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Brasil

Na CPI das ONGs, professor aposentado da Universidade Federal de Alagoas repete tese de que desmatamento da Amazônia afete o clima

Luiz Carlos Baldicero Molion é um dos principais representantes do negacionismo climático no Brasil, alegando que o homem e suas emissões de gases estufa na atmosfera são incapazes de causar um aquecimento global.

A CPI das ONGs ouviu na última terça-feira (05/09) o professor aposentado da Universidade Federal de Alagoas Luiz Carlos Molion sobre a influência da Amazônia para o regime de chuvas e para o clima na América do Sul e no planeta. Ele repetiu a tese que vem defendendo há anos, de que na “hipótese absurda de se desmatar toda a Amazônia, o que levaria cerca de 600 anos na taxa atual, o clima global não seria afetado”.

O professor disse que a fonte de umidade para regiões fora da Amazônia não é a floresta, e sim o Oceano Atlântico tropical. As informações são da agência de notícias do Senado. Molion contestou artigo publicado pelo Vaticano em que a Amazônia é apontada como responsável pela distribuição das chuvas no continente. De acordo com ele, não há base científica para tal afirmação.

“Não vem umidade nenhuma da Amazônia, porque, se fosse ela a fonte de umidade, ela secaria e se transformaria num deserto ao longo dos milhares de anos. Quer dizer, isso é a prova por absurdo de que ela está perfeitamente em equilíbrio e, portanto, a umidade vem do Oceano Atlântico”, disse o professor, que é PhD em meteorologia com pós-doutorado em hidrologia de florestas.

Conhecido por palestras direcionadas principalmente a representantes do agronegócio, o meteorologista Luiz Carlos Molion nem sempre foi um negacionista da influência humana sobre as mudanças climáticas. O pesquisador é um dos atores que presenciou o nascimento da climatologia brasileira nas décadas de 1970 e 1980, após se formar em instituições de peso como as universidades de São Paulo (USP) e Wisconsin, nos Estados Unidos.

Em sua apresentação, ele buscou demonstrar que fenômenos meteorológicos, como o El Niño, são os principais causadores das variações climáticas intensas, como as fortes secas no Nordeste e no Sudeste do Brasil, e que vêm ocorrendo historicamente.

Para Molion, o problema do desmatamento na Amazônia já foi mais grave no passado. Segundo ele, dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indicam que em 1995 foram desmatados 30 mil quilômetros quadrados em um ano. Outros 25 mil teriam sido perdidos entre 2003 e 2004. Atualmente, o desmatamento está em torno de 10 mil quilômetros quadrados e seria impossível, afirmou o professor, chegar a um ponto sem volta na destruição da floresta.

— O bioma amazônico tem 5,5 milhões de quilômetros quadrados [de floresta]. Então, dividam 5,5 milhões por 9 mil e vocês vão ver que desmatar a Amazônia sem permitir crescimento de volta é impossível, levaria 600 anos. Então é impossível isso e nós sabemos que a floresta se recupera rapidamente. Quantos trechos da Transamazônica que não estavam sendo usados foram tomados pela floresta de volta?

Molion também classificou o mercado de carbono como “uma solução para um problema que não existe” e disse que a mídia não destaca com a mesma intensidade o desmatamento em países como Canadá, Rússia e Noruega.

Elogios

O presidente da CPI das ONGs, senador Plínio Valério (PSDB-AM), elogiou a palestra do convidado na audiência pública e condenou o que chamou de “hipocrisia com relação ao Brasil”.

“Se isso aqui fosse um palco, eu diria que o senhor deu um show. Mas isso aqui é uma CPI do Senado Federal, então o senhor acaba de dar uma aula. Uma aula a todos nós e aos brasileiros que assistem, principalmente se contrapondo a esta hipocrisia global que existe em relação ao clima”, afirmou o parlamentar, que no início da audiência fez breve relatório da diligência da CPI a São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas.

O relator da CPI, Marcio Bittar (União-AC), afirmou que, por meio das ONGs, países como a Inglaterra e os Estados Unidos fazem uma nova forma de dominação e colonização político-econômica, controlando financiamentos e pressionando países a criar e ampliar reservas ambientais. Bittar disse que as ONGs financiadas por esses países não passam por eleição nem por fiscalização dos tribunais de contas e do Ministério Público.

ONU

O relatório Mudança Climática 2021: a Base das Ciências Físicas, adotado pelos 195 membros do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (Ipcc) realça a influência humana no aquecimento do planeta num ritmo sem precedentes pelo menos nos últimos 2 mil anos. Com isso, as consequentes mudanças na temperatura e nos extremos climáticos afetam todas as regiões do mundo.

Alterações causadas pelas emissões de gases de efeito estufa no passado e no futuro serão irreversíveis daqui a séculos ou milênios. As mudanças mais destacadas serão em oceanos, geleiras e no nível global no mar.

O relatório é publicado após a atualização sobre a ciência e o clima de 2013, quando governos se preparam para apresentar planos de redução de emissões na Cúpula do Clima, COP-26, agendada para novembro em Glasgow, na Escócia.

Em áreas costeiras continuará aumentando o nível do mar no Século 21
Francisco Alexandre Pereira Em áreas costeiras continuará aumentando o nível do mar no Século 21
Ondas de calor

Entre os efeitos de mudanças atribuídas à influência humana no oceano estão o aquecimento, a frequência de ondas de calor marinhas, a acidificação e a baixa dos níveis de oxigênio.

Prevê-se que esses efeitos continuem em longo prazo, pelo menos no resto deste século, afetando ecossistemas dos mares e pessoas que dependem deles.

Em cidades, fenômenos como calor e inundações fortes podem piorar com a maior precipitação em todas as regiões. Com um cenário de aquecimento global a 1,5 ° C haverá mais ondas de calor, maior duração de estações quentes e menos frio.


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