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Amazonas

Conselheiros indígenas denunciam que alunos são aprovados de ano sem frequentar um dia de aula no interior do Amazonas

Professores denunciam péssima infraestrutura da educação indígena e ausência de educadores nas aldeias

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Foto: Reprodução/Radar Amazônica

A conselheira Estadual de Educação Escolar Indígena da Calha do Purus, Iza Mura, professora que reside em Beruri (AM), denunciou, nesta terça-feira (02/04), as péssimas estruturas ofertadas pela Secretaria de Estado de Educação e Desporto (Seduc) aos estudantes indígenas do Amazonas. Ela informou que em algumas aldeias, alunos estão passando de ano sem sequer ter estudado um dia em sala de aula.

“As reiniciações são muitas. Processo seletivo que foi novamente prorrogado e isso está sendo um sério problema nas regiões. Falta de merenda escolar, de materiais (escolares). Falta de contratação de professores. Alunos que estão matriculados no sistema há mais de 3 anos e não tem contratação de professores. Alunos que estão sendo passado de ano sem ter estudado um dia. Isso é um crime contra a educação escolar indígena. Isso é um crime contra os povos indígenas, e nós, enquanto Conselho Estadual de Educação, vamos denunciar essa falta de respeito com a população indígena do estado. Não é de hoje que isso vem acontecendo e nós já estamos cansados de buscar diálogo e a Secretaria de Educação não quer conversar. Nós não somos o problema do Estado. É o Estado que é o nosso problema, a Seduc que é o nosso problema”, declarou a conselheira, reforçando que alunos do Ensino Médio esperam nas aldeias há três anos por professores. “Nós estamos aqui reivindicando a contratação de professores indígenas para atuar nas turmas do ensino médio que estão (há) mais de 3 anos aguardando essas contratações”, completou.

A conselheira informou ainda que em Beruri, seis aldeias estão sem professores desde o ano de 2022. “Com essa prorrogação de não contratação, essas aldeias que nunca iniciara o Ensino Médio corre o risco novamente desses alunos serem repassados de ano sem terem pisado um dia na sala de aula. Isso é uma coisa muito grave que a gente considera. Uma das maiores aldeias do povo indígena Apurinã, aldeia São Sebastião, está sendo prejudicado. A gente está preocupado desses alunos passarem de ano, sem ter um dia estudado. Nós sabemos, que inventar nota é um crime”, disse.

“Queria perguntar se o governador do Estado (Wilson Lima), se o Governo do Estado, estão sabendo que a Seduc e a Gerência Escolar Indígena está passando esses alunos de ano sem ter nada de forma oficial? Não tem aula e eles estão passando de ano. Isso é uma coisa muito grave”, questionou.

O professor indígena Gil Mura, de Autazes (AM), ressaltou que com a prorrogação do Processo Seletivo Simplificado Indígena (PSS) para a contratação de professores, aldeias localizadas nos municípios de Autazes, Manaquiri e Careiro Castanho, estão sendo prejudicadas. “Essas escolas, nessas aldeias estão sendo prejudicadas. Estão há 3 anos para começar o ensino presencial indígena. Quando veio esse PSS Indígena, desse ano, os professores fizeram esse processo seletivo. Mas o Estado prorrogou. Algumas aldeias têm professor com vínculo. Mas essas aldeias que não têm professor e estão esperando há três anos?”, declarou.

Apoio escolar
Iza Mura denunciou também que os professores tiram dinheiro do próprio bolso para a compra de material pedagógico. “Nós, como professores, a gente compra materiais para trabalhar muitas das vezes. Nas escolas, muitas vezes, tem que quebrar lápis ao meio, e isso o estado não está fazendo o papel dele de fato; a Seduc não está atuando como deve na educação escolar indígena. Então, em vez de o Estado e a Seduc fazerem o seu papel, somos nós os professores indígenas que estamos fazendo esse papel lá na ponta, de gestão, e em termos pedagógicos também”, disse a professora.

Conselheiros
Segundo Iza Mura, há dois anos o Conselho Estadual de Educação Escolar Indígena (CEEEI) tenta uma agenda com a pasta. Por conta desse motivo, 23 conselheiros da Educação Indígena de várias regiões do Amazonas estão na sede do Conselho, na Seduc, para tentar uma solução para a problemática que afeta os alunos das regiões.

A docente disse que uma reunião foi agendada com a Gerência de Educação Indígena da Seduc para as 16h desta terça-feira (02).

Caso a secretária Arlete Mendonça não receba os conselheiros indígenas e nem dê solução definitiva para o caso, os conselheiros ficaram acampados por tempo indeterminado na secretaria, conforme anunciou Iza Mura.


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