado com recursos do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e com apoio do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Estudos Tectônicos.
Quando concluído, o estudo deve ajudar as defesas civis a se prepararem para enfrentar possíveis terremotos expressivos, “com planos de evacuação, estratégias de resposta e medidas de segurança com base nas informações sísmicas disponíveis.”
Amazonas
“…no anno passado de 1690, pelo mez de junho ocorreu um grandessíssimo terremoto (…): penhascos caïdos, arvores grossissimas derraigadas e lançadas ao rio; terras muito altas desmoronadas (…) no meio de pedras e arvores amontoadas sobre as margens; por toda parte lagoas abertas, bosques destruídos e tudo sem ordem misturado (…). Continuavam as ruínas por quatro léguas de rio; terra a dentro tinha sido maior o estrago”.
O relato faz parte do diário de Samuel Fritz (IHGB,1917), missionário jesuíta do século XVII, que reportou os estragos causados por um terremoto observados por ele no trecho entre as desembocaduras dos rios Urubu e Negro, e é o primeiro registro histórico dessa instabilidade perto de Manaus, no Amazonas.
Segundo os relatos históricos, em 1690, ocorreu um grande terremoto na Amazônia que derrubou penhascos, árvores grandes e inundou as terras. Todos os índios atribuíam o fato a Samuel Fritz, considerado uma espécie de profeta. Depois, Assumpção & Suárez (1988) informaram um terremoto de magnitude 5.1, ocorrido em 14 dezembro de 1963, com epicentro na margem esquerda do Rio Negro, na região do arquipélago das Anavilhanas.
Samuel Fernandes Fritz foi um padre missionário e cartógrafo á serviço da Espanha na Companhia de Jesus, que ajudou a catequizar vários povos indígenas nas várzeas do alto Rio Solimões, além de ser um dos grandes críticos contra a expansão portuguesa na Amazônia. Nascido em berço nobre, estudou humanidades e filosofia durante boa parte da juventude, ingressando na Companhia de Jesus aos 19 anos em 1673. No ano de 1685, ele é encaminhado para as Índias Ocidentais, na província de Quito.
Ao longo de 40 anos, Samuel Fritz trabalhou em grandes trechos do rio Solimões em uma área que ia desde a foz do Rio Napo até a foz do Rio Negro, região toda mapeada por ele.
Fonte: D24am. Leia mais em https://d24am.com/amazonia/padre-jesuita-fez-primeiro-relato-de-terremoto-no-amazonas-em-1690/
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