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Brasil

Governo federal convoca reunião de emergência com governadores do AM e RO para tratar da estiagem

Parlamentares dos estados do Amazonas e Rondônia cobram liberação de contrato para dragagem. Seca pode reduzir a capacidade de transporte em até 40%

O governo federal convocou para a próxima terça-feira (26/09) uma reunião com os governadores de Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), e Rondônia, Marcos Rocha (União Brasil), além dos deputados e senadores dos estados para discutir o aumento da estiagem que atinge a região Norte do país. As informações são da CNN Brasil.

A principal preocupação é com os rios da região que, sem as chuvas, estão muito baixos, o que vem afetando a navegação e a capacidade de transporte.

Neste momento, a seca vem impedindo grandes navios de carga de se deslocarem pelos rios Solimões e Madeira, fazendo com que a população dos estados tema desabastecimento de produtos de primeira necessidade.

Segundo o governo federal, a situação está sendo acompanhada pelos ministérios de Portos e Aeroportos e o de Transportes.

As pastas afirmam que estão aguardando os trâmites finais para a publicação do contrato de dragagem na região do Rio Solimões, que deve ocorrer até o início de outubro. Por lá, as cidades de Benjamin Constant e Tabatinga, que ficam no estado do Amazonas, já tiveram declaradas situação de emergência.

O governador do Amazonas, Wilson Lima (UB) informou à CNN que o Estado prevê a maior estiagem já registrada na região. E que a situação deve afetar a distribuição de água e alimentos para cerca de 500 mil pessoas até o final de outubro. A estimativa é que o estado precise de ao menos R$ 100 milhões em ações emergenciais.

Nesta época, é comum que ocorra queda no nível dos rios até a chegada da temporada das chuvas, em novembro e dezembro. Mas a velocidade com que o rios estão secando preocupa as autoridades.

O quadro fez com o governo federal convocasse uma reunião para avaliar formas de acelerar a dragagem de rios na região. Os ministros de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, e dos Transportes, Renan Filho, foram mobilizados. O ministro do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, também acompanha a situação.

Dragagem

Em relação às regiões da foz do Rio Madeira e do Tabocal, o governo federal informa que está sendo realizado um levantamento para dar continuidade ao processo de contratação de dragagem. A estimativa é de que o processo seja iniciado na primeira quinzena de outubro.

“Falei com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva hoje e com os ministros Renan [Filho] e Silvio [Costa Filho]. Tem que haver a dragagem o mais rápido possível”, afirmou à CNN o senador Omar Aziz (PSD-AM), que vem coordenando junto às bancadas de parlamentares dos estados do Norte as ações que visam minimizar a recente crise climática na região.

No Congresso Nacional, há uma cobrança para que a dragagem – processo de remoção de sedimentos feito para manter a profundidade dos canais de navegação – comece já no início desta semana.

Isso porque, de acordo com dados do governo federal, essa que é pior seca dos últimos anos na região Norte do país e pode reduzir a capacidade de transporte em até 40% em duas semanas.

Dois fenômenos simultâneos podem agravar e até prolongar a seca na Amazônia. Além do El Niño, que aumenta a temperatura das águas superficiais do oceano na região do Pacífico Equatorial, o aquecimento do Atlântico Tropical Norte, logo acima da linha do Equador, inibe a formação de nuvens, reduzindo o volume de chuvas na Amazônia. Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que monitora os rios da bacia Amazônica, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que prevê redução das chuvas para a região Norte, e do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), que acompanha os impactos do El Niño no Brasil, apontam para a simultaneidade dos fenômenos. Todas as unidades são vinculadas ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

“O evento do Atlântico Tropical Norte está se somando ao El Niño. Dois eventos ao mesmo tempo são preocupantes. Tivemos isso entre 2009 e 2010, que foi a maior seca registrada na bacia do rio Negro nos últimos 120 anos”, explica o meteorologista Renato Senna, responsável pelo monitoramento da bacia amazônica no Inpa.

Apesar de o reflexo dos dois fenômenos ocorrerem em regiões diferentes da Amazônia, o aquecimento das águas do oceano desencadeia um mecanismo de ação similar sobre a floresta. Com a água do oceano mais quente, as correntes ascendentes carregam ar aquecido para a atmosfera. Esse ar segue até a Amazônia por meio de duas correntes descendentes. No caso do El Niño, o processo ocorre de leste para oeste – a partir do Pacífico. No caso do Atlântico, do norte para o sul.

“Esse ar mais quente atua inibindo a formação de nuvens e, por consequência, das chuvas”, afirma Senna.

Organismos internacionais, como a Organização Meteorológica Mundial, mostram um planeta mais quente, com recordes de temperatura nos últimos meses. Além disso, o oceano também está mais aquecido. Segundo a nota técnica do Cemaden, o Oceano Pacífico Norte e o Atlântico Tropical estão apresentando temperaturas entre 2 e 4oC graus acima. É nesse novo contexto que os fenômenos estão ocorrendo.

De acordo com o pesquisador Renato Senna, nos anos em que esses eventos ocorreram de forma simultânea, houve atraso no início da estação chuvosa na Amazônia e foram registrados recordes históricos de seca. Além da estiagem expressiva registrada entre 2009 e 2010, houve um episódio em 2005.

“As condições começam a se repetir e provavelmente teremos uma grande seca, com atraso no início da estação chuvosa”, diz Senna.

Apesar de algumas regiões estarem recebendo pancadas de chuva, no momento, o Alto Solimões e a área de extremo leste da Amazônia já apresentam criticidade para navegação. Entre setembro e outubro, é natural haver uma baixa rápida dos rios na região amazônica. “Baixa cerca de 15 centímetros, ou até mais, por dia. Realmente, a gente vê o rio baixando dia após dia”, descreve.

A baixa que ocorre em três meses leva de oito a nove meses para encher novamente. Esse processo é explicado, em parte, pelo reflexo do período seco na região Centro-Oeste do país. De acordo com Senna, os grandes rios que deságuam nas bacias do Norte, como o Araguaia e o Tocantins, ficam longos períodos sem receber chuvas. Toda a margem direita, que é a direção da nascente para foz, dos rios tributários (ou afluentes) do Amazonas, não recebe grandes volumes de chuvas.

Renato Senna observa que a bacia do rio Negro deve ser a primeira a sofrer os impactos da seca e, em seguida, as demais regiões do Solimões. A previsão meteorológica é de que as chuvas para a região amazônica fiquem abaixo da média até novembro. Ainda não é possível prever por quanto tempo o início da estação chuvosa deve atrasar.


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