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Amazonas

Seca em Manaus diminui e indústrias da Zona Franca aceleram contratações, diz presidente de sindicato

De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de Manaus (AM), a contratação de temporários deve somar 5 mil neste ano.

Depois de enfrentar uma grave seca que afetou o nível dos rios e atrapalhou o transporte de mercadorias na região, as indústrias da Zona Franca de Manaus (AM) aceleram as contratações de trabalhadores temporários para recuperar o tempo perdido nas encomendas de fim de ano. A melhora no volume dos rios, ainda que gradual, tem permitido a retomada do transporte fluvial na região Amazônica nos últimos dias. As informações são do jornal Estado de São Paulo.

No pior momento da crise que atingiu a Amazônia, o transporte de carga chegou a ser feito por caminhões embarcados em balsas, que carregam volumes muito menores. Isso provocou a antecipação de férias coletivas de linhas de produção em várias indústrias. Houve até companhias que recorreram a aviões para transportar maior quantidade de matérias-primas e poder honrar as entregas – porém, a um custo muito mais elevado.

Agora, algumas fábricas estão ampliando as admissões de temporários. Além de tirar o atraso na produção, elas também precisam dar conta da forte demanda por aparelhos de ar-condicionado. A perspectiva é de que o aumento das temperaturas continue até o início do ano que vem, o que tende a continuar impulsionando a procura por climatizadores e aparelhos de ar-condicionado.

De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de Manaus (AM), a contratação de temporários deve somar 5 mil neste ano. O volume representa um acréscimo de mil trabalhadores a mais em relação a igual período do ano passado e às previsões iniciais. Atualmente, o polo industrial de Manaus tem 117 mil empregados.

O presidente do sindicato, Valdemir Santana, conta que a TCL Semp, fabricante de aparelhos de ar-condicionado e TVs, por exemplo, fez uma contratação adicional de 110 temporários nos últimos 20 dias. Por meio de nota, a companhia confirma a decisão, sem dar números, e esclarece “que antecipou as contratações para suprir a demanda da sazonalidade”.

A Philco, que fabrica TVs, aparelhos de ar-condicionado e fornos de micro-ondas em Manaus, confirmou a contratação de 200 trabalhadores para janeiro do ano que vem na unidade da Zona Franca.

“A situação já esteve pior”, diz Santana, fazendo referência ao transporte fluvial por meio de grandes navios de carga e os impactos sobre a produção das fábricas. Desde o dia 21 de novembro, observa ele, as empresas que tinham dado férias estão retomando a produção.

No entanto, esse comportamento não é uniforme para todas as empresas e as decisões de produzir ou parar variam de acordo com os volumes de estoques e de pedidos de cada uma. Pesquisa feita pelo Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam) revela que nenhuma das 182 empresas do polo industrial parou totalmente nesse período e 12% delas registraram algum tipo de interrupção nas linhas de produção.

A Electrolux, por exemplo, que produz aparelhos de ar-condicionado e fornos de micro-ondas em Manaus (AM), disse que realizou pausas esporádicas e que a fábrica voltou a operar em sua capacidade máxima. “O abastecimento está gradualmente sendo estabilizado”, diz a empresa, por meio de nota.

Volta à normalidade

O coordenador da Comissão de Logística do Cieam, Augusto César Rocha, diz que a previsão dos armadores é de que, até 30 de novembro, navios de maior porte voltem a transitar nos rios por causa das obras de dragagem e das chuvas. Porém, ainda com 60% da ocupação por causa do baixo nível dos rios. “Minha previsão é de que o transporte por meio de navios de grande porte só volte ao normal em 30 de dezembro”, diz o coordenador.

Rocha ressalta que o transporte fluvial de carga nunca foi interrompido completamente nos últimos 30 dias. Mas, por causa do baixo nível dos rios, o deslocamento das cargas passou a ser feito por meio de balsas, que carregam muito menos do que 3 mil contêineres, que é a capacidade de um grande navio.

Nas contas da entidade, o custo adicional de logística provocado pela seca deve passar de R$ 1 bilhão este ano e pode afetar os resultados das indústrias de Manaus. Mas ele não vê espaço para repasse dessa alta de custos para os preços dos produtos ao consumidor. “O que regula preço é oferta e demanda.” Rocha frisa que o problema das indústrias é estrutural. Ou seja, não é a seca em si, mas a falta de infraestrutura na Amazônia.

Escassez no Natal

Pesquisa do Cieam mostra que apenas 3% das empresas consultadas declararam risco de desabastecimento de algum produto. “O efeito de desabastecimento para o Natal é insignificante”, observa Rocha.

Já o presidente da Eletros, que reúne a indústria eletroeletrônica, José Jorge do Nascimento, admite que há preocupação com a possível falta de produto para o Natal, caso o nível dos rios não suba até o início de dezembro para que grandes navios voltem a navegar à plena carga.

“Mas, no momento, são riscos que não temos como mensurar, podem ser pontuais”, pondera Nascimento. Ele argumenta que o risco de falta de produto depende do volume negociado para o Natal e que não foi entregue, e também do desempenho da Black Friday, a mega-liquidação do varejo que ocorre na ultima sexta-feira de novembro.

Antecipação

Quando a seca começou, a Bemol, a maior varejista de eletrodomésticos do Norte do País, com lojas no Amazonas, Roraima, Rondônia e Acre, acabou antecipando as compras de Natal. Marcelo Forma, CFO da empresa, conta que recebeu propostas das indústrias da Zona Franca, com condições diferenciadas, para adiantar as encomendas.

Pela proximidade física da varejista do polo industrial de Manaus, os fabricantes preferiram vender localmente para escapar do risco da falta de transporte. Apesar de não ser o caso da sua empresa, o executivo acredita que, para o Natal, devem faltar eletroeletrônicos fabricados na Zona Franca para varejistas de outras regiões do Brasil.

No entanto, a Lojas Cem, que atua no Sudeste, informa que antecipou compras de Natal e tem produto até para o final de janeiro de 2024. “O único item que temos problema é ar-condicionado”, diz o supervisor-geral, José Domingos Alves.

Ele lembra que, no caso do ar-condicionado, a indústria não se preparou para atender à demanda de forma antecipada. “Há desabastecimento de todas as marcas”, diz Alves.

Dados da Eletros mostram que, de janeiro a setembro, os fabricantes entregaram para o varejo 2,8 milhões de aparelhos do modelo split, um volume 17% maior ante o mesmo período de 2022.

A recente onda de calor fez a procura pelo produto explodir. De acordo com site de buscas Buscapé, houve aumento de mais de 120% nas buscas por ar-condicionado no dia 13 de novembro, pico da recente onda de calor, em relação à véspera. E o preço mínimo do produto subiu 8% na mesma base de comparação.

Entre os grandes varejistas, o Magalu também está atento à escassez de aparelhos de ar-condicionado. Por meio de nota, a empresa informa que diante do cenário na Zona Franca de Manaus, adiantou “o abastecimento e a logística de entrega para garantir que a seca não afete as vendas, principalmente de televisão e ar-condicionado”.


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