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Amazonas

Seringueiros do Rio Unini, no Amazonas, retomam produção após acordo com fábrica de pneus

Acordo com fabricante de pneus para fornecimento de látex deve beneficiar inicialmente 30 famílias da Unidade de Conservação que extraem o produto.

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A Cooperativa Mista Agroextrativista do Rio Unini, com sede em Novo Airão, no Amazonas, renovou o contrato com a Michelin Indústria de Pneus para a compra da safra de látex da Reserva Extrativista do Rio Unini. O acordo representa uma retomada da atividade extrativista mais tradicional e uma das mais antigas da região amazônica.

João Evangelista Rodrigues de Souza, presidente da Cooperativa Mista Agroextrativista do Rio Unini, de Novo Airão-AM, diz que o contrato, além de garantir previsibilidade para a produção deste ano, traz mais transparência para o mercado da borracha. “O primeiro acordo foi em 2023 e para esse ano pretendemos incluir mais famílias produtoras”.

A multinacional francesa, que possui uma unidade industrial em Manaus, depositou R$ 16 mil iniciais na conta da cooperativa e vai pagar R$ 14 por quilo produzido entregue, sendo R$ 12 para o coletor e R$ 2 para a cooperativa. A previsão é que sejam produzidas pelo menos duas toneladas de látex entre junho deste ano e janeiro de 2025.

Os equipamentos para a extração da seringa, que incluem canecas e outros apetrechos, foram fornecidos pelo Memorial Chico Mendes, Organização da Sociedade Civil de Interesse Público com sede em Manaus, que presta assessoria técnica aos extrativistas.

A mobilização das famílias na atividade da extração do látex é uma preocupação de Evangelista, para que a atividade possa aproveitar o potencial de produção calculado em até 80 toneladas por ano. “O que falta é mão de obra local para isso”, afirma o presidente da cooperativa. A previsão é que cerca de 30 famílias tenham uma renda complementar a partir do extrativismo da borracha nesta safra.

Para o chefe do Núcleo de Gestão Integrada do ICMBio em Novo Airão, Hueliton Ferreira, responsável pela gestão da Resex do Rio Unini em conjunto com a comunidade da UC, a retomada da produção de borracha representa o recomeço da atividade extrativista mais emblemática da história da região. “Para as famílias significa não apenas uma alternativa de complementação de renda, mas também um retorno às raízes do extrativismo. Na Resex do Rio Unini, a extração da borracha estava há mais de quatro décadas sem ser exercida”, conta o gestor.
Na Resex do Rio Unini também acontece o manejo sustentável do pirarucu e grande produção de castanha do Brasil, comercializada pela COOMARU, fazendo com que a Resex cumpra com seu principal objetivo de criação que é proteger os meios de vida e a cultura dessas populações extrativistas tradicionais, assegurando o uso sustentável dos recursos naturais da UC.

Os ciclos da borracha

A produção de borracha foi uma das mais importantes atividades econômicas da Amazônia, tendo forte relação com o nascimento da indústria automobilística, como matéria-prima para pneus e mangueiras. A seiva da seringueira era extraída de árvores nativas na floresta. No final do século XIX, houve o primeiro ciclo da borracha, mas em 1875, um viajante inglês levou sementes da Hevea brasiliensis para o exterior, e nos anos 1920 as plantações de seringueiras na Malásia dominaram o mercado mundial do produto, dado o menor custo de produção. Tentativas de cultivar plantações de seringueiras na Amazônia, como a experiência de Henry Ford no Baixo Tapajós, não prosperaram, e o primeiro ciclo da borracha teve fim.

Com a tomada da Malásia pelos japoneses na Segunda Guerra Mundial, teve início o segundo ciclo da borracha no Brasil, quando aproximadamente 150 mil pessoas, a maioria nordestinos, foram arregimentados para a produção de látex para os Aliados, ficando conhecidos como Soldados da Borracha. Ao fim do conflito, o mercado internacional voltou a ser abastecido pelas plantações do sudeste asiático, pondo fim ao ciclo e deixando o contingente enviado à Amazônia no contexto da guerra praticamente abandonado nas colocações.

Os seringueiros que vieram para o norte do país para extrair borracha entre os séculos XIX e XX, sem chances de retornar para a terra natal, com o declínio do mercado para o látex brasileiro, estabeleceram um modo de vida tradicional baseado na pequena agricultura e extrativismo vegetal, passados de geração em geração, perpetuados até o presente por parte expressiva das populações tradicionais nas Reservas Extrativistas, categoria de unidade de conservação criada a partir da luta dos seringueiros, entre ele Chico Mendes, para garantir o direito dessas populações à terra e ao seu modo de vida em harmonia com a floresta, frente ao avanço do desmatamento na Amazônia.


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