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Milei assume na Argentina, anuncia forte ajuste fiscal e corta Ministérios pela metade

Durante o discurso de posse o novo presidente decretou “o fim da noite populista e o renascer de uma Argentina próspera e liberal”.

De frente para seus seguidores e militantes e de costas para o Congresso, gesto inédito numa posse presidencial na História da Argentina, o líder da ultradireita nacional Javier Milei, um economista e outsider que iniciou sua carreira política em 2021 com a bandeira de combate à “casta política”, assumiu neste domingo a Presidência do país.

Num palco inspirado na estética americana, Milei fez um primeiro discurso no qual detalhou o que chamou de “bomba” deixada pelo governo de Alberto Fernández e Cristina Kirchner, acusou-os de terem “arruinado nossas vidas”, e avisou que a única alternativa que tem para enfrentar uma “situação de emergência” é implementar um brutal ajuste fiscal. Num segundo discurso, numa das sacadas da Casa Rosada, o novo presidente decretou “o fim da noite populista e o renascer de uma Argentina próspera e liberal”.

O que a mídia local já chama de “Era Milei” começou com o aviso de que os próximos meses serão complicados, com altas taxas de inflação, necessidade de cortes expressivos de gastos e sacrifícios por parte de todos para encarar uma “herança que nenhum outro governo recebeu”. E dando mostras do que vem por aí, seu primeiro ato como presidente foi cortar pela metade o número de ministérios, de 18 para 9.

— O começo será duro… devo dizer de novo: não tem dinheiro — declarou o novo presidente, repetindo um mantra adotado por seu Gabinete e que já estampa camisetas que ontem eram vendidas no centro de Buenos Aires. — Depois de uma reacomodação macroeconômica que vamos impulsionar, a situação começará a melhorar. Haverá luz no fim do túnel — afirmou Milei, que nos momentos mais importantes do dia esteve ao lado de sua irmã, Karina Milei, chamada por ele de “a chefe”, e que neste domingo assumiu como Secretária-Geral da Presidência. Mais uma novidade na política argentina.

A posse dentro do Parlamento foi sóbria e breve. O novo presidente recebeu de Fernández a faixa e o bastão presidenciais, prestou juramento como chefe de Estado e, como estava previsto, não discursou, decisão inédita e que causou profundo mal-estar no Parlamento. A única pessoa com que Milei interagiu foi a agora ex-vice-presidente Cristina Kirchner, a quem mostrou o detalhe de seu bastão talhado à mão e que tem os rostos de seus cinco cachorros, com os respectivos nomes. Foi um breve momento de distensão.

Sair do buraco

Acompanhado por poucos líderes estrangeiros — entre eles o ucraniano Volodymyr Zelensky, o uruguaio Luis Lacalle Pou e o premier da Hungria, Viktor Orbán— Milei disse aos argentinos que seu governo encerrará “uma longa e triste história de decadência”. O Brasil foi representando pelo chanceler Mauro Vieira, que cumprimentou o novo presidente na Casa Rosada.

Depois de lembrar as épocas em que Argentina foi uma das nações mais ricas do mundo, no início do século XX, e destacar as políticas liberais daqueles tempos, o novo presidente responsabilizou a classe política pelas sucessivas crises que há décadas assolam o país.

— As ideias da liberdade são a única forma de sair do buraco — ressaltou Milei.

O novo presidente mencionou todas as dívidas que seu governo vai herdar e não tem recursos para pagar, entre elas as do Banco Central e da companhia estatal de petróleo que, juntas, atingem US$ 25 bilhões. A lista inclui, também, dívidas do Tesouro Nacional por um total de US$ 35 bilhões, dívidas por pagamentos a importações não saldados que chegam a US$ 30 bilhões, e dívidas com empresas estrangeiras estimadas em US$ 10 bilhões, entre outras.

— Esta é a bomba em termos de dívida [que recebemos] de cerca de US$ 100 bilhões, e que devemos somar aos US$ 420 bilhões que o país já tinha. E, naturalmente, temos de acrescentar os vencimentos da dívida de 2024, que chegam a cerca de US$ 90 bilhões, mais US$ 25 bilhões [de dívida] com organismos internacionais. Este começo será a última bebida amarga, antes de começar a reconstrução da Argentina — disse o presidente, que na parte da tarde empossou os nove ministros que integram o novo Gabinete.

O anúncio das primeiras medidas econômicas é esperado para o início desta semana. O novo ministro da Economia, Luis Caputo, está trabalhando em ritmo frenético para terminar de elaborar as iniciativas que darão a largada num processo que, enfatizou o novo presidente, será desafiador. Paralelamente, a equipe da área legal e técnica do novo governo está preparando um pacote de projetos de lei, a ser enviado ao Parlamento na primeira semana de gestão.

Até 2 anos de inflação alta

O primeiro decreto presidencial, assinado ainda neste domingo, determina que o novo Gabinete terá apenas nove ministérios, o que implicou a eliminação de outras nove pastas: Educação; Trabalho; Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; Ciência , Tecnologia e Inovação; Cultura; Mulheres, Gênero e Diversidade; Turismo; Esporte; e Desenvolvimento Territorial e Habitacional.

— Nenhum governo recebeu uma herança como a que nós estamos recebendo. O kirchnerismo, que em seus inícios dizia que tinha superávit fiscal e externo, nos deixa déficits que representam 17% do PIB — apontou o presidente.

Milei assegurou que “não existe solução viável [para a crise] que evite atacar o déficit fiscal”. O novo presidente afirmou que o BC deixará de emitir pesos para financiar o Tesouro Nacional, mas esclareceu que, mesmo deixando de emitir, o país terá inflação alta nos próximos 18 ou até 24 meses. Segundo Milei, se as medidas de ajuste não forem adotadas, a Argentina poderá ter uma inflação anual de 15.000%, em pouco tempo.

O presidente disse que a inflação mensal da Argentina está entre 20% e 40% e acusou o governo de Fernández de ter “deixado plantada uma hiperinflação”.

— Arruinaram nossa vida. Nossa máxima prioridade é evitar uma catástrofe — enfatizou Milei, que também disse que a situação em matéria de segurança, saúde e educação é grave. Sobre o aumento da insegurança no país, o presidente assegurou que a Argentina vive “um banho de sangue”.

Braços abertos

Embora tenha tentado manter uma imagem de líder da antipolítica, Milei, que precisará negociar acordos no Parlamento para aprovar projetos de lei, fez um aceno ao sistema político. Seu partido, A Liberdade Avança, será a terceira minoria parlamentar, e dependerá dos votos de aliados circunstanciais.

— Todos os que quiserem se unir serão recebidos com os braços abertos. Não importa de onde venham, o único que importa é para onde querem ir — declarou o novo presidente.

Para formar seu Gabinete e seu governo, Milei teve de apelar a partidos tradicionais, inclusive ao próprio peronismo. Os dois principais aliados de Milei são o ex-presidente Mauricio Macri e a ex-candidata-presidencial-sera-ministra-da-seguranca-de-futuro-governo-argentino. Essas alianças provocaram irritação dentro do partido do presidente, e os primeiros gestos de Milei buscaram derrubar as teorias de que antes mesmo de sua posse selou pactos com a casta que prometeu combater. Seu governo deverá encontrar um equilíbrio entre as bandeiras que o levaram ao poder e a dependência do sistema político.

As informações são do jornal O Globo.


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